A ESTÁTUA DO CONDE DE CASTELO DE
PAIVA
Uma estátua que andou em bolandas,
que aguardou, em tempo, 23 anos pelo
seu pedestal!
É verdade. É o que reza a história.
História que muitos desconhecem.
Segundo dados recolhidos no livro
Castelo de Paiva – Terras ao léu de Guido de Monterey, a vida deste conde “foi
um holocausto (entenda-se sacrifício)
em prol, não só do concelho de Castelo de Paiva, mas também do de Cinfães e até
do de Arouca.
Especialmente Castelo de Paiva e
Cinfães devem-lhe o surto do progresso, que os acometeu, pelas duas últimas
décadas do séc. XIX e pela primeira do século XX.
Pontes, estradas, edifícios, (actuais
Paços do Concelho), alguma iluminação pública, enfim, um nunca acabar de
melhoramentos com que os dois concelhos (Castelo de Paiva e Cinfães) foram
bafejados”.
Noutro passo: “Era um patriota inesquecível, uma personagem gloriosa, cujo nome há-de
fulgurar sempre, com um brilho e resplendor ofuscantes, nos anais da história
local.
Castelo de Paiva deve-lhe muito, Castelo
de Paiva deve-lhe tudo, tudo o que foi feito até 5 de Outubro de 1910”. (Do
jornal “O Defensor”, de Castelo de Paiva, de 31 de Maio de 1923).
Esta estátua inaugurada a 23 de
Setembro de 1928, cinco anos após a morte do Conde, tem uma história digna de ser reproduzida para
memória futura e para quantos ainda não tiveram o privilégio de a conhecer.
Foi um monumento erigido e emanado da
vontade do povo, do povo de Castelo de Paiva.
A transição da Monarquia para a
República, implantada a 5 de Outubro de 1910, e os parcos recursos da Câmara
Municipal constituíram um óbice na sua instalação definitiva, no tempo que
seria desejável.
Obra do Escultor António Teixeira
Lopes, executada no princípio do séc. XX, ainda em vida do Conde de Castelo de
Paiva.
Os relatos que iam surgindo na
imprensa dão-nos nota, a par e passo, da evolução dos trabalhos:
“Já se acha nos paços do concelho a
estátua em bronze do Sr. Conde de Castelo de Paiva, que este concelho lhe vai
erigir no largo da igreja e que espera o pedestal para ser exposta ao público”.
(Do jornal “Comércio de Penafiel” de 31 de Maio de 1905).
Longo foi, portanto, o tempo que
mediou entre a modelação da estátua e a feitura do pedestal, demora a que não
foi alheia a implantação da República em 1910.
Para levar avante a consumação do
projecto, nomeou-se uma “Comissão Central de Obras” constituída por Augusto da
Maia Romão, Dr. Henrique da Silva Amorim, Sebastião de Oliveira Damas, Padre
José Lourenço Pereira de Matos, Eng.º Nicolau de Freitas Carvalho, António
Mendes da Costa e Francisco Serrão Coelho de Sampaio.
Ficou esta ”Comissão Central”
instalada a 25 de Outubro de 1926, ano em que se iniciaram as respectivas
fundações.
“Já começaram os trabalhos para o
levantamento da estátua ao Conde de Castelo de Paiva. As “comissões paroquiais”
encarregadas de angariar donativos para a obra da estátua em breve iniciarão os
seus trabalhos”. (Do jornal “O Defensor”, de Castelo de Paiva, de 30 de
Dezembro de 1926).
Fez-se a implantação da pedra fundamental
no dia 30 de Janeiro de 1927.
“Procedeu-se no passado domingo (30
de Janeiro) ao lançamento da primeira pedra do monumento com que o concelho
resolveu pagar a dívida de gratidão até agora em aberto”. (Idem, de 3 de
Fevereiro de 1927).
Colocada a estátua no respectivo
pedestal em Agosto de 1927.
“Já se encontra no seu pedestal, no
largo fronteiriço aos Paços do Concelho desta vila, a estátua do saudoso Conde
de Castelo de Paiva. As obras estão quase no seu termo”. (Idem, de 18 de Agosto
de 1927).
“A nossa vila de Sobrado terá, muito
em breve, a embelezá-la a estátua do grande protector desta terra, que foi o
Conde de Castelo de Paiva”. (Do jornal “Defesa de Arouca” de 25 de Dezembro e
1926).
Aquando do lançamento da primeira
pedra, cerimónia realizada a 30 de Janeiro de 1927, informa este mesmo
semanário arouquense:
“Foi imponentíssima a cerimónia do
lançamento da primeira pedra para o levantamento da estátua ao grande Sr. Conde
de Castelo de Paiva.
Apesar do dia invernoso do passado
domingo, 30 de Janeiro, à risonha vila de Sobrado acudiram centenas de pessoas
de todas as categorias sociais do concelho e dos concelhos limítrofes”. (Do
jornal “Defesa de Arouca” de 5 de Fevereiro de 1927).
Com as obras a aproximarem-se do seu
termo, coloca-se o gradeamento, que o envolve, em Agosto de 1928.
“O monumento já está concluído,
estando, actualmente, a ser dados os últimos retoques de pintura no gradeamento
que o circunda”. (Do jornal “Comércio de Penafiel” de 25 de Agosto de 1928).
A estátua, pedestre, tem 2,85 metros
de altura, é escultura de António Teixeira Lopes e assenta num belo pedestal de
granito, projecto do arquitecto Michelangelo Soá, pedestal, esse, executado por
subscrição popular.
“Na subscrição concelhia não se
registou em toda ela uma única recusa, ainda que modestas, mas cheias de
satisfação”. (Do jornal “O Comércio do Porto” de 25 de Setembro de 1928).
Após a recepção feita às autoridades,
com a presença de três bandas de música, procedeu-se ao descerramento da
estátua.
“Que se efectuou perante uma
assistência enorme de pessoas, no meio da maior comoção. Falaram na cerimónia
os Srs. Coronel Strecht de Vasconcelos, José Pereira Pinto, e D. José Ferrão
Castelo Branco (conde de Castelo de Paiva e neto do homenageado).
“Durante a tarde esteve concorridíssimo
o arraial no Largo do Conde de Castelo de Paiva, tendo as iluminações, à noite,
constituído uma verdadeira surpresa”.
“Estavam representadas as Câmaras
Municipais de Penafiel, de Cinfães e de Arouca”. (Do jornal “O Comércio do
Porto”, idem).
E para finalizar esta história sempre direi
que “resultante da vontade de um pobre
povo sempre se fazem obras grandiosas”.
Castelo de Paiva – ADEP - 1 de Setembro de 2016.
Mário Gonçalves Pereira
2 comentários:
Na minha opinião, deveria ser colocada uma placa com toda a informação sobre este Senhor e o que ele representou para a região.
João Monteiro
Bom seria a recuperação no mínimo da capela da Boavista para complementar o seu passado.
Dado que a recuperação da habilitação não será rentável a possíveis empreendedores.
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