O
Fogo do Inferno, aquele incêndio de 15 e 16 de Outubro de 2017 que assolou
grande parte do norte de Portugal, provocando uma enorme tragédia, com dez
distritos a arder, também castigou severamente o parque florestal do concelho
de Castelo de Paiva, e queimou algumas fábricas, destruiu habitações e anexos,
onde pereceram muitos animais domésticos: porcos, galinhas, coelhos, cães e
gatos, sendo que as televisões olvidaram este, novamente, martirizado concelho,
metido num gueto, sem vias rápidas por onde as pessoas pudessem escapar.
Não
havia na mente dos Paivenses qualquer indício de que isto viesse a acontecer,
mas aconteceu. Alguns souberam do que se estava a passar já o sono ia alto.
Outros tiveram que ser empurrados porta fora, à força. Outros resistiram em
casa na esperança de estarem vivos no dia seguinte. Era um inferno de chamas,
numa noite escura!
Foi
obra do acaso? Foi por condições atmosféricas adversas? Resultou de negligência
ou crime? Não, não era possível haver tantos criminosos à solta àquelas horas.
Resta saber a verdadeira causa de tantos fogos e em tão grande área. Um inferno
de fogo, um verdadeiro fogo do inferno! Uma causa é certa, e todos a apontam:
falta de prevenção.
Muitos
viram o inferno ainda em vida, como nunca o virão para além da morte!
Incrédulos,
transtornados, impotentes para o combate, muitos de nós em pânico, assistiam ao
lavrar das chamas por montes e vales e ao redor das nossas casas, avançando a
seu bel-prazer e ao sabor dos ventos, que se faziam sentir, por vezes fortes e
rápidos.
E
os Bombeiros onde estavam? Coitados, quase não se viam. Alguns assistiam,
certamente impotentes, ao correr das chamas; outros obedecendo a ordens,
procuravam retirar pessoas para lugares mais seguros. E foi assim pelo país
fora.
Sabe-se
que muitas pessoas que tinham saído de casa nesse domingo dia 15 de Outubro não
puderam regressar às suas habitações, impedidas pelas chamas ou pelas
autoridades militares que fechavam as vias públicas; outras não puderam, a tempo,
fugir de suas casas porque já estavam rodeadas de fogo; a outros, a escuridão da
noite não lhes permitira ver os caminhos a seguir; e ainda outros assistiam ao
arder dos seus próprios bens, de olhos abertos e lágrimas abundantes, mas
insuficientes para apagar o fogo. Era o Fogo do Inferno.
E
o Estado? O que faziam os representantes de todos nós?
O
Estado, somos todos nós, é certo, mas estamos representados no Parlamento e no
Governo que, conjuntamente com as instituições por si geridas, deve proteger os
cidadãos em toda a linha.
Instituições
para as quais os cidadãos e os empresários contribuem com os seus impostos,
taxas, coimas, e afins. Instituições que devem precaver-se e saber como, quando
e onde devem proteger os cidadãos e seus haveres dos fenómenos e catástrofes
naturais, aos quais não se pode ser alheio, e que sempre existiram, sem podemos
fugir deles, ou contorná-los, ao longo dos séculos.
Mas
o Estado aparece sempre tarde e a más horas. Aparece quando a “procissão”
destes fenómenos naturais já vai para além do adro; quando já pereceram pessoas
e se destruíram, moralmente, outras vidas, e haveres.
É
urgente. É preciso criar condições nacionais e locais que nos defendam destes
fenómenos da Natureza: fogos, inundações, tempestades, furacões, etc,
atacando-os com prevenção, tanto do Estado como dos cidadãos, e não durante ou
depois dos acontecimentos. O que não
se quer gastar em prevenção, por ironia do destino, acabará por ser gasta em
duplo, ou em triplo, com os prejuízos resultantes de tais fenómenos e, não são
só os cidadãos quem perde, o Estado acaba por perder muito mais e por muito
mais tempo.
O
Fogo, a água, uma catástrofe podem destruir milénios de património
histórico-cultural.
É
tempo de nos defendermos a tempo dos maus tempos. É tempo de chamar a atenção
dos governantes para a protecção dos governados nas cidades, vilas e aldeias
deste país.
Mário
Gonçalves Pereira
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