Algumas pessoas pensaram ver na foto a antiga barca de passagem de Pedorido. Não é ela embora o texto se lhe refira e seja também uma justa homenagem àquela actividade e quem a ela se dedicou.
A reportagem do D. N. como pode ler-se acima refere-se à construção do Rabelo "Douro Paiva" em 1986,
E porque a temática do rabelo é quanto a nós uma referência incontornável na nossa história, mas também um potencial por explorar, segue abaixo texto pubilcado, há alguns anos e agora revisto, que além de inumerar algumas recordações menos agradáveis dá ideias sobre a forma de alicerçar politicas que não caiam nos erros já detectados
recorte revisto de publicação efectuada no ano em que comemoramos 25 anos de actividade
CASTELO DE
PAIVA
ADEP-
Associação de Estudo e Defesa do Património Histórico-Cultural de Castelo de
Paiva - Pessoa Colectiva de Utilidade Pública
ONGA de âmbito regional, assim
inscrita no Instituto do Ambiente
DICIONÁRIO
DA ADEP
Neste
espaço procuramos dar algumas breves pinceladas sobre as mais variadas causas e
coisas que se ligam à área de actuação, projectos e dificuldades
encontradas, por esta associação e seus
membros, ao longo dos seus 25 anos de
actividade.
Barco
Rabelo
O Turismo no Douro e em
Paiva (ou a arte de vender gato por lebre)
Actualmente e com bastante
frequência - a suficiente para nos causar repulsa - vemos e ouvimos promover e
divulgar viagens e passeios no Douro em barco
rabelo. Chamar barco rabelo àquela
embarcação, que vimos passar, é pura e simplesmente mentira e ao fazê-lo, as
agências, as câmaras municipais e outros interessados estão a prestar um mau serviço
ao turismo.
Imagine o leitor que, em viagem de
férias a Veneza, projectava, como previa o itinerário acordado, um passeio de
gôndola nos canais e, aí chegado, passeavam-no algures, acomodado numa “banheira
motorizada”, com uma silhueta de lata a imitar o gondoleiro ao som de musica
gravada ! Impensável, isto não acontece no turismo que se preze. Porquê então,
em Portugal, no Douro e também em Castelo de Paiva ?
Esta forma de trabalhar, bem típica do nosso chico-espertismo, procurando vender gato por lebre, é bom que
acabe, porque estamos apenas a
enganar-nos a nós próprios...
Um rabelo tem um tipicismo próprio,
tem vela, remos e cordame, tem uma apegada e o remo maior é a chamada espadela.
O barco rabelo para Armando Matos é “
a mais típica e sugestiva embarcação dos rios nacionais” e o Arquitecto
Filgueiras transcreve na sua obra “Barco
rabelo – um retrato de família” o que ele considera “a descrição tipológica
mais evidente “Barcaça familiar do Douro que tem por leme um remo grande a que
chamam espadela, e que tem mais dois remos de cada banda com que se governa””.
Conseguiremos nós hoje usar em proveito
do turismo essa mais valia que é a história e a epopeia da vivência e da faina fluvial no Douro, para
ganharmos turistas, e assim nos desenvolvermos, se desvirtuamos um dos símbolos
mais importantes – o rabelo ? Símbolo que felizmente ainda existe, e Castelo de
Paiva é disso exemplo, ainda que hoje já não navegue; não sendo no entanto por
isso que deixa de o ser.
Recordamos que por iniciativa da
ADEP, no já distante ano de 1986, foi construída (em Pedorido) de raíz, às mãos de artesãos
profissionais, o rabelo “Douro Paiva”, que depois velejou no Douro, a partir do Cais do Castelo, relembrando a
imensa actividade sócio-económica, que também a partir daí se desenvolvia,
desde longa e imemorial data, como interposto comercial que era, com a vizinha
cidade do Porto, e também, por causa do trânsito do vinho rio abaixo.
Mas também é bom recordar, como nos ensinam os estudiosos, que à imagem dos rabelos se construiram os rabões para transportar o carvão das Minas do Pejão. Igualmente à sua imagem dessa embarcação nasceram os saveiros e os valboeiros usados no pequeno tráfego comercial e pesca tradicional pelas povoações ribeirinhas e as barcas de passagem, de que Pedorido foi o último baluarte.
Mas também é bom recordar, como nos ensinam os estudiosos, que à imagem dos rabelos se construiram os rabões para transportar o carvão das Minas do Pejão. Igualmente à sua imagem dessa embarcação nasceram os saveiros e os valboeiros usados no pequeno tráfego comercial e pesca tradicional pelas povoações ribeirinhas e as barcas de passagem, de que Pedorido foi o último baluarte.
Connosco nasceu a ideia de fazer
turismo no Douro em barco rabelo,
precedendo a que se faz hoje, com outro tipo de embarcações, mas, o projecto,
muito avançado para a época, esbarrou na burocracia da administração pública. A
embarcação venceu algumas dificuldades, não todas, prestou inúmeros serviços à
região, podendo quase dizer-se que testou a navegabilidade do Douro e a
funcionalidade das eclusas das barragens, fez publicidade, passeou turistas,
estudantes, jornalistas, artistas, políticos e até participou em regatas,
formou uma escola de marinhagem, etc. Contribuiu também, porque não dizê-lo,
para que alguns dos concelhos ribeirinhos despertassem para a realidade e
responsabilidade da sua história e localização, quantos deles de costas voltadas
para o rio… atitude que não nos surpreende. É a mesma a que nos habituaram as
mais diversas instituições nos dias de
vida do nosso rabelo, dias que
terminaram, se calhar, mais cedo
do que era previsível e necessário, dados os custos necessários à sua
recorrente manutenção, contra os poucos apoios disponibilizados por quem de
direito. E se alguém tiver dúvidas que trate de inquirir porque será que em
Aveiro se deu o movimento inverso e os moliceiros passaram a ser vistos, a
fazer turismo na Ria, e a participar em regatas…
Lembrar a falta de apoios e
os problemas com a legalização da construção e da utilização, a necessidade
de adesão a um curso de formação de
marinheiros, na Régua, o recurso ao Provedor de Justiça, o projecto de parceria
com a Rota da Luz num circuito turístico distrital, abortado em troca da
construção de uma sede para a região de turismo, é enfim uma Via Sacra de
enganos e desilusões que fica para o capítulo das memórias amargas, a mostrar uma vez mais o quão longe se poderia
ter ido.
Mas valerá a pena pesar estas dificuldades para avaliar se hoje se estará a fazer tudo o que é necessário para alicerçar uma verdadeira politica de turismo que aproveite as nossas potencialidades e que tenha vida própria, que tenha alma. A paisagem existe, mas existem também tradições e monumentos, gentes e saberes, memórias e paixões que é preciso resgatar e colocar ao serviço dessa nova aposta.
Mas valerá a pena pesar estas dificuldades para avaliar se hoje se estará a fazer tudo o que é necessário para alicerçar uma verdadeira politica de turismo que aproveite as nossas potencialidades e que tenha vida própria, que tenha alma. A paisagem existe, mas existem também tradições e monumentos, gentes e saberes, memórias e paixões que é preciso resgatar e colocar ao serviço dessa nova aposta.
Águas passadas…, mas a
pergunta de hoje é: - Deveremos promover a região e o concelho à margem da
riquíssima história que foi a nossa ligação e das nossas gentes ao Rio Douro,
ao comércio, ao rabelo, às Minas do Pejão? Será curial atrair o turismo enganando ou passando ao
lado destas temáticas que nos são tão caras, ou, deveremos reunir todo esse espólio,
material e imaterial (de que também a ADEP é uma importante e única
depositária, no que respeita a espólio material) e usá-lo nessa batalha que hoje pode representar uma nova fase de
desenvolvimento para a região ?
Com novas promessas de
muitos turistas a subir o Rio impõe-se também repensar as infraestruturas de embarque e apoio nas margens, a definição e criação de circuitos capazes de atrair e satisfazer os turistas. Deverá haver uma forma de apoiar os
poucos artesãos e instituições que ainda sabem fazer bem meia dúzia de coisas valiosas (trabalhos no linho,
bordados, tecelagem, cestaria, tamancaria, miniaturas em madeira, gastronomia,
etc.) e como será avisado cuidar da paisagem bom será não esquecer que vão ser
precisos apoios para a agricultura biológica e de subsistência, pois assim
se garantirá desenvolvimento e preservação da nossa cultura e património com
verdade.
2 comentários:
Antero Leite:
Eu chamaria de «carapaus» aos barcos ditos «rabelos» que navegam a motor pelas águas do Douro em viagens turísticas.
Nem mais!...Obg
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