Brazão com a cruz abolotada dos Bulhões (no portal da Serrada)
Primeiros
textos em Língua Portuguesa atribuídos a senhores da terra de Paiva ascendentes
de Santo António
D. Soeiro
Pais de Paiva, também conhecido por D. Soeiro Mouro de Paiva ou apenas por D.
Soeiro Mouro, (bisneto de D. Trocozendo Guedes, fundador do Mosteiro de Paço de
Sousa), foi casado com D. Urraca Mendes (de Bragança), depois de esta ter enviuvado
de D. Diogo Gonçalves de Urrô (ou de Cete).
Deste
casamento resultaram os filhos:
João
Soares de Paiva, D. Cristina Soares e Payo Soares Romeu.
“Dona Goda Soares houve três filhos e duas
filhas de Dom Paio Romeu (ou
Paio Pires de Paiva): e
um filho de nome Martim (S)aído?, e não houve filhos; e outro houve nome Pero
Galego, e não houve filhos; e outro houve nome dom Soeiro Mo(u)ro de Pa(v)ha, e
foi casado com dona Orraca Mendes (…)
Dom Soeiro Mouro houve dois filhos e uma
filha: e um filho houve nome João Soares de Pa(v)ha…outro filho houve nome Pai
Romeu, o pequeno (Payo
Soares Romeu)….e a
filha houve nome Cristina Soares (Livro
velho de Linhagens 2F8, PIEL e Mattoso 1980 (I):55-56.”
“Dona Orraca Mendez havia de dom Diogo
Gonçalves peça de filhos… e quando soube que seu marido fora morto na batalha
que el rei D. Afonso, o primeiro rei de Portugal, houve com os Mouros no campo
d’Ourique, nom leixou porém de casar com dom Soeiro Mouro. Este dom Soeiro Paez
Mouro foi casado com Orraca Mendez de Bragança (….) e fez em ela Joham Soarez,
o Trobador, e Paai Soarez Romeu, o prestimoneiro, e Cristina Soarez ( Livro de
Linhagens do Conde D. Pedro 42W5; PIEL e Mattoso 1980 (II/I): 487 – 488)”.
João
Soares de Paiva casou com D. Maria Annes e deste casamento resultou Thereza
Anes, além de outros.
Esta
Thereza Anes era portanto sobrinha de Payo Soares Romeu e de Cristina Soares.
De
uma relação, ao que parece,
extra-conjugal de Payo Soares Romeu com Thereza Anes, sua sobrinha, nasceu Teresa Taveira ou d’Azevedo, mãe de
Santo António, conforme registo na árvore genealógica da Casa da Boavista,
em Castelo de Paiva.
Teresa
Taveira também aparece em alguns documentos como Maria Teresa Taveira.
Os
pais de Teresa Taveira foram assim: Payo Soares Romeu e Thereza Anes, facto que
contradiz a descrição inserta a pág. 66 do livro de Guido de Monterey Castelo de Paiva terras ao léu, que aponta como
tradição histórica ser Teresa Taveira filha do casal Payo Soares Romeu e de D.
Sancha de Portocarrero, descrição que surge certamente, por transcrição de
elementos de recolha produzidos com base em análise menos profunda de registos
genealógicos medievais, os quais nem sempre se consideraram perfeitamente
conciliatórias.
Tendo
Santo António de Lisboa (Fernão de Bulhões) por mãe Teresa Taveira, Payo Soares
Romeu surge aqui como seu avô. Por outro lado sendo Thereza Anes sua avó, o pai
desta, João Soares de Paiva, irmão de Payo Soares Romeu, foi bisavô de Santo
António. E neste alinhamento D. Soeiro Pais de Paiva e D. Urraca Mendes também
foram seus bisavôs pelo lado do pai de Teresa Taveira (Payo Soares Romeu) e
trisavós pelo lado da mãe de Teresa Taveira (Thereza Anes).
Esta
família viveu muito chegada ao primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques: O
irmão de D. Urraca Mendes de Bragança, Fernão Mendes, senhor de Bragança, casou
com D. Sancha Henriques, então viúva de D. Rui (ou Rodrigo) Gonçalves Pereira.
Logo, D. Urraca Mendes de Bragança foi cunhada de D. Sancha Henriques, irmã de
D. Afonso Henriques, o que quer dizer que as gentes de Paiva ligadas a Santo
António, também estiveram ligadas à fundação de Portugal.
Mas
mais:
Importa
também salientar o facto de João Soares de Paiva e Payo Soares Romeu, também conhecido
por Pelágio Romeu, irmãos, nobres oriundos das terras marginais do rio Paiva, a
sul do rio Douro, estarem reconhecidos como os autores de uma das primeiras e
mais antigas, senão a mais antiga escrita em língua portuguesa, conhecida como:
Notícia
de Fiadores de 1175 [1] de Payo Soares Romeu, e João Soares de Paiva como um trovador
medieval português, o mais antigo autor com obra conservada presente nos
cancioneiros medievais galaico-portugueses, com a mais antiga cantiga
trovadoresca portuguesa, texto satírico da lírica medieval, de 1196, filho de
D. Soeiro Paes, dito Mouro e de D. Urraca Mendes de Bragança[2].
“O aparecimento
da Notícia de Fiadores de 1175 veio confirmar a bondade das observações de Ivo
Castro e Rosa Virgínia Mattos e Silva.
Embora
o sirvantês “Ora faz ost’ o senhor de Navarra” seja um pouco mais tardio que a Notícia de Fiadores, o seu autor, João
Soares de Paiva nasceu presumivelmente na primeira metade do século XII (depois
de 1139, data da batalha de Ourique)[4] e
terá desenvolvido a sua actividade poética durante a segunda metade do século.
Sabe-se que além do referido sirvantês escreveu outras cantigas, provavelmente
de amor, das quais nos chega notícia mas não os respectivos textos (cfr.
Gonçalves e Ramos 1983, Gonçalves 1976, Carlos Alvar 1993).
Sendo
hoje geralmente aceite que a arte poética dos trovadores se constituiu desde
sempre em tradição escrita, circulando não em suporte de oralidade e memória
mas em “folhas” soltas depois reunidas em cancioneiros individuais e em grandes
compilações colectivas, parece não restar qualquer margem para duvidar de que
se escrevia em português na segunda metade do século XII.
Curiosamente,
João Soares de Paiva e Paio Soares de Paiva, dito Mouro, o autor de Notícias de
Fiadores não são só contemporâneos como irmãos, filhos de D. Soeiro Paiz de
Paiva, dito Mouro e de D. Urraca Mendes de Bragança.
NOTÍCIA
DE FIADORES – o
texto dado como o mais antigo na história da língua portuguesa, de Payo Soares
Romeu, senhor da terra de Paiva, avô de Santo António:
Ora
faz ost’ o senhor de Navarra
A
cantiga satírica, dada como trova das mais antigas, escrita em galaico-português,
atribuída a João Soares de Paiva, irmão de Payo Soares Romeu, em que, também
ele, João Soares de Paiva, foi senhor em terra de Paiva e bisavô de Santo
António:
Adep
– Castelo de Paiva, 15 de Janeiro de 2017
Mário
Gonçalves Pereira
[1]
- Notícia de Fiadores de Pelágio Romeu(ou Payo Soares Romeu)(1175)-Mosteiro de
S. Cristóvão de Rio Tinto, maço 20, n.º 10 – rosto.
[2]
- In cantigas.fcsh.unl.pt e Ivo Castro 2001.
[3] -In books.google.pt pag.40
[4]
- Obs: João Soares de Paiva nasceu do segundo casamento de Urraca Mendes,
certamente pouco depois do seu primeiro marido ter morrido na batalha de
Ourique, 1139, e foi bisavô de Santo António que nasceu em 1195, pelo que
aquela data do pós 1139 é perfeitamente aceite.
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