quarta-feira, 26 de junho de 2013

              Apresentação feita por Mário Gonçalves Pereira na cerimónia de lançamento

          Santo António de Lisboa, um livro para a história


O documento que hoje apresentamos ao público em geral não é uma obra científica, não é um romance, nem tão pouco uma imaginária novela.
É, todavia, um retrato de um tempo já passado e longínquo, um encontro com as raízes de Santo António de Lisboa em terra de Paiva, num entroncamento histórico de um santo com uma prodigiosa vida de herói evangélico.

O facto de eu ter vindo ao mundo no emblemático território que viu nascer os pais de Santo António e enquanto membro da ADEP- Associação de Estudo e Defesa do Património Histórico-Cultural de Castelo de Paiva, associação que de facto estuda e defende o património histórico, tornou-se imperioso dar o meu contributo pessoal na divulgação dos elementos históricos existentes, que vão escapando à memória de alguns locais, e que são certamente desconhecidos da maioria deles e perpetuá-los, através desta Associação, antes que esta realidade se esfume no tempo, já que são elementos intrinsecamente ligados à história de Castelo de Paiva, enquanto berço dos pais de Santo António.
E como disse Marco Aurélio: “se uma tarefa te parece difícil, não penses imediatamente que é impossível”. De facto a tarefa foi difícil, mas possível.
Também Santo António dissera: “quem não puder fazer grandes coisas faça, ao menos, o que estiver na medida das suas forças”.
Procurei seguir o seu conselho. E quando recebi o apoio incondicional da ADEP a esta minha ideia,, ala que se faz tarde, lancei-me ao caminho na peugada do Santo.
           
Com a edição deste documento a que foi dado o título Santo António de Lisboa Encontro Nas Origens Castelo de Paiva, pretende-se, assim, dar a conhecer o sentimento generalizado dos naturais de Castelo de Paiva que, honrados pela figura de Santo António, cuja auréola de santo é reconhecida a nível mundial, procuram manter viva, no seu seio e no dos seus vindouros, a efeméride do nascimento, em Terra de Paiva dos progenitores desse santo, e dá-la a conhecer ao mundo, com base na descrição genealógica dos Bulhões de Santa Cruz das Serradas, existente na Casa da Boavista, dos ex-condes de Castelo de Paiva, e que nesta obra se procurou traduzir com igual rigor e o mesmo valor histórico que tal documento representa.
Este livro não foi concebido só de palavras, as ilustrações que contém, para além de lhe dar mais vida e beleza, são também, só por si, uma forma de comunicar, miscigenadas com os textos conexos.

Honrar os pais através do filho Santo António é uma tradição que vai perdurando ao longo dos séculos e que encontra eco no coração de todos os paivenses, apoiados, não só pelas variadíssimas obras escritas sobre tão importante figura da igreja católica, mas também pelas pedras vivas que são as referências ao património existente e identificado, por exemplo, pelo “Marmoiral da Boavista”, “Pia dos Mouros” e, bem assim, pelos edifícios nos locais de Vegide, Serradas, Gondim e Casa da Boavista, em Castelo de Paiva, considerados memórias que não se apagam e que serviram de berço aos pais do Santo e, posteriormente, a outros seus descendentes Bulhões.
“Os paivenses não querem abandonar, por ténue e muito frágil que seja, o único fio que os prende à sua certeza histórica: os pais de Santo António foram naturais de Castelo de Paiva”.


As minhas digressões ocasionais através de muitos países de quatro continentes deste planeta-terra, contribuíram substancialmente para o enriquecimento deste trabalho, já que, dentro da larguíssima área geográfica percorrida, encontrei imensos testemunhos de devoção e homenagem a Santo António, alguns deles recolhidos em imagens fotográficas e inseridos nesta obra, como se poderá verificar.

Numa dessas minhas digressões, por terras ainda mais longínquas do que aquela donde viera o Papa Francisco, em viagem marítima procedente de Ushuaia, Tierra del Fuego, a cidade mais setentrional do planeta, na Argentina,  passando pelo cabo de Hornos, extremo sul do continente americano, com destino a Punta Arenas, no Chile, e entrando no estreito de Magalhães percorrendo parte dele em sentido inverso ao percurso que fizera Fernão de Magalhães, ao enquadrar as águas do canal com tudo o que à sua volta existia, fiz uma incursão momentânea às entranhas da minha já velha memória para reavivar a inigualável façanha que foi, ao tempo, a viagem de circum-navegação, iniciada por Magalhães ao serviço de Carlos V, de Espanha (em 1519), com uma esquadra de cinco navios e uma tripulação de 234 homens, com cerca de 40 portugueses, entre os quais seu primo co-irmão Álvaro de Mesquita, que comandava o navio com o nome “San Antonio”.
Naquelas paragens da Patagónia, ao recordar o nome da nau San António, e encontrando-me nesse caminho mágico da viagem que fizera Fernão de Magalhães, perguntei, a mim mesmo, se alguma vez aquela família com origens na minha terra, Castelo de Paiva, pais de Santo António, imaginaria ou lhes passaria pela cabeça que o nome de seu filho “viajaria” até lugares tão longínquos, não só naquela específica viagem de Magalhães, mas em tudo quanto era Descobrimentos, ao tempo.
Esse momento gerou na minha pessoa uma tal força de vontade e coragem que, aliadas a outra tanta curiosidade, me envolveram desde logo numa luta intensa e constante na busca, na pesquisa, na tentativa de conhecer melhor a história, a ligação dos ancestrais Bulhões, pais de Santo António, aos Bulhões seus descendentes de Castelo de Paiva, e passá-la a escrito desde que encontrasse fios condutores passíveis de alguma credibilidade.
Assim comecei a trabalhar.
Muitos dos textos e imagens que são a base deste documento resultaram de uma pesquisa de conteúdos efectuada principalmente através da Internet, e de viagens nacionais e internacionais que, subtilmente foram chamando a minha atenção para os inúmeros lugares de devoção, dedicados a este santo, testemunhos da sua popularidade espalhada pelo mundo inteiro e cujas origens se enraizaram em Castelo de Paiva.

Seguindo o lema: ”quando estiveres em viagem, pára para leres indicações sobre a história dos sítios por onde passas”; eu confesso: sempre parei, mas para tentar encontrar referências a Santo António.
Foram contributos bastantes para o arranque desta obra, não só a passagem  pelo estreito de Magalhães, como já referido, mas também a leitura do pequeno livro de poemetos de Adriano Mendes Strecht de Vasconcelos, editado pela primeira vez em 1938, ( ano em que eu nasci) denominado “Lendas e Tradições de Castelo de Paiva”, no qual se faz menção à Casa Torre de Vegide que diz ter sido de Tereza Taveira, Mãe de Santo António ( a 200m do local onde vivo, precisamente a rua Tereza Taveira) e também ao Paço de Gondim, nas proximidades da entrada principal da Quinta da Çarrada ou Serrada, propriedade que pertencera a Martim (ou Martinho) de Bulhões, pai de Santo António e, também, pelo facto de as gentes da Terra de Paiva, nomeadamente das freguesias de Sobrado e de Fornos, terem grande devoção, quer pelos progenitores, quer pelo próprio Santo António.

A continuidade desta história terão V.Ex.as oportunidade de a encontrar no livro ora lançado que espero lhes agrade de todo. E descansem aqueles, mais novos, que pensam que o livro se esgotará e não terão oportunidade para desfolhar as belas páginas que o compõem. Garanto-vos que mesmo depois de eu passar a fronteira dos meus aniversários, eu irei, mas a obra fica e será reeditada as vezes necessárias.
Este é um livro apropriado para uma prenda de aniversário, para oferta a um amigo, para prenda de Natal, para sugerir como “lembrança” de Castelo de Paiva, mas é sobretudo uma peça histórica para Castelo de Paiva.

Um outro aspecto que tem a ver com a apresentação deste documento neste ano , é que ele foi concebido para ser lançado, precisamente neste ano de 2013 em que Castelo de Paiva comemora os quinhentos anos da atribuição do Foral à terra de Paiva por D. Manuel I, então rei de Portugal, era o ano de 1513, evento que, planeado com a devida antecedência, nas actividades da ADEP agora se consagra, e que eu faço questão de juntar um poemeto da minha autoria oportunamente escrito, relativo ao Foral:

À procura de mim
   (origens da terra onde nasci)

Corri aldeias, andei, fui por aí além
E vim
À procura de mim
E origens de mais alguém,
Mas encontrei-me perdido,
Despido
De ideias e da memória,
Sem glória,
Enfim!

Voltei por um outro caminho
Mais estreito e mais maninho
E que descobri ?
Um mundo novo,
Criação de um povo
Gentio, que reconheci
Em mim!

Gentes da minha terra,
Da beira rio e da serra,
Do tempo de outrora, de meus avós,
Dos filhos e dos netos, como eu,
Povo que somos todos nós
Tal qual Deus o deu!

Gentes da terra de Paiva
Que me fizeram o berço na Raiva!
Perto do Arda,  em  Oliveira,
Com cais nas Fontaínhas,
Ponto de encontro e  de passagem,
Onde não se pagava portagem!

Gentes que me embalaram,
Que me criaram,
Que me deram o ser e saber
Que me deram força e poder
Poder para reconhecer

Que todo o trabalho vale a pena,
Quando se vai às origens procurar e  explorar,
Recolher, proteger e registar
Elementos que se deseja fiquem a prevalecer,
Na terra de Paiva, por vontade plena,
Nesta comunidade que, em Vilar, de Real,
Em Maio de 1517 recebeu, de El-Rei D. Manuel I, o foral
Concedido no dia primeiro de Dezembro de 1513
Perfazendo cinco séculos em 2013 !



Não quero deixar-vos partir sem antes, pedir a benção de Santo António, para crentes e não crentes, e agradecer a amabilidade e disponibilidade a quantos se deslocarem a este encantador e agradabilíssimo Parque Biológico, e dizer-vos que para mim foi uma grande honra tê-los aqui como amigos e atentos ouvintes.
Na vida, nunca esqueço que aquilo que mais aprecio, ao nível emocional, é sentir que os meus trabalhos são apreciados.
Sinto-me distinguido pela vossa presença e as únicas palavras que tenho para vos dirigir neste momento são, simplesmente: muito obrigado.




     Mário Gonçalves Pereira

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