QUE TURISMO FLUVIAL QUEREMOS ?
O interior merecia mais atenção, isto é, deveria haver uma espécie de contingente na elaboração de roteiros, que obrigasse as empresas que exploram o Douro a incluir estes concelhos/territórios que foram prejudicados com as barragens - as mesmas que proporcionam hoje a navegabiliadde do Douro. Não temos o retorno que nos é devido, (seja na electricidade, seja no turismo), que possa compensar-nos pelo que nos foi levado: As praias, o sável, a lampreia, a natureza viva! É certo que os autarcas tem responsabilidades nessa matéria mas também os governos nada fazem no sentido de uma maior democratização e distribuição dos proveitos desta nova realidade. Há concelhos, e muitos,que ficam totamente à margem e não é por lhe faltarem valores históricos, arqueológicos, paisagisticos; veja-se o caso de Castelo de Paiva!
Não nos conforta assistir a esta forma de estar. Uma outra politica turistica/fluvial poderia ser uma alavanca no nosso desenvolvimento. E não tivesse este concelho um historial tão rico de vivencias associados ao rio Douro, aos rabelos, às pescarias, às Minas porque não, e toda a nossa civilização que a apartir daí se foi implantando ... E se falamos deste assunto é porque acreditamos e modéstia à parte é porque temos estatuto para isso. Já demos o nosso contributo É necessário no entanto mudar politicas. Entre outros aspectos que defendemos a temática do rabelo e tudo o que com ele se relaciona não deve ser esquecido. As barcas de passagem dos mineiros. Os rabões da esquadra negra são adaptações nossas dos rabelos - porque só aqui se fizarem!Mas também infraestruturas - como cais de acostagem: em Pedorido e no Castelo, que aliciem e permitam acordos fáceis com empresas que sobem o rio com turistas.
Batalhamos neste tema há quase trinta anos e ainda não nos convenceram que estejamos errados!..
Barco
Rabelo
O Turismo no Douro e em
Paiva (ou a arte de vender gato por lebre)
Actualmente e com bastante
frequência - a suficiente para nos causar repulsa - vemos e ouvimos promover e
divulgar viagens e passeios no Douro em barco
rabelo. Chamar barco rabelo àquela
embarcação, que vimos passar, é pura e simplesmente mentira e ao fazê-lo, as
agências, as câmaras municipais e outros interessados estão a prestar um mau
serviço ao turismo.
(...)
Um rabelo tem um tipicismo próprio,
tem vela, remos e cordame, tem uma apegada e o remo maior, na ré, é a chamada espadela.
O barco rabelo para Armando Matos é “
a mais típica e sugestiva embarcação dos rios nacionais” e o Arquitecto
Filgueiras transcreve na sua obra “Barco
rabelo – um retrato de família” o que ele considera a descrição tipológica
mais evidente “Barcaça familiar do Douro que tem por leme um remo grande a que
chamam espadela, e que tem mais dois remos de cada banda com que se governa”.
Será legitimo usarmos hoje em proveito
do turismo essa mais valia que é a história e a epopeia da vivência e da faina fluvial no Douro, para
ganharmos turistas, e assim nos desenvolvermos, mas desvirtuando um dos símbolos
mais importantes – o rabelo ? Símbolo que felizmente ainda existe, e Castelo de
Paiva é disso exemplo, ainda que hoje já não navegue; não deixando de o ser por isso. Achamos que não!
Recordamos que por iniciativa da
ADEP, no já distante ano de 1986, foi construída de raíz, às mãos de artesãos
profissionais, o rabelo “Douro Paiva”, que depois velejou no Douro, a partir do Cais do Castelo, relembrando a
imensa actividade sócio-económica, que também a partir daí se desenvolvia,
desde longa e imemorial data, como interposto comercial que era com a vizinha
cidade do Porto e, também, por causa do trânsito do vinho, rio abaixo.
Connosco nasceu a ideia de fazer
turismo no Douro em barco rabelo, precedendo
a que se faz hoje, com outro tipo de embarcações, mas - o projecto - muito
avançado para a época, esbarrou na burocracia da administração pública. A
embarcação venceu algumas dificuldades, não todas, prestou inúmeros serviços à
região, podendo quase dizer-se que testou a navegabilidade do Douro e a
funcionalidade das eclusas das barragens, fez publicidade, passeou turistas,
estudantes, jornalistas, artistas, políticos e até participou em regatas,
formou uma escola de marinhagem, etc. Contribuiu também, porque não dizê-lo,
para que alguns dos concelhos ribeirinhos despertassem para a realidade e
responsabilidade da sua história e localização, quantos deles de costas
voltadas para o rio… atitude que não nos surpreende e que inflizmente ainda se nota hoje... É a mesma a que nos
habituaram as mais diversas instituições
nos dias de vida do nosso rabelo, dias que
terminaram, se calhar, mais cedo
do que era previsível e necessário, dados os custos necessários à sua
recorrente manutenção, contra os poucos apoios disponibilizados por quem de
direito. E se alguém tiver dúvidas que trate de inquirir porque será que em
Aveiro se deu o movimento inverso e os moliceiros passaram a ser vistos, a
fazer turismo na Ria e a participar em regatas…
Lembrar a falta de apoios e
os problemas com a legalização da construção e da utilização, a necessidade
de adesão a um curso de formação de
marinheiros, na Régua, o recurso ao Provedor de Justiça, o projecto de parceria
com a Rota da Luz num circuito turístico distrital, abortado à pressa - em plena campanha eleitoral - em troca da construção
de uma sede para a região de turismo, é enfim uma Via Sacra de enganos e
desilusões que fica para o capítulo das memórias amargas, a mostrar uma vez mais o quão longe se poderia
ter ido.
Águas passadas…, mas a
pergunta de hoje é: - Deveremos promover a região e o concelho à margem da
riquíssima história que foi a nossa ligação e das nossas gentes ao Rio Douro,
ao comércio, ao rabelo? Será curial atrair o turismo enganando ou passando ao
lado desta temática que nos é tão cara, ou, deveremos reunir todo esse espólio,
material e imaterial (de que também a ADEP é uma importante e única
depositária) e usá-lo nessa batalha que hoje pode representar uma nova fase de
desenvolvimento para a região ?
Com novas promessas de
muitos turistas a subir o Rio impõe-se também repensar a forma de apoiar os
poucos artesãos e instituições que ainda sabem fazer bem meia dúzia de coisas valiosas (trabalhos no linho,
bordados, tecelagem, cestaria, tamancaria, miniaturas em madeira, fósseis, gastronomia,
etc.) e como será avisado cuidar da paisagem bom será não esquecer que vão ser
precisos apoios para a agricultura biológica e de subsistência, pois só assim
se garantirá no futuro próximo a preservação da nossa cultura, paisagem, história e património com
verdade.
Foto 1 - Calendário de parede da ADEP do ano 2015
Foto 2 - “Douro Paiva” aquando da descida do
Douro do Senhor Presidente da República Dr. Mário Soares, em 1988 (acompanhado
de várias personalidades como António
Guterres, Pinto Balsemão, etc.).
" recorte de artigo publicado na imprensa regional, textos e foto de Martinho Rocha"