Vila
Gondim e Vila Sobrado, “Honras” medievais já no século XI
Quintãs
onde se instalaram Bulhões, ascendentes de Santo António, provenientes de
França, através da Galiza, convidados pelo Conde D. Henrique, pai de D. Afonso
Henriques, 1.º rei de Portugal
“Nos nominibus Garsea Monniniz et conjuge mea
lelvira…facimus a vobis Garsea rex textus scripture et kartula benefactis de
omnes nostras hereditates quicquid sumus habere de aviorum parentorum atque…It
sunt…in terra de Pavia villa Gondin
et villa Soperato…in Durio et de
Alarda in Pavia”.
(“Diplomata et Chartae”, documento 451
de 1066)
“Nós
de nome Garcia Moniz e minha esposa Elvira fazemos a vós Rei Garcia (filho de Fernando Magno rei de Leão que
conquistou lamego, Viseu e Coimbra aos Mouros)
escritura e carta de benefícios de todas as nossas propriedades que temos de
avós e de parentes, as quais jazem na terra de Paiva, a vila Gondim e a vila de
Sobrado, no Douro, acima do Arda, em Paiva.
Quatro
anos depois, o Rei Garcia, da Galiza, doa estas mesmas propriedades, (e outras
mais, onde inclui as da freguesia de Real, também na terra de Paiva) a D.
Afonso Ramires (Adefonso Ramiriz), como recompensa por serviços prestados:
“Ego Garsia gratia Dei rex filii Fredenandi
imperatoris et Sanctia Regina tibi fidele meo Adefonso Ramiriz...placuit mihi
ut facerem a tibi Adefonso Ramiriz textum scripture et kartula firmitatis…de
illa parte Dorio villa Gundin, villa Soperato,
villa Gelmiriz...villa
Rial…
(“Diplomata et Chartae”, documento 491
de 1070.
Segundo
a dinastia de Asturias – Leon, sabe-se que, anteriormente a estas datas, o
reino medieval de Leão teve a sua origem na transferência da capital do reino
das Astúrias de Oviedo para a cidade de Leão, nos tempos de Afonso III das
Astúrias. Mais tarde Afonso III dividiu o seu reino pelos três filhos: Fruela
II governou nas Astúrias, Ordonho II na Galiza, e Garcia I em Leão, em 910.
Entidade
hegemónica, por alguns períodos de tempo o reino de Leão dividiu-se noutros
vários reinos (Castela, Galiza, Portugal), para depois se voltar a unificar
(excepto Portugal), que não mais voltou à sua jurisdição.
Com
Afonso III de Leão, em 868, as terras abaixo do rio Minho ter-se-ão designado
por “Portucale”, designação que terá permanecido até 1096, quando passou a
designar-se por Condado Portucalense.
Os
reis de Leão, desde Afonso III, em 866, foram-se sucedendo no tempo e em 1037
Fernando I de Castela passa a governar, também, com D. Sancha I, com quem
casara, o reino de Leão. Após a morte deste D. Fernando, o reino foi repartido
pelos seus três filhos: a Galiza para Garcia; Castela para Sancho (II) e Leão
para Afonso (VI).
Garcia
terá governado a Galiza por pouco tempo: entre 1065 – 1071/72, porque envolvido
em guerras, delas saiu a perder e teria sido encarcerado até ao fim da vida. Seu
irmão, Afonso VI de Leão, assumiu, então, o reinado da Galiza a partir de 1071,
bem como o de Castela, em 1072, tornando-se Imperador de Castela e Leão a
partir de 1073, até 1109.
Foi
a este Rei Garcia, da Galiza, a quem foram entregues as “villas” da terra de
Paiva.
Com
a queda do Rei Garcia, da Galiza, o irmão Afonso VI, que governou entre 1065 e
1109, as terras entregues ao Rei Garcia, voltaram à posse de familiares dos
anteriores proprietários, mas terão sido compartilhadas com outros
cavaleiros-fidalgos oriundos da Galiza, mas originários da Borgonha e da
Lorena, de famílias nobres francesas aí reinantes, cavaleiros que vieram de
França em auxílio dos reinos de Leão e da Galiza, a pedido destes e com as quais
passaram a estabelecer laços de amizade (Leão e Borgonha) acabando por se
consolidar tais laços através de casamentos entre as famílias dos dois reinos.
Assim,
D. Urraca I, de Leão, Casara com Raimundo
da Borgonha, em primeiras núpcias.
Filha única do enlace entre D. Afonso VI de Leão e de Constança da Borgonha, sua terceira esposa. Urraca sucede a seu pai
Afonso VI, tendo reinado, entre 1109 e 1126. O seu casamento com Raimundo fortalece
o relacionamento entre as famílias reinantes de Leão e Galiza com a família da Borgonha
e traz como consequência a deslocação de muitas pessoas entre esses condados, sendo
de maior afluência a que se verificara entre a Borgonha e a Galiza, mas também entre
a Lorena
e a Galiza, uma vez que Raimundo da Borgonha, filho de Guilherme I,
conde da Borgonha e de Estefânia Borgonha, e sendo esta filha de Adalberto da Lorena
e de Clemência de Foix, certamente Adalberto da Lorena não deixaria de ter influência nessa migração de nobres cavaleiros.
E
este casamento, bem como o de outra sua filha, terão resultado de favores de
Afonso VI para com o reinado da Borgonha, a quem pedira auxílio para combater
os seus opositores ou inimigos, já que D. Afonso VI, terá pedido auxílio, em
1087, aos cristãos do outro lado dos Pirinéus, chamada a que corresponderam
muitos nobres da Borgonha, entre eles D. Raimundo e D. Henrique.
Afonso
VI de Leão casara, então, a sua outra filha, Teresa de Leão, meia-irmã de D.
Urraca (que não era filha de Constança, mas de outra mulher) com Henrique de Borgonha, que viria a ser o Conde
D. Henrique de Portucale e depois do Condado Portucalense, cunhado de Raimundo
da Borgonha e irmão de Hugo I e de Odo I, duques, filhos de Roberto I da
Borgonha.
D.
Henrique parece ter sido seduzido pelo movimento das cruzadas do se tempo,
chegando mesmo a incorporar-se numa delas.
Neste
movimento das cruzadas e na migração de cavaleiros entre a Borgonha e a Galiza,
estaria envolvido, com grande eficácia, D.
Hugo abade de Cluny, tio-avô de D.Henrique, sendo que este, D. Henrique,
foi o líder de um grupo de cavaleiros, monges, clérigos e políticos, de origem
francesa que exerceram uma grande influência na península Ibérica, em especial
nas Astúrias-Leon e por extensão Portucale, onde impulsionaram muitas reformas
e os costumes cluniacenses e rito romano.
É
lícito aceitar que nesse grupo estariam incluídos alguns descendentes dos “Bouillon”
franceses, provindos da Lorena, em
que uns se fixaram em Oviedo, nas Astúrias, onde ainda hoje se encontram os
“Bullón” de Oviedo, e outros na terra de Paiva, e também por Viseu, terras que,
ao tempo, estariam sob a jurisdição dos senhores da Galiza, fixando-se nas Quintâs de Gondin e Sobrado, onde
surgiram os “Bulhões”, que se
encontram descritos na árvore Genealógica de Santa Cruz das Serradas,
ascendentes de Santo António, no Cartório da Casa da Boavista, em Castelo de
Paiva.
Assim
se compreende a ligação do ou dos Bulhões de Santa Cruz das Serradas, de Gondim,
em terra de Paiva, com os “Bouillon” de França, da Borgonha e da Lorena, via Adalberto da Lorena, descendentes de
Godofredo de Bouillon da Baixa Lorena
e também com os “Bullón” que ficaram por Oviedo.
Segundo
o Cartório da Casa da Boavista e pela Árvore genealógica dos Bulhões de Santa
Cruz das Serradas, esse “Bulhões” teriam ocupado uma parte da Quintã de Gondim,
(Santa Cruz das Serradas, com entrada pelo Portal que ostenta no Brasão o escudete
dos Bulhões), onde já viveria D. Pedro Trocozendo de Paiva que, segundo nota
inscrita na árvore genealógica, foi
contemporâneo do rei Afonso VI de Leão, pelo que entre eles, certamente,
teria havido troca de mensagens, face aos factos antecedentes com as cedências
e transferências de propriedades, ao tempo do rei Garcia da Galiza.
Por
outro lado, sabe-se, também, que Raimundo da Borgonha, cunhado de D. Henrique,
casado com D. Urraca, esteve ligado externamente ao condado de Portucale, entre
1093 e 1096, tendo-lhe sucedido Nuno Mendes e, posteriormente D. Henrique, que
o veio a transformar, oficialmente, no condado Portucalense, continuado por sua
mulher a condessa Teresa de Leão, enquanto seu filho Afonso Henriques foi
menor. Em lutas travadas com a mãe, Leonesa de sangue, tendo ela perdido a
batalha, viu-se obrigada a aceitar, em 1139, que seu filho, D. Afonso Henriques
proclamasse definitivamente a independência e começasse a governar como 1.º rei
de Portugal.
Numa
pedra de granito de um portal de “habitação medieval”, actualmente (2016) apenas
com paredes, na propriedade de Santa Cruz das Serradas, em Gondim, aparece
gravada a data 1146, data esta que surge já D. Afonso Henriques levava sete
anos de reinado. Pode dizer-se, com alguma certeza, que as Quintãs de Gondim e
de Sobrado também estiveram envolvidas, de alguma forma, na origem da formação
do Condado Portucalense e por conseguinte na fundação de Portugal, uma vez que
D. Urraca Mendes de Bragança, bisavó de Santo António, foi cunhada de Sancha
Henriques, irmã de D. Afonso Henriques.
E é
assim que dos “Bouillon” chegados a Santa Cruz das Serradas, surge naquela árvore
genealógica, o nome de Vicente Martins de Bulhões pai de Martim de Bulhões e
avô de Fernando de Bulhões (Santo António) e de seus irmãos.
Martim
de Bulhões casou com D. Teresa Taveira, que ao tempo estaria na Quintã de
Vegide, (Casa Torre de Vegide) pertencente aos mesmos proprietários das Quintãs
de Gondim e de Sobrado (Casa da Boavista).
A
árvore genealógica de Santa Cruz das Serradas, existente na Casa da Boavista,
Sobrado, Castelo de Paiva, leva-nos, Teresa Taveira, (mãe de Santo António)
pela via dos seus ascendentes, até ao fundador do Mosteiro de Paço de Sousa, em
960, em Penafiel: D. Trocozendo Guedes, penta-avô de Santo António.
Capela de S. Luís (IX) Rei
de França – Quintã ou Solar de Gondim – foto dos anos 30 do Séc. XX
ADEP, Castelo de Paiva, 16 de Dezembro de 2016
Mário Gonçalves Pereira