quarta-feira, 17 de julho de 2013

Vulto paivense, António da Costa Paiva, estudou as Selvagens, no séc. XIX ?




Em 2013 noticiou-se o 50.º aniversário da primeira expedição científica às ilhas, realizada pelo ornitólogo de origem inglesa Paul Alexander Zino e que conduziu ao estabelecimento nas Selvagens da mais antiga reserva natural do país (1971). Porém um vulto paivense das letras e das ciências, António da Costa Paiva (Barão de Castelo de Paiva) desenvolveu atividade de exploração científica nas ilhas da Macaronésia (que inclui os arquipélagos da Açores, Madeira, Canárias, Selvagens e Cabo Verde), onde estudou insetos e moluscos e descobriu novas espécies, na companhia de distintos cientistas como John Edward Gray e Vernon Wollaston. Ficará o trabalho de um paivense ligado à maior ZEE da União Europeia ?

Já em 2013 o Presidente da República visitou este sítio classificado como Rede Natura 2000, pretendendo naturalmente contribuir com este gesto para a  reafirmação da soberania daquele território que confere a Portugal a maior Zona Económica Exclusiva da União Europeia (1,6 milhões de quilómetros quadrados), potenciando além do mais a dimensão de mais 2,15 milhões de quilómetros da plataforma continental, cuja jurisdição Lisboa quer ver reconhecida pelas Nações Unidas.

Quem foi António da Costa Paiva (Barão de Castelo de Paiva) recorte de biografia com base na informação da FLUP)





António da Costa de Paiva (Barão de Castelo de Paiva)
Médico, botânico, professor e 1.º diretor do Jardim Botânico

Biografia de António da Costa de Paiva (Barão de Castelo de Paiva, 1806-1879)
António da Costa de Paiva, filho de Manuel José da Nóbrega, negociante, natural de Castelo de Paiva, e de D. Maria do Carmo da Costa, nasceu no Porto a 12 de outubro de 1806.

Bacharel em Filosofia e Medicina pela Universidade de Coimbra e doutor em Medicina pela Universidade de Paris, obteve este último grau após a defesa de uma tese sobre a tísica pulmonar, elaborada durante o exílio a que o conduziram os seus ideais liberais. Quando pôde regressar a Portugal, exerceu clínica privada.

Entre 1834 e 1836 regeu a cadeira de Filosofia Racional e Moral na Academia Real de Marinha e Comércio da Cidade do Porto. Em 1836 foi nomeado lente de Agricultura e Botânica nesta Academia por decreto de 20 de outubro e carta régia de 3 de janeiro de 1837. Neste ano, aquando da reforma da Academia Real da Marinha e Comércio e criação da Academia Politécnica do Porto, passou a ser o 1.º lente proprietário da 10.ª cadeira – Botânica, Agricultura, Metalurgia e Arte de Minas, funções que exerceu entre 1838 e 1858. Por inerência do cargo, foi nomeado primeiro diretor do Jardim Botânico pelo decreto de 11 de janeiro e carta régia de 28 de julho de 1838. Assegurou estas funções entre 1838 e 1855.

Um ataque de tuberculose pulmonar afastou-o da cátedra, recebendo tratamento na ilha da Madeira, tendo-se mais tarde jubilado com a categoria de lente por decreto de 31 de dezembro de 1858 e carta régia de 19 de janeiro de 1859.
O restabelecimento do seu estado de saúde possibilitou-lhe uma intensa atividade de exploração científica nas chamadas ilhas da Macaronésia, sobretudo nos arquipélagos da Madeira, Canárias e Cabo Verde, onde estudou insetos e moluscos e descobriu novas espécies, na companhia de distintos cientistas como John Edward Gray e Vernon Wollaston. As coleções que reuniu foram posteriormente estudadas por Bernardino António Gomes e Barbosa du Bocage.

Escreveu sobretudo trabalhos de caráter científico. Foi autor de obras como "Aphorismos de medicina e cirurgia práticas" (1837), "Relatório do Barão de Castello de Paiva, encarregado pelo governo de estudar o estado da Ilha da Madeira, sob as relações agrícolas e económicas" (1853), "Descripção de duas espécies novas de coleópteros das Ilhas Canárias" (1861), "Novíssimos ou últimos Fins do Homem" (1866), depois de se converter ao cristianismo em 1851, e "Biographia" (1877).
Iniciou a publicação de obras literárias com a tradução comentada dos romances de Voltaire. Em 1837 editou a "Crónica d'El-Rei D. Sebastião", de Frei Bernardo da Cruz, juntamente com Alexandre Herculano (1810-1877) e o "Roteiro da Viagem de Vasco da Gama" atribuído a Álvaro Velho, com Diogo Kopke (1805-1875); numa segunda edição, em 1860, com Alexandre Herculano.
A propósito da sua obra escrita, disse Camilo Castelo Branco: "A forma, o dizer, é de tão bom quilate portuguez, que apenas podereis estremar a vernaculidade do auctor dos Soliloquios d'entre as paginas lusitaníssimas do auctor dos Novissimos, que tanto hombro se eleva como o oratoriano (P. Manuel Bernardes), de quem temos um devoto livro idêntico na tenção e no título."
Júlio Dinis referiu-se ao Barão de Castelo de Paiva na sua obra "Os Fidalgos da Casa Mourisca", a propósito de um animado diálogo sobre Frenologia, Metafísica e Filosofia que ele terá mantido com um alemão, administrador da Casa de Orneias, na Madeira.

No decurso da sua carreira, António da Costa de Paiva foi distinguido com diversos títulos e cargos honoríficos. O grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo e da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa foi-lhe atribuído em 1836 e o título nobiliárquico de Barão de Castelo de Paiva em 1854.

António da Costa de Paiva foi membro de academias e sociedades científicas, nacionais e estrangeiras, como a Academia Real das Ciências de Lisboa (sócio efetivo), a Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, a Sociedade Zoológica de Londres, a Sociedade de História Natural de Cassel, a Sociedade das Ciências Naturais de Estrasburgo, as sociedades botânicas de França e Edimburgo, a Real Academia Imperial do Rio de Janeiro, a Academia de Medicina e Cirurgia de Toulouse (sócio correspondente) e a Academia de Medicina de Montpellier (sócio correspondente). Foi vogal extraordinário do Conselho Geral de Instrução Pública, até à extinção deste em 1868.

Legou parte da sua fortuna a hospitais, instituições de caridade e a associações científicas e culturais e estabelecimentos de ensino. Ofereceu à Academia Real das Ciências de Lisboa o seu herbário da Madeira, composto por 600 espécies, e uma coleção botânica de 372 espécies, recolhida nas ilhas das Canárias. Ofereceu ao Museu dos Jardins Botânicos Reais de Kew, em Inglaterra, um herbário com plantas indígenas de Portugal e dos Açores. À Academia Politécnica do Porto doou uma inscrição de assentamento da Dívida Pública Portuguesa no valor de 1 000$00 reis, em benefício do Jardim Botânico. Em 1879 deixou 1 conto de reis à Academia Portuense de Belas Artes para a criação de um prémio a atribuir ao melhor quadro de temática bíblica presente na exposição trienal daquela Academia. Instituiu um legado – o Legado do Barão de Castelo de Paiva - na Escola Médico-Cirúrgica do Porto: "Pertence, por minha morte, a propriedade d'esta inscripção á Escola Medico-Cirurgica da cidade do Porto para servir de premio o seu juro anual ao alumno da mesma Escola que mais destreza mostrar nas operações cirúrgicas, ou nas dissecações anatomicas do corpo humano; reservando para mim o direito de receber o juro enquanto eu vivo fôr. Funchal, 22 d'outubro de 1874". (Annuario da Escola Medico-Cirurgica do Porto : Anno lectivo de 1906-1907, p.143)

Faleceu na ilha da Madeira a 4 de junho de 1879.


Universidade Digital / Gestão de Informação, 2012. Revisão científica de Jorge Fernandes Alves (FLUP)


P.S.
Recentemente tivemos a grata noticia da criação pelo Museu de Ilhavo do Prémio Octávio Lixa Filgueiras. Orgulha-nos que mais um paivense - outro expoente do saber e da nossa cultura - premeie o mérito e sirva de exemplo para alunos e investigadores aplicados e apaixonados pelo progresso da ciência e da arte.
Desejamos a este prémio a perenidade da do homónimo Barão que vigora desde o séc. XIX e que premiou figuras ilustres como por exemplo Isolino Vaz, artista e professor gaiense que como o Arquitecto Filgueiras - foram ambos colaboradores da Revista "O Pejão".









escreveu Martinho Rocha


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