foto obtida na pesquisa Google
O que era a roda dos expostos (ou enjeitados) ? Fisicamente era um cilindro giratório com uma cavidade que era instalado
nas portarias dos conventos, permitia o anonimato na comunicação de bens e
evitava também o contacto e avistamento
de quem utilizava o serviço. Este processo facilitava o abandono e começou a usar-se para depositar as crianças
enjeitadas ou fruto de ligações “inconvenientes”. Noutros casos a pobreza
justificava a entrega, que era feita em alguns casos com bilhetes de recomendação
e promessa de futura procura. Algumas estatísticas registam um aumento de
abandono proporcional ao aumento do preço do trigo.
Pelo muito uso que teve a nível nacional acabou por ser
oficializada com a designação de Roda dos expostos ou enjeitados por Pina
Manique em 1783, com o objetivo oficial de pôr fim aos infanticídios e também o
comércio ilegal de crianças a que à época eram sujeitas muitas crianças na raia
onde os espanhóis as vinham buscar. Há quem veja nesta medida um estratagema da
nova moral da Contra Reforma que assim combatia e atrasava o reconhecimento dos
filhos bastardos como preconizava a Reforma protestante. O desenvolvimento de novas
organizações sociais de assistência e a ideia de que aquela proporcionava a
dissolução dos “bons costumes” e ainda a elevada mortalidade e ineficácia
educacional contribuíu para a sua extinção em 1867.
Até quando temos roda em Nojões e quando se transfere para Sobrado? Onde estavam situadas? Quem participou na
caminhada do Foral de 2015 pôde admirar a casa de Nojões onde essa instituição esteve
alojada. Em Sobrado terá sido no Outeiro, portanto na casa ao cimo da Rua 5 de
Outubro (antigo convento segundo Adriano Strecht Vasconcelos) .
Apenas temos elementos sobre as crianças recebidas na Roda
de Sobrado a partir de 1 de Julho de
1827 (há 186 anos). Considerando que em 1832 o
edifício da Cadeia de Sobrado já servia de Casa de Comarca e Paço Foral de
Audiências, então é mesmo provável que a inauguração do edifício da Cadeia de
Sobrado e transferência para Sobrado de
todas estas Instituições (Tribunal, Cadeia, Roda, serviços da Fazenda) terá
ocorrido nessa data, 1827.
E a partir daí recolheram-se em 12 anos, de 1827 a 1845 (faltam-nos
elementos nos anos de 1834 a 1839), na Roda de Sobrado mais de 3
centenas de crianças o que corresponde a uma média de 26 crianças por ano. É um
número surpreendente (ainda que os registados sejam oriundos de todo o concelho),
tendo em conta que entre os anos de 1833 a 1859 a paróquia de Sobrado batiza e
regista apenas uma média de 24 crianças (nascidas e criadas pelos pais).
Se quisermos comparar o movimento de crianças encaminhadas
para a roda com os nascidos e criados em casa dos pais, noutras freguesias, então os elementos que possuímos registam; entrados na Roda de 1840 a 1844 (e oriundos de todo o
concelho): 123. Registados nas
paróquias e criados com os pais: na de Sobrado: 132; na da Raiva 200; na de Bairros:
113; na de Sardoura: 183.
Curiosidades sobre o enquadramento social da época: Qual era o tecido social, que profissões
tinham os pais dos nascidos em Sobrado no ano de 1865? Dos 27 nascimentos é certo que não
há desempregados, mas todos de uma maneira geral tem um profissão direta
ou indiretamente ligada à terra – no conjunto
dos pais dos 27 nascidos temos, mais de metade, ligados ao sector primário, 32 profissionais
entre lavradores, caseiros de terra e criados de servir ), a que acresce num
outro parâmetro os proprietários das
terras 4 e outros tantos alegadamente incógnitos e os restantes 15 afectos ao sector
secundário – transformação de produtos (pequena industria e artesanato) e são elas: fiadeiras, tecedeiras,
costureiras, soqueiro e alfaiate, pedreiro e almocreve. (não esqueçamos que o
linho e a lá estão na base do vestuário usado à época.
escreveu Martinho Rocha