terça-feira, 3 de dezembro de 2013

As Casas da Roda, de Nojões e de Sobrado de Paiva.

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foto obtida na pesquisa Google


O que era a roda  dos expostos (ou enjeitados) ? Fisicamente era um cilindro giratório com uma cavidade que era instalado nas portarias dos conventos, permitia o anonimato na comunicação de bens e evitava também  o contacto e avistamento de quem utilizava o serviço. Este processo facilitava o abandono  e começou a usar-se para depositar as crianças enjeitadas ou fruto de ligações “inconvenientes”. Noutros casos a pobreza justificava a entrega, que era feita em alguns casos com bilhetes de recomendação e promessa de futura procura. Algumas estatísticas registam um aumento de abandono proporcional ao aumento do preço do trigo.
Pelo muito uso que teve a nível nacional acabou por ser oficializada com a designação de Roda dos expostos ou enjeitados por Pina Manique em 1783, com o objetivo oficial de pôr fim aos infanticídios e também o comércio ilegal de crianças a que à época eram sujeitas muitas crianças na raia onde os espanhóis as vinham buscar. Há quem veja nesta medida um estratagema da nova moral da Contra Reforma que assim combatia e atrasava o reconhecimento dos filhos bastardos como preconizava a Reforma protestante. O desenvolvimento de novas organizações sociais de assistência e a ideia de que aquela proporcionava a dissolução dos “bons costumes” e ainda a elevada mortalidade e ineficácia educacional contribuíu para a sua extinção em 1867.
Até quando temos roda em Nojões e quando se transfere para Sobrado?  Onde estavam situadas? Quem participou na caminhada do Foral de 2015 pôde admirar a casa de Nojões onde essa instituição esteve alojada. Em Sobrado terá sido no Outeiro, portanto na casa ao cimo da Rua 5 de Outubro (antigo convento segundo Adriano Strecht Vasconcelos) .
Apenas temos elementos sobre as crianças recebidas na Roda de Sobrado a  partir de 1 de Julho de 1827 (há 186 anos). Considerando que em  1832  o edifício da Cadeia de Sobrado já servia de Casa de Comarca e Paço Foral de Audiências, então é mesmo provável que a inauguração do edifício da Cadeia de Sobrado e transferência para  Sobrado de todas estas Instituições (Tribunal, Cadeia, Roda, serviços da Fazenda) terá ocorrido nessa data, 1827.
E a partir daí recolheram-se em 12 anos, de 1827 a 1845 (faltam-nos elementos nos anos de 1834 a 1839), na Roda de Sobrado mais de 3 centenas de crianças o que corresponde a uma média de 26 crianças por ano. É um número surpreendente (ainda que os registados sejam oriundos de todo o concelho), tendo em conta que entre os anos de 1833 a 1859 a paróquia de Sobrado batiza e regista apenas uma média de 24 crianças (nascidas e criadas pelos pais).
Se quisermos comparar o movimento de crianças encaminhadas para a roda com os nascidos e criados em casa dos pais, noutras freguesias, então os elementos que possuímos registam; entrados na Roda de 1840 a 1844 (e oriundos de todo o concelho): 123. Registados nas paróquias e criados com os pais: na de Sobrado: 132; na da Raiva 200; na de Bairros: 113; na de Sardoura: 183.

Curiosidades sobre o enquadramento social da época:  Qual era o tecido social, que profissões tinham os pais dos nascidos em Sobrado no ano de 1865? Dos 27 nascimentos é certo que não há desempregados, mas todos de uma maneira geral tem um profissão direta ou indiretamente  ligada à terra – no conjunto dos pais dos 27 nascidos temos, mais de metade,  ligados ao sector primário, 32 profissionais entre lavradores, caseiros de terra e criados de servir ), a que acresce num outro parâmetro  os proprietários das terras 4 e outros tantos alegadamente incógnitos e os restantes 15 afectos ao sector secundário – transformação de produtos (pequena industria e artesanato)  e são elas: fiadeiras, tecedeiras, costureiras, soqueiro e alfaiate, pedreiro e almocreve. (não esqueçamos que o linho e a lá estão na base do vestuário usado à época.












escreveu Martinho Rocha

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