sexta-feira, 5 de maio de 2017

1517, em Vilar – Nojões – Castelo de Paiva, do Foral da “terra” de Payva.


Comemoração dos 500 anos da entrega, em Maio de 1517, em Vilar – Nojões – Castelo de Paiva, do Foral da “terra” de Payva, concedido por D. Manuel I, rei de Portugal.

Nojões, o rio Douro e os barcos rabelos
Nojões no Portugal de entre Douro e Vouga
Nojões no caminho de Santiago de Compostela
Nojões e o Foral da terra de Paiva

Nojões nunca foi Villa em sentido honorífico, nem concelho, mas tão só Villa com o significado de “propriedade rústica” integrada na terra de Paiva.
Contudo, Nojões foi desde sempre uma localidade de referência no contexto histórico-político, não pelo aglomerado populacional que foi sempre diminuto, mas pela sua situação geográfica, pela potencial riqueza das terras circundantes e pela apetência de fixação de povos primitivos que aqui encontravam condições excepcionais para o seu modo de vida e para as suas deslocações inter-comunidades.
Mesmo antes da era cristã, e depois nesta, foi um sítio importante no cruzamento dos tempos e das políticas dos povos. Não fora isso e não estaríamos aqui hoje.
Guido de Monterey em: “Castelo de Paiva – terras ao léu”, a páginas 73 e seguintes:
“ Comunicava, então, a “terra” de Paiva com o exterior pelo rio Douro, a principal via de transporte até perto dos finais do séc. XIX, quer para jusante (Porto), quer para montante (Cinfães, Lamego), quer ainda para as terras da margem oposta (Bemviver, actualmente Marco de Canaveses, Penafiel, outrora Arrifana de Sousa, Aguiar de Sousa).
Nas travessias utilizavam-se barcos a remos, nos transportes de maior curso o histórico e inesquecível barco rabelo, cuja construção passou por várias fases ao longo do tempo.
Conta Estrabão, na sua “Descrição da Ibéria”, obra escrita no século primeiro antes de Cristo: “As barcas do rio que antigamente, se construíam com tronco de árvore fazem-se hoje com várias tábuas! Isto é, uma espécie de jangada.
Continua porém o mesmo autor, falando da “Lusitânia”:
“Anteriormente à expedição de Bruto (isto é, antes da sujeição a Roma) estes povos só usavam barcos de coiro para atravessar os rios, mas um dia começaram a usar canoas feitas de troncos, embora o seu uso seja muito limitado”.
Daqui se infere que o barco rabelo, mesmo na sua concepção mais singela, haja aparecido depois da conquista da Lusitânia pelos romanos.
A própria vela, adaptada nestes barcos, embora de invento árabe, tomou o nome de “latina”.
Estes eram, pois, os barcos rabelos, que ao tempo de D. Afonso Henriques, 1.º rei de Portugal, singravam no rio Douro acima e abaixo. E o território de “Portugal”, de acordo com o historiador Edrisi, que viveu nesta época de reconquista cristã, não passava duma faixa entre os rios Douro e Vouga.  
“Portugal é país de muitos lugares e castelos, com extensas campinas e muitas gentes de guerra. Quinze milhas (após a foz do rio Vouga) está a desembocadura do Douro, rio caudaloso, de grande e ruidosa corrente e muito fundo, em cuja margem está a cidade de Zamora, distante do mar sessenta milhas”.
Neste “país” Edrisi foca expressamente a povoação de “Nojões”, dada a sua riqueza em objectos pré-históricos.
E pretende dizer, ainda, que por Nojões passava o caminho para Santiago de Compustela, ao afirmar:
“Diremos que o caminho de Coimbra a Santiago por terra é este.
De Coimbra à aldeia de Avô (no rio Alva, afluente do rio Mondego) há uma jornada; desta aldeia à do Outeiro (S.Miguel do Outeiro, no caminho para S.Pedro do Sul) outra jornada; outra desde ali ao princípio da terra de Portugal que o caminho atravessa pelo espaço de um dia até chegar a Villabona de Quer (Vila boa de Quires – Marco de Canaveses), junto ao Douro, cuja passagem se efectua em barcos dispostos para o transito”.
No século XII, fez-se um quadro de divisão territorial, em tempos ainda pré-nacionais. O primeiro país de que se fala na parte de Espanha é Portugal, que pode considerar-se dividido em três comarcas: 1.ª, de Coimbra, compreendendo nesta capital Montemayor (Montemor-o-velho), Avô, S. Miguel de Outeiro y Botão, com os rios Mondego e Vouga; 2-ª, de Zamora, com esta cidade, Salamanca, Zaratán, Ávila e o rio Douro; 3.ª, de Portugal propriamente dito, faixa compreendida entre os rios Douro e Vouga e em que não menciona mais que Nojões e talvez Porto. É provável que deva considerar-se como dependente do mesmo país a região encerrada entre Douro e Minho, na qual nomeiam Braga e Vilaboa de Quires”.
Genericamente chamavam os mouros Galícia a todo o domínio “castelhano-leonês”.
Nojões ocupa, portanto, o lugar de maior destaque no território de “Portugal”, citado ao lado de Coimbra, de Montemor-o-Velho, de Salamanca, de Zamora e de Ávila.
Nojões pré-nacional, é pois, deveras conhecido entre os árabes (Edrisi é um historiador dessa nacionalidade), de certeza pelos monumentos pré-históricos ali existentes (vários castros erguiam-se pelas circunvizinhanças, são conhecidas várias mamoas, mas também há testemunhos romanos em vários locais) e talvez pela riqueza mineralógica das imediações.
Não admira pois que em 1517 o rei D. Manuel I tendo o seu mordomo em Vilar, no povoado de Nojões - Castelo de Paiva, a ele tenha entregue o Foral da terra de Paiva.
É um cenário que podemos imaginar:
Cavaleiros-fidalgos montados nos seus cavalos transportam consigo o foral de Paiva que entregam ao senhor da vila, em vilar, enquanto uma banda de música se faz ouvir para gaudio de todos quantos ali se encontravam na recepção a tão ilustres cavaleiros enviados por el –rei D. Manuel I.

ADEP - Castelo de Paiva,  06/ 05 / 2017 

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