Capela de Santo António - Casa da Boavista
S. João / Santo António: qual deles festejar em Paiva?
Haverá argumentos para ambas as escolhas. Em todo o
caso agora em plena comemoração de S. João com folguedos
tamanhos, marchas, foguetórios e noitadas animadas em que até o vinho vai
escorrer pelas gargantas, haverá quem aconselhe se deixe o assunto no sossego,
como de resto tem estado.
Pode parecer portanto despropositado em plenas comemorações
de S. João vir falar de Santo António e se a favor daquele pesam estes anos de
tradição com marchas e bailaricos a
mobilizar as escolas e os bairros, a favor deste temos locais que passados
estes anos continuam a fixar lendas que não esquecem aos populares e
que fascinam autores e poetas, narrativas das andanças e proezas pelas fontes
e caminhos da criança prodígio que viria
ser “ O Santo” como carinhosamente é tratado em Pádua.
Discutir o assunto nesta
ocasião, áparte a presumida falta de
concentração por causas dos festejos, terá as suas vantagens para se
ponderarem/compararem os gastos/investimentos que temos vindo a fazer no S. João. É que deve pesar-nos na
consciência o estado em que estamos a deixar cair esses locais de referência,
alguns a saque, todos ao abandono e degradados.
Quando se perceber que a defesa que se faz pela preservação
da memória e divulgação deste valor cultural não acontece por qualquer
capricho, adoração de santidade – ainda que ela tenha grande valor social e
espiritual - , clubite ou partidarismo, então talvez estejamos no bom caminho e
todos tenhamos algo a ganhar. É que Santo António é possivelmente o português (e
de ascendência paivense!), mais conhecido por esse Mundo fora, desde sempre,
qual Figo, Cristiano Ronaldo ou António Guterres. Veja-se a profusão de
imagens, em altares, nichos de azulejos, estátuas e memórias por tudo quanto é
sitio, nos quatro continentes, como se pode ver na obra de Mário Gonçalves
Pereira “Santo António de Lisboa – encontro nas origens – Castelo de Paiva”,
que a ADEP ajudou a publicar recentemente.
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De Pinho Leal, desse incontornável historiador, que merecia nome de rua na nossa terra, que nos deixou algumas deliciosas referências sobre os nossos valores sociais e culturais e as muitas, não menos credíveis, constatações de inúmeros vestígios arqueológicos e não só; a que obrigatoriamente havemos de voltar, transcrevemos: " Com razão se ufana esta villa de ser pátria de D. Soeiro de Azevedo, que aqui viveu e falleceu.
A uns 150 metros a O.N.O. da egreja matriz, e do lado da retaguarda d'ella, em um mato, se vê um montão de entulho, e tenues vestígios de alicerces que, segundo a tradição, são restos do paço em que viveu e falleceu D. Soeiro.
De D. Soeiro e de sua mulher, nasceu Maria Soares de Azevedo que casou em S. Vicente da Calçada, acima de Entre-o-Rios (na margem direita do Douro) e deste casamento nasceu D. Theresa d'Azevedo, que casou em Lisboa com Martim (ou Martinho) de Bulhões e foram paes do nosso popular Santo António de Lisboa"(*).
Referência interessante esta se considerarmos que esses vestígios de alicerces resistiram até aos finais do século passado, a esse sítio, ou seja a esse terreno se chamou "O campo de trás da Torre". Efectivamente podemos testemunhar que um residente e seu proprietário nos assegurou que no local onde procedeu a obras de construção "havia de facto uma entulheira antiga ". Episódios destes poderiamos inumerar bastantes...e nem por isso foram (que se saiba) objecto de um estudo mais recente e avalisado, tanto mais que também há quem goste de desconsiderar os relatos e opiniões de Pinho Leal.
Esquecemos com facilidade que há época (1880) não existiam ainda boldozeres e retroescavadoras e não se fazia então sentir pelos outeiros e quebradas (qual eco, encontrado em Paiva, a que também Pinho Leal quis deixar associado o seu dote de ouvidor, deixando disso registo, e de que havemos de falar...) tal surto de construção que tudo arrasou à sua passagem, como nos aconteceu até à crise em que caímos; além de que Pinho Leal viveu alguns anos em Paiva.
E é por estas razões que tantas e tantas vezes apelamos para que haja respeito pelos locais e vestígios arqueológicos, (incluimos aqui naturalmente as construções e terraplenagens, as plantações desenfreadas de eucaliptais, mas também os trilhos de desportos radicais e outros) sendo que os mesmos estão protegidos por lei e isso deveria bastar porque qualquer atropelo ou desrespeito é também uma ofensa e empobrecimento da nossa consciência cívica e cultural.
(*) sobre este tema hoje recomendamos a aquisição da obra "Santo António de Lisboa- encontro nas origens- Castelo de Paiva" de Mário Gonçalves Pereira. (à venda na ADEP, no Posto de Turismo, no intermarché, na Tabacaria Mil e no Hotel da Raiva).
Para saber mais ver neste blogue o
separador Santo António...
escreveu Martinho Rocha