domingo, 26 de dezembro de 2021

A Vila de Paiva a tratos de polé!

Primeiro foi o Pelourinho, deixado ao abandono atrás do edifício da Cadeia onde o viu Pinho Leal (meados do séc. XIX), até que sumiu..., e nunca mais despertou nas autoridades o interesse em saber onde estará. Pela mesma altura um mosaico retirado de antigo templo romano em Fundões, foi levado para a Boavista, mas perdeu-se. Depois um corropio de atentados destruíram, a coroa do Brazão de armas dos novos Paços do Concelho e o Penedo do Cão. Também a Anta do Vale da Rua (Monumento Nacional) e até o importante documento “Foral”, este que deveria estar num Arquivo Municipal, não sabemos onde estão… Mas há mais, na arquitetura, já no séc. XX, diversos atentados aconteceram: foram as obras de remodelação na fachada do antigo Hotel Ribeiro, na Rua Direita para instalar a CGD; foi a demolição da (Farmácia Central) emblemática “Casa de Brasileiro” na Rua Emidio Navarro; destruição da pérgula do antigo Passal para construção de um “Centro Comercial” da moda e a construção de um grande mamarracho de betão, onde hoje estão 3 bancos, denotam a força dos interesses imobiliários emergentes com desprezo pelo edificado tradicional. Nos nossos dias foi-se o espaço romântico da “ponte” e a Meia-Laranja. Estão a degradar-se e a ruir irremediavelmente: a Casa e Capela da Boavista; a Casa da Torre e Capela de Vegide; a Adega ao lado do Marmoiral; o Paço de Gondim e Portal da Serrada e até o Largo do Conde foi freneticamente revolvido, remexido e repavimentado, sem que se demonstre respeito pelos sinais e vestígios arqueológicos, arrasando irreversivelmente com o desenho, o arvoredo centenário e a “patine” granítica local que embelezava o pedestal central e estátua do Conde de Castelo de Paiva, lá colocada com os donativos do povo, nos anos trinta do séc. passado. Por estes dias que se anunciam obras e o fecho de dois dos mais emblemáticos cafés: Central e Bem Estar e obras também num outro edifício habitacional e de comércio, também ele “de brasileiro torna viagem”, no gaveto das Ruas Direita e Júlio Strecht, o que esperar ? Pagar-se-á nestas novas arfificialidades o devido tributo à memória dos empreendedores emigrantes e construtores de outrora, pedreiros, canteiros, carpinteiros nossos antepassados, alguns que deixaram obra pelo mundo e que por lá merecidamente é venerada? Talvez Pessoa visse nesta mentalidade dos paivenses uma forma de estar e de viver deslumbrada e imitadora, (“…o amor às grandes cidades às novas modas, às “últimas novidades”, é o característico distintivo do provincianismo…”) e recomendasse: (“…Para o provincianismo há só uma terapêutica: é o saber que ele existe. O provincianismo vive da inconsciência; de nos supormos civilizados quando o não somos, de nos supormos civilizados precisamente pelas qualidades por que o não somos. O princípio da cura está na consciência da doença. O da verdade no conhecimento do erro. Quando um doido sabe que está doido, já não está doido. Estamos perto de acordar, disse Novalis, quando sonhamos que sonhamos…”) transcrito de Fernando Pessoa “O Caso Mental Português” Assírio & Alvim.
Martinho Rocha

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