Casa da Torre de Vegide (foto e anotações e comentários
do nosso saudoso associado e benemérito Luís Lousada Soares)
Por toda região, e território, de Arouca, Lousada, Penafiel,
Cinfães, Resende, e também em Castelo de
Paiva, em todas elas, existe ou existiu uma Torre Medieval, símbolo de afirmação
senhorial, mas que teve sem dúvida um forte papel defensivo e de afirmação na
formação da nacionalidade.
Há uma névoa de história que se mistura e embrenha com o
mistério e lendas associadas a estas torres . A nossa imaginação perde-se no
rendilhado – qual filigrana – dos feitos,
memórias, símbolos e vivências que
divisamos na sucessão de acontecimentos ora pacíficos ora belicosos da vida
destes nossos antepassados, nesta região – coração da nossa
nacionalidade.
E desde essa época estes territórios estão também
povoados de estórias, lendas e também
sinais e documentos que atestam a
presença e passagem de insignes e bravas
figuras, estas que à força de espada e alguma crença, ou por conta do ideal
cristão, abriram caminho a esta Nação.
Assim e para referir apenas os mais sonantes, e da ala das
armas, é imperioso referir Afonso
Henriques, Egas Moniz, com vivências nos concelho vizinhos de Cinfães e
Resende; Martim Moniz, que vem a morrer esmagado pela porta na tomada do
Castelo de Lisboa, Álvares Pereira, que por cá, foi senhor de alargadas terras;
Giraldo Giraldes, etc.
Deste Giraldo
Giraldes, ainda hoje figura incontornável e lembrado em Évora, na sua praça principal,
cognominado “O sem pavor”, se diz que tudo começou no plano que engendrou que, para
obter a confiança do alcaide de Évora, se firmava na afinal falsa inimizade com
D. Afonso Henriques e, a quem, dizia se propunha exterminar –, tendo o Mouro acreditado na história e
promessa, recebido Giraldo nos seus aposentos dando-lhe tempo para estudar a topografia e defesa do
Castelo. O documento que transcreve a história da tomada do Castelo de Évora e
o feito de Giraldo faz parte o arquivo nacional catalogado com o n.º 183 de 10
de Julho de 1935 e dele existe cópia nos
arquivos da Câmara de Cinfães. De Giraldo se diz que foi o fundador da Torre da Chã, de Ferreiros de Tendais,
torre que foi ingloriamente desmontada e aproveitadas as suas
pedras para alguma construção “mais rentável”.
História triste esta do abandono, desleixo e saque a que vimos
assistindo, impunemente, e um pouco por todo o lado, que nos faz lembrar o que
vimos assistindo nas Pias dos Mouros, Mamoa de Carvalho Mau, Gondim e Serrada e
Casa da Torre de Vegide, para não falar da Anta do Vale da Rua, Penedo do Cão
ou Gruta Del´Rei Garcia e uns tantos outros locais e construções bem distintos
e mais recentes.
Vamos deixar aqui uma pequena recolha de alguns destes
monumentos para creditar o valor e enquadramento do nosso concelho nestas
andanças e história da nossa fundação, apelando e procurando sensibilizar pelo
muito que há a fazer no que ainda nos resta destas pedras, tão amiudadamente mal
tratadas como temos referido.
Honra de
Barbosa, Rans, Penafiel
A atual torre de Barbosa poderá esconder um
dos mais antigos testemunhos de arquitetura militar medieval de Portugal.
A torre é uma estrutura de planta
quadrangular, de dois andares marcados por vãos abertos nos alçados, e
encimada por uma linha de ameias a toda a sua volta, dividida em
dois pisos e rematada por merlões manuelinos. No piso superior
da torre destaca-se uma janela de lintel manuelino, sobre a qual
existe um pequeno cordão que circunda o edifício e de onde sobressaem
quatro gárgulas em forma de canhão.O “aparato denso dos muros”, que aparecem
aqui “desprovidos de aberturas”, confere-lhe um aspecto mais arcaico que aquele
que seria de supor numa construção do século XV, embora esta seja uma convicção
com base em analogias estilísticas, não se alicerçando em datações absolutas.
No reinado de D. Manuel, a torre foi objecto de uma modernização, cujo alcance é ainda mal conhecido. As janelas
do piso superior foram modificadas, para albergar um arco
polilobado abatido de perfil manuelino. Dessa campanha, deverão datar
também as ameias chanfradas que rodeiam o edifício e as
gárgulas de canhão dispostas
nos seus ângulos, aspectos que “denunciam
a sensibilidade da época manuelina”.
A tradição tem
apontado no entanto o ano de 866 como o da construção de uma primitiva
estrutura militar neste local, na sequência da doação do lugar de Bordalo,
feita por Afonso
III das Astúrias para
o conde D. Hermenegildo.
No século XII,no reinado de D.Afonso Henriques,
a Terra de Penafiel esteve na posse de D. Mem
Moniz (irmão
de D. Egas Moniz, o aio),
nobre a que se atribui a construção de um paço fortificado no local. Por
testamento, a propriedade passou a sua filha, D. Teresa
Mendes e,
por casamento desta, para a mão de D. Sancho Nunes de Barbosa, o
primeiro nobre a usar este nome em Portugal e cuja existência se deve a
alteração do topónimo.
O aspecto atual da torre medieval data de meados do século XIV e,
posteriormente, de duas reformas levadas a cabo nos reinados de D. João I e de D. Manuel. Em 1334, a honra foi repartida por vários herdeiros,
cabendo a parte que incluía a torre senhorial a D. Leonor
Mendes e
a seu marido, D. Martim
Anes de Sousa. Com a subida ao poder da nova dinastia de Avis, a propriedade foi doada aos Malafaias e Azevedo,
que a transformaram em solar familiar.
Torre de
Chã. Ferreiros de Tendais - Cinfães
Desenho à pena do Dr.Cabral Pinto de Rezende
A Torre de Chã (ou
Torre de Cham) era originalmente uma fortificação, posteriormente
transformada em Solar da Brasonada família Pinto, (já por nós mencionada na
publicação "Torre da Lagariça/A Illustre Casa de Ramires")
de Riba Bestança. A lenda identifica como fundador da torre, o famoso cavaleiro
moçárabe* Geraldo Giraldes. Esta fortificação
localizava-se num alto pedregoso da serra de Montemuro, perto do
ribeiro de Bestança e da vila de Ferreiros de Tendais.
No ano de 1939, a
antiquíssima Torre de Chã, encontrava-se em absoluto estado de
ruína, já fazia muitos anos e seria demolida, alegadamente para
evitar o colapso total. Esta demolição, foi sem duvida alguma, mais
uma grande perda do nosso património histórico.
Nota: * Moçárabes
(do árabe مستعرب musta'rib, "arabizado" ) eram cristãos ibéricos que viviam
sob o governo muçulmano no Al-Andalus.
Os
seus descendentes não se converteramao Islão, mas adoptaram elementos da língua
e cultura árabe. Eram, principalmente, católicos romanos de rito visigótico ou
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in Monumentos
Desaparecidos
Torre da Lagariça, Resende
Localizada na
Freguesia de S. Cipriano, no Concelho de Resende, data da primeira metade do
século XII a edificação da Torre da Lagariça, um sólido torreão militar
de planta quadrada, que ficaria imortalizado na
obra de Eça de
Queiroz, "A Illustre Casa de Ramires".
O acesso a este imóvel
pode ser feito pela E.N. 222 (ao km 95,5, e a 100 m, por caminho
rural).A fundação da torre
teria como primeiro objectivo a defesa da linha do Douro na época da
reconquista Cristã, servindo de torre de atalaia, mas a sua função
militar perdeu significado com o estabelecimento as fronteiras mais a
norte. Como tal, no século XVI a torre seria adquirida pela Brasonada família
Pinto, senhores da Torre da Chã e do Paço de Covelas, e em 1610
voltaria a ser vendida, desta vez à família Cochofel, a qual é sua proprietária.
Deverá datar do início
do século XVII a adaptação da torre medieval para habitação
senhorial, sendo então edificado um corpo de planimetria em L em
volta do núcleo original, integrando-o num dos extremos da casa. O
corpo do solar divide-se por três registos distintos e as fachadas são
marcadas pela disposição de portas e janelas, de molduras
rectangulares, tendo sido construída uma varanda alpendrada no piso superior na
fachada principal. A torre não foi alterada, mantendo a planimetria
original e as feições das suas fachadas, que se destacam pelo reduzido
número de fenestrações. Actualmente
está classificada como IIP (Imóvel de Interesse Público.
Torre e Solar dos Metellos Figueira Castelo Rodrigo – Guarda
" Desconhece-se a data em que a mesma foi construída,
podendo ter as suas origens no Sec. XIV ou XV; há quem admita que possa ser o
resto de uma qualquer fortificação, já que a Torre tem características
marcadamente defensivas (a existência de "mata-cães", ou seja,
buracos no chão dos varandins destinados a através deles serem despejados líquidos
quentes - água ou azeite - com vista a impedir a escalada). Numa das fachadas
tem a pedra de armas dos Metellos.”
texto de Pedro Metello de Nápoles
“torre de planta quadrada obedece à estrutura das torres de
menagem medievais, não tendo no entanto qualquer carácter defensivo, uma vez
que nesta época as torres eram erigidas como meros símbolos senhoriais.”
Nas centúrias seguintes, a estrutura da Torre dos Metelos foi-se
revelando insuficiente para servir de habitação a uma família senhorial
certamente numerosa, sendo edificado no século XVII, no espaço contíguo, um
solar.
Torre de Vilar do Torno e Alentém, de Lousada
A
Torre de Vilar, construída entre a segunda metade do século XIII e o início do
século XIV, evidencia o poder senhorial sobre o território, sendo um
testemunho da existência da domus fortis, uma residência senhorial fortificada
no Tâmega e Sousa.
Existem
dificuldades na datação, em virtude de apresentar soluções estruturais de gosto
românico. As Inquirições de 1258 referem Sancte Marie de Vilar como Honra de D.
Gil Martins e dos seus descendentes, da linhagem dos Ribavizela.
O
rei D. Fernando doa Vilar de Torno, Unhão e Meinedo a Aires Gomes da Silva, em
1367, documentando-se a manutenção da Torre na mesma família, ao longo do
século XV.
Torres dos Mouros, Arouca
Quadrangular, de estilo
gótico, com uma cisterna (hoje aterrada) com seteiros e uma inscrição ainda por
decifrar. Datada do séc. XII, é um monumento não classificado. Situa-se no
lugar de Lourosa de Campos, da freguesia do Burgo. In
cmarouca
A torre, ou castelo, de Vilharigues
Foi edificada nos finais do século XIII,
estando possivelmente inserida no sistema defensivo das terras de Lafões,
estruturado desde o século XI, que incluía várias torres senhoriais e atalaias
dispersas pela região.
Os elementos estruturais que a constituem,
como a presença de matacães, foram introduzidos na arquitectura militar
portuguesa durante o reinado de D. Afonso III, e no reinado seguinte a
arquitectura senhorial assimilou-os como signos de prestígio e poder.
De planta quadrangular, erigida sobre um
podium , a torre encontra-se em avançado estado de ruína, subsistindo muito
pouco da estrutura original.
Reconstituem-se duas das fachadas, uma com
janela de mainel e parte de um balcão de sacada assente sobre quatro cachorros,
outra com balcão ao qual se acede por porta rectangular.
O interior estaria dividido em três andares,
sendo ainda visíveis os suportes murários dos pavimentos.
1 comentário:
Caro dinamizador do Blogue.
Vim parar aqui por acaso. Permita-me um pequena correção relativamente à foto que publica e que refere como sendo a «Torre de Vilar do Torno e Alentém, de Lousada.» A foto diz respeito à «Torre dos Alcoforados», ou popularmente conhecida como, "Torre dos Mouros", ou ainda, " Torre Alta". Situa-se em Lordelo, concelho de Paredes, no lugar da Torre.
Parabéns pelo blogue.
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