- fotos do colaborador Jorge Paiva -
LOCOMOTIVA CHOUPELLO DAS EX-MINAS DO
PEJÃO
UMA RELÍQUIA DO SÉC. XX
NO MUSEU NACIONAL FERROVIÁRIO NO
ENTRONCAMENTO
Transcrição da ficha desta locomotiva
no museu do Entroncamento
N.º de inventário: FMNF/ENT/000038 – construída
em 1914
Localização: Nave 14 – linha 6
“Locomotiva construída especificamente para a via industrial
com 30 cavalos de potência. Foi construída pela casa alemã Orenstein &
koppel e deverá ter tido utilização militar durante a 1.ª Guerra pelo exército
alemão, dado que lhe foi incorporado na chaminé, um sistema para reter as
faúlhas para que esta pudesse operar em campo de batalha e em zonas sensíveis
onde existia armamento. Foi comprada em segunda mão pela Empresa Carbonífera do
Douro em 1917. Foi usada como locomotiva de manobras carregando vagões com
carvão para canais de descarga.
Com a desactivação da linha férrea mineira em meados da
década de 70 (séc. XX), esta locomotiva ficou alocada à Direcção Geral de
Minas, sendo posteriormente transferida para as oficinas da CP em Campanhã, juntamente
com outras máquinas tendo em vista a sua reparação e preservação”.
Nota:
Depois da transcrição desta ficha e enquanto observador e conhecedor
do local onde esta locomotiva operou, não quero deixar de referir e apontar,
aqui, alguns pontos de vista que reputo de importantes e esclarecedores:
1-
Esta
locomotiva foi construída na Alemanha em 1914. A primeira Guerra, ou guerra
mundial, ocorreu entre 28 de Julho de 1914 e 11 de Novembro de 1918. A
aquisição pela ECD só se deu em 1917. A minha opinião, com estes factos, é a de
que deve estar correcta a tese que aponta para a sua utilização em operações
militares na Alemanha, antes da vinda para Portugal;
2-
A
aquisição em 1917 pela ECD, teria como finalidade a sua utilização no
transporte de carvão nas primeiras minas, isto é no Choupelo, Monte das
Cavadinhas, em substituição do transporte do carvão que então se fazia em
carros de bois;
3-
O
local de exploração mineira, um dos pólos de maior exploração nos anos de
1917-1921, não seria alheio à escolha para o seu nome de baptismo: Choupello,
como mais tarde se veio a verificar com nomes de outros locais para nomes de
outras locomotivas;
4-
Recordo
que num artigo-entrevista do jornal “O Pejão” do Eng.Técnico Martins Aires, o
mesmo dizia, a certa altura, a propósito da mina do Limoeiro, “que era a única
onde entrava uma locomotiva”. Essa locomotiva, digo eu, só podia ser a Choupelo
pelas seguintes razões: a primeira é a de que aquela era a mina de maior
exploração na data da chegada da locomotiva; a segunda é a de que a locomotiva
era de dimensões mais reduzidas do que as das máquinas adquiridas
posteriormente.
Mas não entrava na galeria como possa
depreender-se. Ia ao princípio da galeria, à boca da mina;
5-
Esta
foi a primeira locomotiva adquirida pela ECD e a primeira a ser utilizada no
Choupelo no transporte de carvão para o canal de descarga da Gardunha e mais
tarde para o canal de Martelo da Arte. É provável que também tenha trabalhado
na linha Ervedal-Nível 80. Se operou nessa linha, um dos condutores foi meu pai
António da Silva Pereira;
6-
A
aquisição desta locomotiva pela ECD, pode ter explotado a aquisição da máquina
a vapor para extracção de carvão a céu aberto no Monte das Cavadinhas, no
Pejão, que chegou ali pelos anos 1920/21;
7-
Antes
de ser exposta no Entroncamento, esta locomotiva esteve à guarda da CP no
Espaço Museológico de Estremoz.
Uma relíquia das ex-Minas do Pejão
Castelo de Paiva – ADEP, 2 de Setembro de 2016
Mário Gonçalves Pereira
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