Comemoração dos 500 anos da entrega, em Maio de 1517, em
Vilar – Nojões – Castelo de Paiva, do Foral da “terra” de Payva, concedido por
D. Manuel I, rei de Portugal.
Nojões,
o rio Douro e os barcos rabelos
Nojões
no Portugal de entre Douro e Vouga
Nojões
no caminho de Santiago de Compostela
Nojões
e o Foral da terra de Paiva
Nojões
nunca foi Villa em sentido honorífico, nem concelho, mas tão só Villa com o
significado de “propriedade rústica” integrada na terra de Paiva.
Contudo,
Nojões foi desde sempre uma localidade de referência no contexto histórico-político,
não pelo aglomerado populacional que foi sempre diminuto, mas pela sua situação
geográfica, pela potencial riqueza das terras circundantes e pela apetência de
fixação de povos primitivos que aqui encontravam condições excepcionais para o
seu modo de vida e para as suas deslocações inter-comunidades.
Mesmo
antes da era cristã, e depois nesta, foi um sítio importante no cruzamento dos
tempos e das políticas dos povos. Não fora isso e não estaríamos aqui hoje.
Guido
de Monterey em: “Castelo de Paiva – terras ao léu”, a páginas 73 e seguintes:
“
Comunicava, então, a “terra” de Paiva com o exterior pelo rio Douro, a
principal via de transporte até perto dos finais do séc. XIX, quer para jusante
(Porto), quer para montante (Cinfães, Lamego), quer ainda para as terras da
margem oposta (Bemviver, actualmente
Marco de Canaveses, Penafiel, outrora
Arrifana de Sousa, Aguiar de Sousa).
Nas
travessias utilizavam-se barcos a remos, nos transportes de maior curso o
histórico e inesquecível barco rabelo, cuja construção passou por várias fases
ao longo do tempo.
Conta
Estrabão, na sua “Descrição da Ibéria”, obra escrita no século primeiro antes
de Cristo: “As barcas do rio que antigamente, se construíam com tronco de
árvore fazem-se hoje com várias tábuas! Isto é, uma espécie de jangada.
Continua
porém o mesmo autor, falando da “Lusitânia”:
“Anteriormente
à expedição de Bruto (isto é, antes da sujeição a Roma) estes povos só usavam
barcos de coiro para atravessar os rios, mas um dia começaram a usar canoas
feitas de troncos, embora o seu uso seja muito limitado”.
Daqui
se infere que o barco rabelo, mesmo na sua concepção mais singela, haja
aparecido depois da conquista da Lusitânia pelos romanos.
A
própria vela, adaptada nestes barcos, embora de invento árabe, tomou o nome de
“latina”.
Estes
eram, pois, os barcos rabelos, que ao tempo de D. Afonso Henriques, 1.º rei de
Portugal, singravam no rio Douro acima e abaixo. E o território de “Portugal”,
de acordo com o historiador Edrisi, que viveu nesta época de reconquista
cristã, não passava duma faixa entre os rios Douro e Vouga.
“Portugal
é país de muitos lugares e castelos, com extensas campinas e muitas gentes de
guerra. Quinze milhas (após a foz do rio Vouga) está a desembocadura do Douro,
rio caudaloso, de grande e ruidosa corrente e muito fundo, em cuja margem está
a cidade de Zamora, distante do mar sessenta milhas”.
Neste
“país” Edrisi foca expressamente a povoação de “Nojões”, dada a sua riqueza em
objectos pré-históricos.
E
pretende dizer, ainda, que por Nojões passava o caminho para Santiago de
Compustela, ao afirmar:
“Diremos
que o caminho de Coimbra a Santiago por terra é este.
De
Coimbra à aldeia de Avô (no rio Alva,
afluente do rio Mondego) há uma jornada; desta aldeia à do Outeiro (S.Miguel do Outeiro, no caminho para S.Pedro
do Sul) outra jornada; outra desde ali ao princípio da terra de Portugal
que o caminho atravessa pelo espaço de um dia até chegar a Villabona de Quer (Vila boa de Quires – Marco de Canaveses),
junto ao Douro, cuja passagem se efectua em barcos dispostos para o transito”.
No
século XII, fez-se um quadro de divisão territorial, em tempos ainda
pré-nacionais. O primeiro país de que se fala na parte de Espanha é Portugal,
que pode considerar-se dividido em três comarcas: 1.ª, de Coimbra,
compreendendo nesta capital Montemayor (Montemor-o-velho),
Avô, S. Miguel de Outeiro y Botão, com os rios Mondego e Vouga; 2-ª, de
Zamora, com esta cidade, Salamanca, Zaratán, Ávila e o rio Douro; 3.ª, de
Portugal propriamente dito, faixa compreendida entre os rios Douro e Vouga e em
que não menciona mais que Nojões e talvez Porto. É provável que deva
considerar-se como dependente do mesmo país a região encerrada entre Douro e
Minho, na qual nomeiam Braga e Vilaboa de Quires”.
Genericamente
chamavam os mouros Galícia a todo o domínio “castelhano-leonês”.
Nojões
ocupa, portanto, o lugar de maior destaque no território de “Portugal”, citado
ao lado de Coimbra, de Montemor-o-Velho, de Salamanca, de Zamora e de Ávila.
Nojões
pré-nacional, é pois, deveras conhecido entre os árabes (Edrisi é um
historiador dessa nacionalidade), de certeza pelos monumentos pré-históricos
ali existentes (vários castros erguiam-se pelas circunvizinhanças, são
conhecidas várias mamoas, mas também há testemunhos romanos em vários locais) e
talvez pela riqueza mineralógica das imediações.
Não
admira pois que em 1517 o rei D. Manuel I tendo o seu mordomo em Vilar, no
povoado de Nojões - Castelo de Paiva, a ele tenha entregue o Foral da terra de
Paiva.
É um
cenário que podemos imaginar:
Cavaleiros-fidalgos
montados nos seus cavalos transportam consigo o foral de Paiva que entregam ao
senhor da vila, em vilar, enquanto uma banda de música se faz ouvir para gaudio
de todos quantos ali se encontravam na recepção a tão ilustres cavaleiros
enviados por el –rei D. Manuel I.
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