sábado, 25 de fevereiro de 2017

António Capelo visitou o espaço Etnográfico da ADEP, e conclui que é urgente criar um museu ligado às Artes e Ofícios!




edifício que para o próximo ano  comemora 130 anos  é um espaço de museu  dedicado às primeiras artes. Faz parte do núcleo arquitectónico fontista da Frutuária, construído com granito da região (do Monte do Côto). Abriu pela primeira vez  na noite do Dia Internacional dos Museus em 2012. Corresponde como consta do catálogo a um esforço da ADEP para tornar digno e apresentável um grande conjunto de utensílios das nossas profissões tradicionais (agrícolas, fluviais, mineiras, artesanais e de pequena indústria), recolhidos ao longo de mais de vinte anos. Além do espaço Primeiras Artes, há também a Casa dos Engenhos e neste espólio fabuloso há que incluir ainda o Grupo do Linho de Real, da ADEP e toda mestria e saber destes componentes, aderendes, doadores, amigos e voluntários.Este ano no Verão contamos para esta actividade com os nossos voluntários/directores: José Silva, Fernando Beato, Rui Pereira e João Vieira e foi possível visitar gratuitamente o espaço aos domingos e quartas feiras de tarde.
Tivemos a visita, ontem, do actor António Capelo e ficamos contentes por saber que um paivense "emigrado" homem da cultura também pensa como nós. Ainda bem que nos visitou e que concluiu o que publicou "quanto à minha visita, fiquei com a impressão que seria necessário criar rapidamente um museu ligado às artes e ofícios, um museu antropológico onde se colocasse todo o enorme espólio que está armazenado. A arte só tem valor quando cria diálogos e pontes; se o espólio não for colocado à disposição dos públicos, para criar diálogos... "
Contactos para visitas pode fazer-se pelo email: adeppaiva@gmail.com

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Rota das Minas do Pejão para os amantes da Natureza e de circuitos pedestres

Aos amantes da Natureza e de circuitos pedestres ***
Rotas das ex-minas do couto mineiro do pejão, referenciadas pela ADEP- Associação de Estudo e Defesa do Património Histórico-Cultural de Castelo de Paiva. 


Roteiro informativo principalmente para visitantes pedestres. Os interessados nestas visitas com motos todo-o-terreno e com tractores também podem tentar visitar estes locais até onde conseguirem penetrar nos trilhos existentes, mas devem estudar o s circuitos antecipadamente. 

As ex-minas do Couto Mineiro do Pejão estão disseminadas por locais diversos desde o Pejão (Paraíso) até Germunde (Pedorido), passando por zonas da Raiva, no Concelho de Castelo de Paiva. Estão com as entradas (bocas das galerias) vedadas com “tapumes” de blocos de cimento e algumas têm sido visitadas por curiosos e ao que soe dizer-se até por árabes que tentam tomar conhecimento do seu historial e valor do subterrâneo.



Essas entradas para as minas ainda podem ser visitadas ainda que nalguns casos tenham que ser desbravados o mato e arbustos que não permitem chegar ao destino tão rápido quanto gostaríamos.
Visitá-las todas num só dia é tarefa quase impossível a um pedestre, mas organizados os circuitos por localidades, poderão os mesmos ser percorridos em 4 dias.

                                                      **
Permitam-me dar as seguintes sugestões:
1.º - percurso Pejão e arredores com três trilhos: 1.º trilho, Pejão, com visita das primeiras minas do Pejão, no Monte das Cavadinhas: mina de Paraduça (a céu aberto) mina do Limoeiro ( tipo galeria de encosta) e Rôta das Cavadinhas (também a céu aberto); 2.º trilho, visitar a cerca de dois km para sul, a mina do cinquenta (foi a última mina a ser aberta pela ECD) junto ao poço de ventilação do nível 50, em zona florestal de terras de Paraduça que pertence actualmente a um particular; 3.º trilho, regressar e seguir para o Choupelo, onde poderão ser visitas as entradas das galerias sob o Monte das Cavadinhas e onde existiu um poço para acesso de pessoal às galerias subterrâneas que por aí passavam e para entrada de madeiras também para essas galerias inferiores. Daí poderão seguir para a zona do Ervedal, uns 3 a 4 km mais para norte, no vale, onde poderão visitar a mina do Ervedal, resquícios do caminho-de-ferro entre Ervedal e Nível 80 do Fojo, a boca da mina do Vale da Cana, a cerca de 200 - 300 m mais para norte e ruínas dos Silos (recolha de carvão proveniente do Choupelo, via Canal de descarga do Martelo da Arte, na linha férrea Martelo da Arte – Choupelo). Por uma segunda via-férrea transportava-se o carvão da mina do Vale da Cana e destes Silos, para o nível 80 do Fojo.



2.º - percurso Fojo e Carvalhais (Oliveira do Arda), localidades que distam entre si de cerca de 8 km, por estrada. Visita no Fojo ao exterior do edifício do poço mestre, edifício que foi uma imagem de marca nos jornais mensais de “O Pejão” e visita à entrada da galeria do nível zero(0), aberta em alternativa a uma primeira existente a poucos metros. Zona do canal de descarga do nível 80. Regresso à estrada seguindo para Oliveira do Arda, até à Estação.




Chegados à Estação, seguir pelo traçado da antiga via-férrea com destino ao Fojo, passando logo ali pelo hangar de recolha de locomotivas. A cerca de 3 km encontraremos a mina de S. Domingos, outrora também designada por mina da capela de S. Domingos, no lugar de Carvalhais, junto ao caminho da linha onde ainda existe uma entulheira (escombreira) e água férrea saindo da mina.

3.º- percurso Encosta sul do monte da Serrinha, margem esquerda do rio Arda:
Visita às entradas das galerias em flanco de encosta assim denominadas :
Mina da horta da moleira, junto ao caminho, onde se observa saída de águas férreas do seu interior;
Mina do Arda, a mais antiga e situada cerca de 100 m vale acima, mas com acesso uns metros mais a sul.
Percorrendo a encosta no sentido do cume do monte para se chegar ao alto da Póvoa, encontraremos, quase no alto, a mina da Serrinha, onde nas proximidades se abriu o chamado poço da Serrinha, agora encerrado, mas facilmente sinalizável pelas ruínas da cabina eléctrica aí construída.
Estas visitas, neste percurso, podem fazer-se com partida em 3 alternativas:
1-    A partir de Oliveira do Arda (Estação), pela antiga linha férrea e pela ponte de Croca sobre o rio Arda, tomando o caminho que ali passa com origem em Pedorido, margem esquerda do rio Arda, e prossegue-se para sul;
2-    Pela margem esquerda do rio Arda, com partida de Pedorido, até ao local de entroncamento referido em 1 e prosseguindo o mesmo trajecto para sul;
3-    Com partida do alto da Póvoa (Pedorido) junto ao campo de Aeromodelismo, passando pelo edifício da antiga cabina eléctrica do Poço da Serrinha e descendo a encosta. A boca da mina da Serrinha estará abaixo cerca de 300 m; Para se encontrar as duas outras minas deverá continuar-se a descer a encosta do monte da Serrinha até entroncar com o caminho referido em 1) e aí procurar encontrar as referidas minas como antes descrito.




4.º - percurso Mina da Póvoa e Zona de Germunde:



A mina da Póvoa encontra-se junto a um edifício em ruínas que serviu de Casa da Malta, para albergar mineiros não residentes nas proximidades, à entrada norte do lugar da Póvoa (Pedorido). Qualquer residente no local saberá orientar.
Para se visitar Germunde, zona onde ocorreu a exploração de carvão nos últimos anos de existência da ECD, será necessário obter autorização do proprietário, visto que, agora toda aquela área é de domínio privado.
Como sugestões finais, aconselha-se o uso de vestuário e calçado apropriado, cajado ou bastão similar para auxílio em zonas mais íngremes e de acesso mais difícil, cantil com água, telemóvel e, para orientação dos iniciados nestas visitas, um “guia” conhecedor destes locais, para melhor orientar os participantes e para os encaminhar pelo melhor trilho nalgumas zonas de mato e espécies arbóreas mais densas, que as há.
Sejam bem-vindos.
Um contributo do associado da ADEP: Mário Gonçalves Pereira


*   Um apelo: sempre que possível deixe os locais em melhor estado que aquele em que os encontrou.
** (Junto à mina de Paraduça existem vários tipos de lixo o que  é incompreensível e a todos os títulos reprovável; aqui fica uma chamada de atenção a quem de direito).
*** Estamos a trabalhar para implantar no terreno um percurso PR entre as primeiras Minas e o Cavalete do Fojo. https://adep-paiva.blogspot.com/2019/05/noplanetb-nova-vida-para-o-pejao-velho.html

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Dia Nacional dos Moinhos Abertos 2017



Este ano, com vem acontecendo há dez, a ADEP vai aderir ao Dia Nacional de Moinhos Albertos.
O programa nacional já tem datas:7, 8 e 9 de Abril. O Programa da ADEP será oportunamente anunciado. No ano passado os espaços da Casa dos Engenhos "Dr. Justino Streht Ribeiro" e Museu Etnográfico "Primeiras Artes" esteve aberto e foi organizada uma caminhada, em parceria com o agrupamento dos Escuteiros 1258/Fornos, que foi até ao rio Arda;  mostrando e assinalando para os participantes e futuros passantes os locais das primeiras Minas do Pejão e diverso património afeto como o cavalete de extração do Fojo, forno comunitário de Folgoso e ainda a fábrica de papel mais antiga do concelho. Fica desde já o convite e o desafio!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

A Capela do Espírito Santo em Vila Verde (no Terreiro) encerra um segredo!


O Douro é também um factor aglutinador de vias. Uma via romano/medieval ligava a margem esquerda (atravessava o Douro junto à Ilha dos Amores (foz do Paiva) a Tongóbriga e Vila Boa de Quires e entroncando no eixo principal que se dirigia a Santiago de Compostela. A ritualidade religiosa  era similar nas terras ribeirinhas. A confirmá-lo estão testemunhos como o das duas capelas do Espírito Santo(Marco de Canaveses e Castelo de Paiva)
ROTA DO ROMANO/MEDIEVAL 
(Marco de Canaveses)

"No ordenamento romano do séc. II d.C., o rio Douro servia de fronteira entre as províncias de Tarraconense (a norte/margem direita) e a Lusitânia (a sul/margem esquerda), acarretando essa divisão administrativa distintos ritmos de crescimento e de desenvolvimento. No entanto, mantinha-se uma ritualidade religiosa similar nas terras ribeirinhas das duas margens, segundo conclusões da investigação arqueológica recente.
Tomar contacto com estes conhecimentos e, em simultâneo, percorrer os espaços e observar as paisagens que acolheram estas vivências antigas é uma boa justificação para o presente itinerário, estando em experiência, por agora, apenas o troço de estrada S. Nicolau a Tongobriga."
(Fonte: Folheto de Divulgação do Projecto)

O troço experimental, com início em S. Nicolau, compreende:
Visita à Igreja de S. Nicolau, de estilo românico, que ainda apresenta no seu interior restos sobrepostos de frescos de diversas épocas, sendo a maior parte atribuíveis ao séc. XVI. À direita da Igreja de S. Nicolau pode visitar também a Capela de S. Lázaro bem como o cruzeiro da Boa Passagem que se encontra em frente à Igreja.
Continue subindo a pé a rua romano/medieval e pare junto à Albergaria de D. Mafalda e capela do Espírito Santo que terá servido para albergar nove peregrinos que se dirigiam a Santiago de Compostela.
in "Marco de Canaveses, Um Município em Movimento"

(Castelo de Paiva)

A semelhança destas duas capelas é mais que evidente. Aconselhamos a inclusão nesta rota da Capela do Espírito Santo em Vila Verde (no Terreiro).Tudo indica que esta Capela (do Espírito Santo situada no Terreiro, Vila Verde),  que em 1758, estava arruinada, e foi portanto reconstruída nos século XVIII e XIX, onde nas imediações já encontramos a célebre ara pré cristã  - (em pleno e farto celeiro agrícola do rio Sardoura) - desempenhou no passado uma função social caridosa de albergue e  ajuda aos peregrinos e caminhantes que passavam por esta via indo e vindo de Santiago de Compostela, como acontecia no Marco de Canaveses.


                                        Albergaria de Canaveses e Capela do Espírito Santo




                         A Capela do Espírito Santo em Vila Verde (no Terreiro)
                                                   (foto OTL - Arquivo Luis Lousada Soares/ADEP)

Até nas linhas arquitecturais temos uma réplica perfeita, senão vejamos. Na foto, é fácil divisar uma fachada “tirada a papel químico” da fachada da Capela do Espírito Santo do Marco de Canaveses. Desta se diz que é de arquitectura civil, medieval e maneirista; que o Paço foi transformado em albergaria, por ordem da rainha Santa Mafalda. A albergaria consiste num conjunto de edifícios térreos, virados para a estrada romana/medieval, (como acontece em Vila Verde) mas que até aos dias de hoje sofreram grandes modificações que lhe alteraram a traça original. Segundo a tradição e a interpretação de vários investigadores, foi mandada construir por D. Mafalda uma albergaria junto à capela do Espírito Santo (VASCONCELOS,1935) de que ainda permanece uma pequena casa térrea já alterada (hoje é uma adega). No interior desta estrutura é detectável uma janela aberta para o interior da capela, ou seja, quem estivesse no interior do edifício, a atual adega, ouvia as missas ditas na capela sem ter de se deslocar.
E se a fachada foi tirada a papel químico também a nossa Capela de Vila Verde tem igualmente uma janela aberta, para que quem estivesse nos aposentos anexos. Num e noutro caso hoje os espaços anexos estão ao serviço de casas rurais e agrícolas, servindo de adegas e espaços de habitação. Na capela do Marco refere o autor que ainda é visível uma padieira (em xisto) e junto à adega, existe um conjunto de pequenos compartimentos, pouco espaçosos, mas, que no seu total, dariam para albergar talvez nove ou um número um pouco maior de peregrinos.
Graça, L. “Hospitais e outros Estabelecimentos Assistênciais até ao Final do Século XV” diz-nos: “Quanto às albergarias (tal como as gafarias), sabe-se que a sua existência é anterior à própria fundação da nacionalidade. Tenderão entretanto a desaparecer entre nós, embora mais lentamente do que no resto da Europa, a partir do fim da Idade Média, com o progressivo declínio das peregrinações.
Grande parte das albergarias situavam-se junto a mosteiros e igrejas, povoações e estradas mais importantes, nomeadamente ao longo do caminho de Santiago, e em particular a norte do Mondego.
Às primeiras rainhas atribui-se igualmente a fundação de diversas albergarias, como, por exemplo, aquela que terá dado origem ao toponónimo Albergaria-a-Velha, criada em 1120 por Dona Teresa, mãe do primeiro rei de Portugal. Ou a de Chaves, mandada construir por D. Mafalda.
Os primeiros reis de Portugal também se preocuparam com a manutenção e a extensão da rede de albergarias — caso de D. Sancho I que no seu testamento de 1209 deixa legados, em dinheiro, a diversos estabelecimentos do género existentes no centro e norte do país.
Como diz o historiador Veríssimo Serrão (1990, vol. I. 221), "falta um mapa global para reconstituir esses marcos de cobertura viática, mas para certas ordens há elementos precisos. Assim, no que respeita aos mosteiros beneditinos que ficavam a norte do Mondego, possuíam albergues: uns, da invocação de Claraval, como Maceira Dão, Lamego, Sever e Tarouca; e outros, ligados à regra de Cister, como Moimenta, Tabosa, Arouca e Bouças".
Correia (1938) situa as principais albergarias sobretudo ao longo das antigas estradas romanas, tal como de resto uma boa parte dos outros estabelecimentos de beneficência. Na mesma localidade, podiam coexistir, aliás, diferentes tipos de estabelecimentos: Albergarias, Mercearias, Gafarias, Hospitais e Hospícios, para além dos Conventos. De qualquer modo, a sua concentração é sobretudo ao longo da rede viária romana ou de outras vias de comunicação utilizadas pelos peregrinos que, de França, Espanha e Portugal, demandavam Santiago de Compostela. Essa concentração era mais evidente em troços como:
  • Vila Real de Santo António/Mértola/Beja/Alcácer do Sal/Setúbal
  • Beja/Évora/Estremoz/Arronches/Badajoz
  • Lisboa/Santarém/Coimbra/Porto
  • Porto/Braga/Santiago de Compostela
  • Alcântara (Espanha)/Idanha-A-Nova/Guarda/Penafiel/Braga/Santiago (sublinhado nosso, para lembrar que na margem sul correspondente está Paiva, com o conhecido atravessamento para Várzea do Douro (próximo do Convento de Alpendurada), no Castelo e além disso com inúmeros portos, cais e embarcadouros de Pedorido, Fontaínhas, Midões, Gramão e Boure).

·         Aqui nas imediações desta capela temos de memória visual caminhos calçados de enormes fragas graníticas desgastados com enormes sulcos dos rodados e que se não estão  hoje visíveis, nem sequer referênciados como passagem, de importante via antiga, a sua presença não será mera obra do acaso, mas há-de dever-se à proximidade dos rios Douro e Sardoura; da situação  geográfica do território e sua ligação a locais (Nojões) e  territórios vizinhos importantes (Arouca). Castelo, Boure, e Gramão que foram importantes lugares de travessia e embarque no Douro. Nojões e Várzea são locais de passagem de peregrinos, vindos do sul e de leste como pode muito bem ser o de passagem para Santiago de Compostela na Galiza.

Pena que não tenhamos tido ainda acesso a documentação (se é que ela existe) sobre a história desta Capela (do Espírito Santo de Vila Verde) para que se possa fazer luz sobre o passado que encerra; sendo certo que é mais um importante referencial para confirmar o que temos defendido da inevitabilidade da passagem de uma importante via medieval e quiça romana de acesso e atravessamento dos rios Sardoura e Douro passando por Vila Verde e Nojões.























transcrições e texto de Martinho Rocha