sábado, 23 de maio de 2015

QUE TURISMO FLUVIAL QUEREMOS ?






                                 QUE TURISMO FLUVIAL QUEREMOS ?

O interior merecia mais atenção, isto é, deveria haver uma espécie de contingente na elaboração de roteiros, que obrigasse as empresas que exploram o Douro a incluir estes concelhos/territórios que foram prejudicados com as barragens - as mesmas que proporcionam hoje a navegabiliadde do Douro. Não temos o retorno que nos é devido, (seja na electricidade, seja no turismo), que possa compensar-nos pelo que nos foi levado: As praias, o sável, a lampreia, a natureza viva! É certo que os autarcas tem responsabilidades nessa matéria mas também os governos nada fazem no sentido de uma maior democratização e distribuição dos proveitos desta nova realidade. Há concelhos, e muitos,que ficam totamente à margem e não é por lhe faltarem valores históricos, arqueológicos, paisagisticos; veja-se o caso de Castelo de Paiva!

Não nos conforta assistir a esta forma de estar. Uma outra politica turistica/fluvial poderia ser uma alavanca no nosso desenvolvimento. E não tivesse este concelho um historial tão rico de vivencias associados ao rio Douro, aos rabelos, às pescarias, às Minas porque não, e toda a nossa civilização que a apartir daí se foi implantando ... E se falamos deste assunto é porque acreditamos e modéstia à parte é porque temos estatuto para isso. Já demos o nosso contributo  É necessário no entanto mudar politicas. Entre outros aspectos que defendemos a temática do rabelo e tudo o que com ele se relaciona não deve ser esquecido. As barcas de passagem dos mineiros. Os rabões da esquadra negra são adaptações nossas dos rabelos - porque só aqui se fizarem!Mas também infraestruturas - como cais de acostagem: em Pedorido e no Castelo, que aliciem e permitam acordos fáceis com empresas que sobem o rio com turistas. 
Batalhamos neste tema há quase trinta anos e ainda não  nos convenceram que estejamos errados!..


                                        Barco Rabelo

O Turismo no Douro e em Paiva (ou a arte de vender gato por lebre)


           Actualmente e com bastante frequência - a suficiente para nos causar repulsa - vemos e ouvimos promover e divulgar viagens e passeios no Douro em barco rabelo. Chamar barco rabelo àquela embarcação, que vimos passar, é pura e simplesmente mentira e ao fazê-lo, as agências, as câmaras municipais e outros interessados estão a prestar um mau serviço ao turismo.
        (...)
           Um rabelo tem um tipicismo próprio, tem vela, remos e cordame, tem uma apegada e o remo maior, na ré,  é a chamada espadela. O barco rabelo para Armando Matos é “ a mais típica e sugestiva embarcação dos rios nacionais” e o Arquitecto Filgueiras transcreve na sua obra “Barco rabelo – um retrato de família” o que ele considera a descrição tipológica mais evidente “Barcaça familiar do Douro que tem por leme um remo grande a que chamam espadela, e que tem mais dois remos de cada banda com que se governa”.
            Será legitimo usarmos hoje em proveito do turismo essa mais valia que é a história e a epopeia  da vivência e da faina fluvial no Douro, para ganharmos turistas, e assim nos desenvolvermos, mas desvirtuando um dos símbolos mais importantes – o rabelo ? Símbolo que felizmente ainda existe, e Castelo de Paiva é disso exemplo, ainda que hoje já não navegue; não deixando de o ser por isso. Achamos que não!

             Recordamos que por iniciativa da ADEP, no já distante ano de 1986, foi construída de raíz, às mãos de artesãos profissionais, o rabelo “Douro Paiva”, que depois velejou no Douro,  a partir do Cais do Castelo, relembrando a imensa actividade sócio-económica, que também a partir daí se desenvolvia, desde longa e imemorial data, como interposto comercial que era com a vizinha cidade do Porto e, também, por causa do trânsito do vinho, rio abaixo.
           Connosco nasceu a ideia de fazer turismo no Douro em barco rabelo, precedendo a que se faz hoje, com outro tipo de embarcações, mas - o projecto - muito avançado para a época, esbarrou na burocracia da administração pública. A embarcação venceu algumas dificuldades, não todas, prestou inúmeros serviços à região, podendo quase dizer-se que testou a navegabilidade do Douro e a funcionalidade das eclusas das barragens, fez publicidade, passeou turistas, estudantes, jornalistas, artistas, políticos e até participou em regatas, formou uma escola de marinhagem, etc. Contribuiu também, porque não dizê-lo, para que alguns dos concelhos ribeirinhos despertassem para a realidade e responsabilidade da sua história e localização, quantos deles de costas voltadas para o rio… atitude que não nos surpreende e que inflizmente ainda se nota hoje... É a mesma a que nos habituaram as mais diversas  instituições nos dias de vida do nosso rabelo, dias que  terminaram,  se calhar, mais cedo do que era previsível e necessário, dados os custos necessários à sua recorrente manutenção, contra os poucos apoios disponibilizados por quem de direito. E se alguém tiver dúvidas que trate de inquirir porque será que em Aveiro se deu o movimento inverso e os moliceiros passaram a ser vistos, a fazer turismo na Ria e a participar em regatas…
        Lembrar a falta de apoios e os problemas com a legalização da construção e da utilização, a necessidade de  adesão a um curso de formação de marinheiros, na Régua, o recurso ao Provedor de Justiça, o projecto de parceria com a Rota da Luz num circuito turístico distrital, abortado à pressa - em plena campanha eleitoral - em troca da construção de uma sede para a região de turismo, é enfim uma Via Sacra de enganos e desilusões que fica para o capítulo das memórias amargas, a  mostrar uma vez mais o quão longe se poderia ter ido.

                   Águas passadas…, mas a pergunta de hoje é: - Deveremos promover a região e o concelho à margem da riquíssima história que foi a nossa ligação e das nossas gentes ao Rio Douro, ao comércio, ao rabelo? Será curial atrair o turismo enganando ou passando ao lado desta temática que nos é tão cara, ou, deveremos reunir todo esse espólio, material e imaterial (de que também a ADEP é uma importante e única depositária) e usá-lo nessa batalha que hoje pode representar uma nova fase de desenvolvimento para a região ?
                   Com novas promessas de muitos turistas a subir o Rio impõe-se também repensar a forma de apoiar os poucos artesãos e instituições que ainda sabem fazer bem meia dúzia de coisas valiosas (trabalhos no linho, bordados, tecelagem, cestaria, tamancaria, miniaturas em madeira, fósseis, gastronomia, etc.) e como será avisado cuidar da paisagem bom será não esquecer que vão ser precisos apoios para a agricultura biológica e de subsistência, pois só assim se garantirá no futuro próximo a preservação da nossa cultura, paisagem, história e património com verdade.


Foto 1 - Calendário de parede da ADEP do ano 2015
Foto 2 - “Douro Paiva” aquando da descida do Douro do Senhor Presidente da República Dr. Mário Soares, em 1988 (acompanhado de várias  personalidades como António Guterres, Pinto Balsemão, etc.).



 " recorte de artigo publicado na imprensa regional, textos e foto de   Martinho Rocha"

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