domingo, 24 de maio de 2015

Hoje e amanhã é a Festa do Espirito Santo (dos Tremoços) de Vila Verde!





Percebe-se a aceita-se que o catolicismo tenha ido às práticas pagãs, aproveitar os locais, as tradições, até a generosidade das ofertas e sacrifícios, até aí destinados às divindades, para dar visibilidade aos seus símbolos e santos e reencaminhar os donativos para os necessitados.
Remontará ao tempo de D. Dinis a comemoração do Espirito Santo que segundo a história assenta numa promessa feita pela sua mulher a Rainha Santa Isabel (de Portugal e Aragão) , pelo ano de 1320, apelando ao espirito divino para que lhe proporcionasse  a paz entre o seu marido Rei, e filho D.  Afonso (legítimo e futuro herdeiro do trono),  sendo que para isso se oferecia para ir pelo país pedir donativos para os pobres.
Estamos como é bom de ver perante uma festividade aculturada,  muito antiga e que tendo lugar em maio coincide com as primeiras colheitas, cinquenta dias após a Páscoa. Na origem era festejada com banquetes  coletivos com distribuição de esmolas e comida aos pobres “ o Bodo aos Pobres” como ficou para a história. A tradição terá então ganhado novas raízes e as festividades que ainda hoje estão vivas e muito participadas (veja-se no Brasil, nos Açores e destes para os Estados Unidos e por cá) são marcadas pela esperança na chegada de uma nova era para o mundo dos homens, com igualdade, prosperidade e abundância para todos.
Nós por cá temos tudo para defender também em Vila Verde a existência de uma tradição bem antiga, que ultrapassa, como se pode deprender, o sec. XIV. No local onde se realiza e  nas imediações da atual Capela do Espirito Santo foi encontrada, pela ADEP, há alguns anos uma ara votiva, dedicada à Divindade pagã Lares – isto é uma espécie de altar que servia para - em locais de passagem como é o caso – as pessoas poderem oferecer flores, comida e outros à Divindade. Este testemunho arqueológico dá-nos uma referência temporal muito importante, estamos numa era anterior ao cristianismo (sec. I).
Vila Verde aparece referenciado nas Inquirições de 1258, isto é, no reinado de D. Afonso III, já pagava foros. Ficamos assim a saber que estes campos e vales, terra agrícola por excelência, banhada pelo Sardoura, que desde tempos imemoriais proporcionou levadas e força motriz para os moinhos, e até algum peixe, é também local de passagem  - com encruzilhada de caminhos muito antigos de que chegaram aos nossos dias trilhos com sulcos impressionantes - , tinha de longa data uma vivencia com certeza muito bem estruturada e alicerçada social e culturalmente.

A festa dos tremoços como ainda hoje é conhecida é uma das festividades de cariz popular mais antiga; de que temos resquícios da generosidade e crença da população que, ao oferecer tremoços aos visitantes, acredita que os gestos de despendimento material alegram hoje a Divindade do Espirito Santo e podem ainda favorecer  um bom  ano agrícola para beneficio de todos…

Martinho Rocha

sábado, 23 de maio de 2015

QUE TURISMO FLUVIAL QUEREMOS ?






                                 QUE TURISMO FLUVIAL QUEREMOS ?

O interior merecia mais atenção, isto é, deveria haver uma espécie de contingente na elaboração de roteiros, que obrigasse as empresas que exploram o Douro a incluir estes concelhos/territórios que foram prejudicados com as barragens - as mesmas que proporcionam hoje a navegabiliadde do Douro. Não temos o retorno que nos é devido, (seja na electricidade, seja no turismo), que possa compensar-nos pelo que nos foi levado: As praias, o sável, a lampreia, a natureza viva! É certo que os autarcas tem responsabilidades nessa matéria mas também os governos nada fazem no sentido de uma maior democratização e distribuição dos proveitos desta nova realidade. Há concelhos, e muitos,que ficam totamente à margem e não é por lhe faltarem valores históricos, arqueológicos, paisagisticos; veja-se o caso de Castelo de Paiva!

Não nos conforta assistir a esta forma de estar. Uma outra politica turistica/fluvial poderia ser uma alavanca no nosso desenvolvimento. E não tivesse este concelho um historial tão rico de vivencias associados ao rio Douro, aos rabelos, às pescarias, às Minas porque não, e toda a nossa civilização que a apartir daí se foi implantando ... E se falamos deste assunto é porque acreditamos e modéstia à parte é porque temos estatuto para isso. Já demos o nosso contributo  É necessário no entanto mudar politicas. Entre outros aspectos que defendemos a temática do rabelo e tudo o que com ele se relaciona não deve ser esquecido. As barcas de passagem dos mineiros. Os rabões da esquadra negra são adaptações nossas dos rabelos - porque só aqui se fizarem!Mas também infraestruturas - como cais de acostagem: em Pedorido e no Castelo, que aliciem e permitam acordos fáceis com empresas que sobem o rio com turistas. 
Batalhamos neste tema há quase trinta anos e ainda não  nos convenceram que estejamos errados!..


                                        Barco Rabelo

O Turismo no Douro e em Paiva (ou a arte de vender gato por lebre)


           Actualmente e com bastante frequência - a suficiente para nos causar repulsa - vemos e ouvimos promover e divulgar viagens e passeios no Douro em barco rabelo. Chamar barco rabelo àquela embarcação, que vimos passar, é pura e simplesmente mentira e ao fazê-lo, as agências, as câmaras municipais e outros interessados estão a prestar um mau serviço ao turismo.
        (...)
           Um rabelo tem um tipicismo próprio, tem vela, remos e cordame, tem uma apegada e o remo maior, na ré,  é a chamada espadela. O barco rabelo para Armando Matos é “ a mais típica e sugestiva embarcação dos rios nacionais” e o Arquitecto Filgueiras transcreve na sua obra “Barco rabelo – um retrato de família” o que ele considera a descrição tipológica mais evidente “Barcaça familiar do Douro que tem por leme um remo grande a que chamam espadela, e que tem mais dois remos de cada banda com que se governa”.
            Será legitimo usarmos hoje em proveito do turismo essa mais valia que é a história e a epopeia  da vivência e da faina fluvial no Douro, para ganharmos turistas, e assim nos desenvolvermos, mas desvirtuando um dos símbolos mais importantes – o rabelo ? Símbolo que felizmente ainda existe, e Castelo de Paiva é disso exemplo, ainda que hoje já não navegue; não deixando de o ser por isso. Achamos que não!

             Recordamos que por iniciativa da ADEP, no já distante ano de 1986, foi construída de raíz, às mãos de artesãos profissionais, o rabelo “Douro Paiva”, que depois velejou no Douro,  a partir do Cais do Castelo, relembrando a imensa actividade sócio-económica, que também a partir daí se desenvolvia, desde longa e imemorial data, como interposto comercial que era com a vizinha cidade do Porto e, também, por causa do trânsito do vinho, rio abaixo.
           Connosco nasceu a ideia de fazer turismo no Douro em barco rabelo, precedendo a que se faz hoje, com outro tipo de embarcações, mas - o projecto - muito avançado para a época, esbarrou na burocracia da administração pública. A embarcação venceu algumas dificuldades, não todas, prestou inúmeros serviços à região, podendo quase dizer-se que testou a navegabilidade do Douro e a funcionalidade das eclusas das barragens, fez publicidade, passeou turistas, estudantes, jornalistas, artistas, políticos e até participou em regatas, formou uma escola de marinhagem, etc. Contribuiu também, porque não dizê-lo, para que alguns dos concelhos ribeirinhos despertassem para a realidade e responsabilidade da sua história e localização, quantos deles de costas voltadas para o rio… atitude que não nos surpreende e que inflizmente ainda se nota hoje... É a mesma a que nos habituaram as mais diversas  instituições nos dias de vida do nosso rabelo, dias que  terminaram,  se calhar, mais cedo do que era previsível e necessário, dados os custos necessários à sua recorrente manutenção, contra os poucos apoios disponibilizados por quem de direito. E se alguém tiver dúvidas que trate de inquirir porque será que em Aveiro se deu o movimento inverso e os moliceiros passaram a ser vistos, a fazer turismo na Ria e a participar em regatas…
        Lembrar a falta de apoios e os problemas com a legalização da construção e da utilização, a necessidade de  adesão a um curso de formação de marinheiros, na Régua, o recurso ao Provedor de Justiça, o projecto de parceria com a Rota da Luz num circuito turístico distrital, abortado à pressa - em plena campanha eleitoral - em troca da construção de uma sede para a região de turismo, é enfim uma Via Sacra de enganos e desilusões que fica para o capítulo das memórias amargas, a  mostrar uma vez mais o quão longe se poderia ter ido.

                   Águas passadas…, mas a pergunta de hoje é: - Deveremos promover a região e o concelho à margem da riquíssima história que foi a nossa ligação e das nossas gentes ao Rio Douro, ao comércio, ao rabelo? Será curial atrair o turismo enganando ou passando ao lado desta temática que nos é tão cara, ou, deveremos reunir todo esse espólio, material e imaterial (de que também a ADEP é uma importante e única depositária) e usá-lo nessa batalha que hoje pode representar uma nova fase de desenvolvimento para a região ?
                   Com novas promessas de muitos turistas a subir o Rio impõe-se também repensar a forma de apoiar os poucos artesãos e instituições que ainda sabem fazer bem meia dúzia de coisas valiosas (trabalhos no linho, bordados, tecelagem, cestaria, tamancaria, miniaturas em madeira, fósseis, gastronomia, etc.) e como será avisado cuidar da paisagem bom será não esquecer que vão ser precisos apoios para a agricultura biológica e de subsistência, pois só assim se garantirá no futuro próximo a preservação da nossa cultura, paisagem, história e património com verdade.


Foto 1 - Calendário de parede da ADEP do ano 2015
Foto 2 - “Douro Paiva” aquando da descida do Douro do Senhor Presidente da República Dr. Mário Soares, em 1988 (acompanhado de várias  personalidades como António Guterres, Pinto Balsemão, etc.).



 " recorte de artigo publicado na imprensa regional, textos e foto de   Martinho Rocha"

domingo, 17 de maio de 2015

Visita e caminhada pelos locais de Santo António !

No sábado 13 de Junho vamos percorrer os locais e monumentos da Vila que a lenda relaciona com os pais de Santo António. No final prevê-se que termine com pic - nic no Parque das Tilias. Nesse dia prevemos poder apresentar o Parque das Tílias como espaço de uso público, objectivo que temos vindo a defender há alguns anos - acreditando que até esse dia sejam criadas as condições necessárias para o que concorrerá a participação do  Município e Junta de freguesia de Sobrado.

Dia Internacional dos Museus
Este ano, as iniciativas - Caminhada do Foral / Caminho dos Mineiros que levamos a efeito no sábado passado e a que estamos a programar para o próximo dia 13 de Junho: visita e caminhada pelos locais de Santo António -  não nos permitem aderir ao Dia Internacional dos Museus com o nosso Museu Etnográfico e espaço Primeiras Artes.
Fica a vontade de no próximo ano organizar o calendário de outra forma e atempadamente conseguir a divulgação necessária, designadamente junto das escolas e instituições sociais. Fica igualmente a promessa de mais trabalho para o próximo ano.
Estamos a trabalhar para tornar mais visível o espaço do Museu, assim como estamos a desafiar voluntários que nos possam ajudar na tarefa da divulgação. Aceita o desafio!


sábado, 9 de maio de 2015

Fizê-mo-lo hoje: Caminhada do Foral / Caminho Mineiro !

Por montes e vales...


desfrutando os sons e sabores !


Não estivemos sozinhos...


guiados por quem sabe...


Com os escuteiros, lá passamos a antiga ponte do concelho !

Chegamos ao marco do Vilar - neste lugar assinalámos a entrega há 498 anos do Foral de Paiva.


Com paisagem a perder de vista...e o nosso vale de Sá!


Com um pouco de esforço lá chegamos à Mamôa de Carvalho Mau (agora melhor apresentada, limpeza fresca da Junta de Freguesia, a precisar de melhor sinalética).



e dalí  ao Choupelo


e ao Pejão Velho, foi um pulinho...


Tivemos um momento para meditar...nas canceiras,  destes bravos - que iam e vinham para o trabalho diariamente a pé -, e depois uma vida de sangue, suor e lágrimas, cuja lembrança aqui divulgamos e nos comove.


neste espaço terreiro emoldurados pelos poços, esccritórios, residencias dos técnicos e Casa da Malta



onde recebemos mais uma aula, do guia de serviço, com a lição estudada,  



o nosso Decano ainda nos brindou com um certificado de presença.



Com um agradecimento a todos os que tornaram este evento possivel, não esquecendo o Grupo dos Escuteiros 1258, as Juntas de freguesia que fizeram algumas limpezas nos caminhos, à Câmara Municipal que cedeu o autocarro, os Bombeiros Voluntários que acompanharam o circuito e a todos os participantes. Até à proxima, amigos !










quarta-feira, 6 de maio de 2015

Caminhada do Foral / Caminho do Mineiro - Minas do Pejão


O local de encontro é o Parque das Tílias, Frutuária, sábado, com partida marcada para as 9,00horas.
Os participantes deverão vir preparados para caminhar cerca de 10 Kilómetros. Recomendamos o uso de protetor solar.As previsões não apontam chuva. 
Aconselhamos que tragam uma pequena merenda para comer a meio da manhã.
No local do destino contamos poder observar as bocas da mina, o terreiro da exploração, onde se instalaram serviços administrativos e de apoio,a capela de Santa Bárbara, as tres casas da malta onde habitavam os mineiros, o acesso em escadaria formada por xisto, com pavimento também em xisto (impregnado no chão na vertical),o troço onde existiu o antigo caminho de ferro, o bairro de Técnicos e Engenheiros, e onde viveu também o Prof Rebelo da Costa diretor do Jornal "O Pejão", a messe (cantina para quadros superiores e para convidados) e a cabina eléctrica. Na passagem por Carvalho Mau vamos ter oportunidade de ver um monumento arqueológico que é na história o mais antigo do concelho e região.
O regresso do Choupelo – Pejão faz-se em autocarro cedido pela Câmara Municipal.
Todos com esta caminhada vamos prestar uma singela homenagem aos nossos bravos mineiros, muitos dos quais faziam este percurso diariamnte e em duplicado (ida e vinda) além de cumprirem a dureza do trabalho no interior da mina. Ainda vamos assinalar o 498.º aniversário da entrega do Foral de Paiva em Villar de Nojões.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Festa das Cruzes: a 3 de Maio em Oliveira do Arda

Festa das Cruzes
Revitalizar a tradição é preciso, depois, quem tem horta/jardim ou trata da agricultura, pode valer a pena !





Tradição que, no concelho, terá sido influenciada  pela, ainda hoje muito viva, festa das Cruzes de Barcelos, terra a que estivemos ligados - por causa da orgânica da Justiça e senhorios desta terra - desde a idade média (1). Transcrevemos extractos de notícias:
I
Em 1758, nas Memórias Paroquiais (2), o Padre da Raiva informava: “ No dia trez de Mayo vem a mesma ermida (do povo e cita fora do lugar de Oliveira, Nossa Senhora das Amoras) hum clamor das nove freguesias de que se compõem o conselho de Payva, com as suas cruzes e a camara do mesmo conselho. Na primeira segunda-feira depois do Domingo do Espirito Santo costuma ir todos os anos com um clamor a mesma ermida todas as cruzes do Valle e Villa de Arouca”.
II
 “Realiza-se no próximo dia 3 de Maio, na Senhora das Amoras, freguesia da Raiva a tradicional festa das Cruzes. O local é muito pitoresco, dizendo-nos que de todas as casas é obrigatório mandar alguém para salvar os campos das crises cerealíferas e das epidemias vérmicas. As procissões e os bailes afogentarão a bicharia destruidora. O concelho cairá ali em pezo.  Há corridas de camions. Aos que faltarem, já se sabe os campos… “ Jornal “ O Defensor” 28 de Abril de 1921.
III
Ainda em 1941 (28 de Abril) o jornal Defesa de Arouca dava realce à tradição do concelho vizinho: “ No próximo dia 3 de Maio realizar-se-á a tradicional processão conhecida por “As Cruzes”.
Esta procissão em que se incorporam as cruzes das freguesias do concelho e grande número de pessoas, durante a qual é cantada a ladainha de Todos os Santos, sai da capela de S. Caetano, em Serradelo, freguesia da Raiva, e recolhe à capela da Senhora das Amoras, em Oliveira do Arda, na mesma freguesia”.
IV
Esta notoriedade que passa as fronteiras do concelho e que pelos anos 50 a 70 creditava a muito do operariado agrícola, e não só, a alforria de um dia de folga (para compensar o 1.º de Maio…) teve como tudo os seus altos e baixos. Em 1757 foi necessário o provisor Dr. Manuel de Payva Castro capitular: “Os paroquianos desta freguesia (da Raiva) são negligentes e remissos em cumprirem o voto antigo da romaria da Senhora das Amoras, achando-se às vezes o ver.º pároco com poucas ou nenhumas pessoas que acompanhem a Cruz. Ordeno que este as possa condenar a cada uma em dois tostões, não indo de cada casa uma pessoa à dita romaria, os quais aplicará para a fábrica da igreja”.

Biografia:
(1)-“Elementos para a História de Castelo de Paiva”- (realçamos a 3.ª parte) de Margarida Rosa Moreira de Pinho. Reedição da ADEP em 1991;
(2) -“Memórias Paroquiais de Castelo de Paiva” de Manuel Joaquim Moreira da Rocha e Olimpia Maria da Cunha Loureiro. Ed. Câmara Municipal 1988;
        (3)-“Castelo de Paiva” - Terras ao Léu de Guido de Monterey. Edição do autor 1997;
        Foto de M. Rocha (de memória proveniente de Cruz de Alveda, existente no Parque das Tílias).

Estes e outros documentos podem ser lidos e consultados no espaço Biblioteca Manuel Afonso da Silva da ADEP, no Parque das Tílias à Frutuária.