ROTA DO
ROMANO/MEDIEVAL
(Marco de Canaveses)
"No
ordenamento romano do séc. II d.C., o rio Douro servia de fronteira entre as
províncias de Tarraconense (a norte/margem direita) e a Lusitânia (a sul/margem
esquerda), acarretando essa divisão administrativa distintos ritmos de
crescimento e de desenvolvimento. No entanto, mantinha-se uma ritualidade
religiosa similar nas terras ribeirinhas das duas margens, segundo conclusões
da investigação arqueológica recente.
Tomar
contacto com estes conhecimentos e, em simultâneo, percorrer os espaços e
observar as paisagens que acolheram estas vivências antigas é uma boa
justificação para o presente itinerário, estando em experiência, por agora,
apenas o troço de estrada S. Nicolau a Tongobriga."
(Fonte: Folheto de Divulgação do Projecto)
O
troço experimental, com início em S. Nicolau, compreende:
Visita
à Igreja de S. Nicolau, de estilo românico, que ainda apresenta no seu interior
restos sobrepostos de frescos de diversas épocas, sendo a maior parte
atribuíveis ao séc. XVI. À direita da Igreja de S. Nicolau pode visitar também
a Capela de S. Lázaro bem como o cruzeiro da Boa Passagem que se encontra em
frente à Igreja.
Continue
subindo a pé a rua romano/medieval e pare junto à Albergaria de D. Mafalda e
capela do Espírito Santo que terá servido para albergar nove peregrinos que se
dirigiam a Santiago de Compostela.
in "Marco de Canaveses, Um Município em Movimento"
in "Marco de Canaveses, Um Município em Movimento"
(Castelo de Paiva)
A semelhança destas duas capelas é mais que evidente. Aconselhamos a inclusão nesta rota da Capela do Espírito Santo em Vila Verde (no Terreiro).Tudo indica que esta Capela (do Espírito Santo situada no Terreiro, Vila Verde), que em 1758, estava arruinada, e foi portanto reconstruída nos século XVIII e XIX, onde nas imediações já encontramos a célebre ara pré cristã - (em pleno e farto celeiro agrícola do rio Sardoura) - desempenhou no passado uma função social caridosa de albergue e ajuda aos peregrinos e caminhantes que passavam por esta via indo e vindo de Santiago de Compostela, como acontecia no Marco de Canaveses.
Albergaria de Canaveses e Capela do Espírito Santo
A Capela do Espírito Santo em Vila Verde (no Terreiro)
(foto OTL - Arquivo Luis Lousada Soares/ADEP)
Até nas linhas arquitecturais temos uma réplica perfeita,
senão vejamos. Na foto, é fácil divisar uma fachada “tirada a papel químico” da
fachada da Capela do Espírito Santo do Marco de Canaveses. Desta se diz que é de
arquitectura civil, medieval e maneirista; que o Paço foi transformado em
albergaria, por ordem da rainha Santa Mafalda. A albergaria consiste num
conjunto de edifícios térreos, virados para a estrada romana/medieval, (como
acontece em Vila Verde) mas que até aos dias de hoje sofreram grandes
modificações que lhe alteraram a traça original. Segundo a tradição e a
interpretação de vários investigadores, foi mandada construir por D. Mafalda
uma albergaria junto à capela do Espírito Santo (VASCONCELOS,1935) de que ainda
permanece uma pequena casa térrea já alterada (hoje é uma adega). No interior
desta estrutura é detectável uma janela aberta para o interior da capela, ou
seja, quem estivesse no interior do edifício, a atual adega, ouvia as missas
ditas na capela sem ter de se deslocar.
E se a fachada foi tirada a papel
químico também a nossa Capela de Vila Verde tem igualmente uma janela aberta,
para que quem estivesse nos aposentos anexos. Num e noutro caso hoje os espaços
anexos estão ao serviço de casas rurais e agrícolas, servindo de adegas e
espaços de habitação. Na capela do Marco refere o autor que ainda é
visível uma padieira (em xisto) e junto à adega, existe um conjunto de pequenos
compartimentos, pouco espaçosos, mas, que no seu total, dariam para albergar
talvez nove ou um número um pouco maior de peregrinos.
Graça, L. “Hospitais e
outros Estabelecimentos Assistênciais até ao Final do Século XV” diz-nos: “Quanto às albergarias (tal como as gafarias), sabe-se
que a sua existência é anterior à própria fundação da nacionalidade. Tenderão
entretanto a desaparecer entre nós, embora mais lentamente do que no resto da
Europa, a partir do fim da Idade Média, com o progressivo declínio das
peregrinações.
Grande parte das albergarias situavam-se junto a
mosteiros e igrejas, povoações e estradas mais importantes, nomeadamente ao
longo do caminho de Santiago, e em particular a norte do Mondego.
Às primeiras rainhas atribui-se igualmente a fundação
de diversas albergarias, como, por exemplo, aquela que terá dado origem ao
toponónimo Albergaria-a-Velha, criada em 1120 por Dona Teresa, mãe do primeiro
rei de Portugal. Ou a de Chaves, mandada construir por D. Mafalda.
Os primeiros reis de Portugal também se preocuparam
com a manutenção e a extensão da rede de albergarias — caso de D. Sancho I que
no seu testamento de 1209 deixa legados, em dinheiro, a diversos
estabelecimentos do género existentes no centro e norte do país.
Como diz o historiador Veríssimo Serrão (1990, vol. I.
221), "falta um mapa global para reconstituir esses marcos de cobertura
viática, mas para certas ordens há elementos precisos. Assim, no que respeita
aos mosteiros beneditinos que ficavam a norte do Mondego, possuíam albergues:
uns, da invocação de Claraval, como Maceira Dão, Lamego, Sever e Tarouca; e
outros, ligados à regra de Cister, como Moimenta, Tabosa, Arouca e
Bouças".
Correia (1938) situa as principais albergarias
sobretudo ao longo das antigas estradas romanas, tal como de resto uma boa
parte dos outros estabelecimentos de beneficência. Na mesma localidade, podiam
coexistir, aliás, diferentes tipos de estabelecimentos: Albergarias,
Mercearias, Gafarias, Hospitais e Hospícios, para além dos Conventos. De
qualquer modo, a sua concentração é sobretudo ao longo da rede viária romana ou
de outras vias de comunicação utilizadas pelos peregrinos que, de França,
Espanha e Portugal, demandavam Santiago de Compostela. Essa concentração era
mais evidente em troços como:
- Vila Real de Santo António/Mértola/Beja/Alcácer do Sal/Setúbal
- Beja/Évora/Estremoz/Arronches/Badajoz
- Lisboa/Santarém/Coimbra/Porto
- Porto/Braga/Santiago de Compostela
- Alcântara (Espanha)/Idanha-A-Nova/Guarda/Penafiel/Braga/Santiago
(sublinhado nosso, para lembrar que na margem sul correspondente está
Paiva, com o conhecido atravessamento para Várzea do Douro (próximo do Convento de Alpendurada), no Castelo e além disso com inúmeros portos,
cais e embarcadouros de Pedorido, Fontaínhas, Midões, Gramão e Boure).
·
Aqui nas imediações desta capela temos de
memória visual caminhos calçados de enormes fragas graníticas desgastados com
enormes sulcos dos rodados e que se não estão
hoje visíveis, nem sequer referênciados como passagem, de importante via
antiga, a sua presença não será mera obra do acaso, mas há-de dever-se à
proximidade dos rios Douro e Sardoura; da situação
geográfica do território e sua ligação a locais (Nojões) e territórios vizinhos importantes (Arouca). Castelo,
Boure, e Gramão que foram importantes lugares de travessia e embarque no Douro. Nojões e Várzea são locais de passagem de peregrinos, vindos do sul e de leste como
pode muito bem ser o de passagem para Santiago de Compostela na Galiza.
Pena que não
tenhamos tido ainda acesso a documentação (se é que ela existe) sobre a
história desta Capela (do Espírito Santo de Vila Verde) para que se possa fazer
luz sobre o passado que encerra; sendo certo que é mais
um importante referencial para confirmar o que temos defendido da
inevitabilidade da passagem de uma importante via medieval e quiça romana de
acesso e atravessamento dos rios Sardoura e Douro passando por Vila Verde e Nojões.
transcrições e texto de Martinho Rocha
transcrições e texto de Martinho Rocha
Sem comentários:
Enviar um comentário