quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Um novo caminho de ferro no Couto Mineiro do Pejão










Pacificada que parece a questão da inevitabilidade da empresa das águas assumir uma parte dos custos com a recuperação e manutenção da Ponte Velha (dada a leitura que se faz sobre a forma como decorreu a última Assembleia Municipal sobre o assunto e que teve lugar na Junta de Freguesia em Oliveira do Arda), há que olhar em frente ( o indeferimento da classificação por parte da DGPC reclama a valorização e associação à ponte rodo-ferroviária de outras estruturas das Minas) e lançar novas sementes; o sonho de reactivar o caminho de ferro inspira já um valioso trabalho de Mário Gonçalves Pereira que pretende despertar consciências e alertar para as potencialidades e responsabilidades que todos temos nesta matéria.

                                                   CAMINHO DE FERRO DO PEJÃO
   


“(…) Um dia, ainda não adolescente, pedi a meu pai para me levar a viajar com ele,  por uma noite, na sua “máquina”, no seu vai-vém, entre o Choupelo e o Martelo da Arte, pelo referido Vale da Cana. Depois de muita resistência pela sua parte mas de muita insistência pelo meu lado, acabou por aceder ao meu desejo de criança e lá fui. Lá andei para trás e para a frente, vendo meu pai controlar a pressão do vapor, a temperatura da fornalha, o nível de água, apitar quando necessário e o seu ajudante introduzir combustível na fornalha, acrescentar água na caldeira onde se produzia vapor, lubrificar mecanismos, mudar a “agulha” da linha sempre que se faziam manobras, receber as instruções do maquinista para isto e para aquilo, etc. Tudo aquilo, para a minha idade, era “um bicho de sete cabeças ou mais”: manómetro, termómetro ou pirómetro, indicador de nível, alimentar a fornalha, caldeira expelindo vapor, e aqueles tirantes, quais braços, para a frente e para trás produzindo movimento nos rodados, etc, era confusão a mais. Só mais tarde ao estudar mecânicas e leis físicas, consegui compreender essas operações e manobras e a necessidade de tudo aquilo. Aquela foi para mim uma noite inesquecível e de glória. Como na época não havia transportes públicos, nem isso era possível para aqueles locais, a viagem para o trabalho fazia-se a pé, pelo que eu tive que caminhar e aguentar esse trajecto de alguns 5 ou 6 km, a lado de meu pai que transportava o seu gasómetro para alumiar o nosso caminho. Ficou-me, assim, na memória, que agora passo a papel, a experiência de uma noite de trabalho na vida de um maquinista de tracção (por sinal meu pai).
(…)
Sempre que percorro os locais do couto mineiro do Pejão, inclino-me com respeito defronte das pequenas montanhas e montes do Pejão, do Fojo, de Guirela, de S. Domingos, da Póvoa, da Serrinha, de Germunde, e tantas outras, que foram na verdade verdadeiras “montanhas mágicas” onde no seu ventre, no interior das galerias, durante anos, se verteu muito suor, correu bastante sangue e se formaram rios de lágrimas, de muitos mineiros, a par do minério que ia sendo desventrado para proporcionar calor, conforto e bem-estar às populações e fomentar o desenvolvimento industrial e comercial do país.
(…)
A ADEP pode recolher e tratar essas informações e dádivas que lhe forem chegando daqueles que desejam, como eu e outros, que se torne realidade, quanto antes, o Museu do Pejão, associado a uma linha de caminho de ferro turístico nas margens do Arda e Douro, mas também sobre a ponte, em Pedorido, Castelo de Paiva, pondo em funcionamento, para o efeito, uma das três locomotivas que ainda se encontram em Portugal, se alguma delas puder ser reparada para vir a funcionar: a que já se encontra em Pedorido ou uma das presentes nos museus da CP em Estremoz e Santarém. O ideal seria a locomotiva Pejão, que simbolicamente é a que melhor retrata o icon Pejão no contexto das minas e parece ser a que está em melhores condições técnicas.
Se não for possível a reparação de nenhuma delas, que se adquira uma nova ou mesmo usada que satisfaça as necessidades requeridas para esse efeito.
Os turistas não deixarão de aparecer nos Barcos Turísticos que sulcam os nossos rios e que podem ancorar num cais acostável no rio Douro, junto à Igreja de Pedorido e nas margens da foz do Arda. Outros virão em autocarros, automóveis, motos e bicicletas ou mesmo a pé de mochila às costas. Restaurantes, hotéis e indústria ligada ao turismo não tardariam a aparecer. Pedorido, Oliveira do Arda e arredores formariam um grande pólo turístico de desenvolvimento económico-financeiro e de criação de empregos.
Podem considerar esta ideia uma utopia, um sonho, mas se houver vontade política local, municipal e nacional, tudo isto se concretizará, com um bom projeto apresentado e recorrendo a fundos Comunitários Europeus.

Aconselho vivamente todos os interessados a visitarem os locais exteriores que aqui enumerei para que possam avaliar melhor as potencialidades turísticas do legado da Carbonífera neste Couto Mineiro do Pejão.(…)”






transcreveu e apresentou Martinho Rocha, um trabalho de Mário Gonçalves Pereira

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