sexta-feira, 2 de setembro de 2016

LOCOMOTIVA CHOUPELLO DAS EX-MINAS DO PEJÃO



- fotos do colaborador Jorge Paiva - 

LOCOMOTIVA CHOUPELLO DAS EX-MINAS DO PEJÃO
UMA RELÍQUIA DO SÉC. XX
NO MUSEU NACIONAL FERROVIÁRIO NO ENTRONCAMENTO
Transcrição da ficha desta locomotiva no museu do Entroncamento
N.º de inventário: FMNF/ENT/000038 – construída em 1914
Localização: Nave 14 – linha 6
“Locomotiva construída especificamente para a via industrial com 30 cavalos de potência. Foi construída pela casa alemã Orenstein & koppel e deverá ter tido utilização militar durante a 1.ª Guerra pelo exército alemão, dado que lhe foi incorporado na chaminé, um sistema para reter as faúlhas para que esta pudesse operar em campo de batalha e em zonas sensíveis onde existia armamento. Foi comprada em segunda mão pela Empresa Carbonífera do Douro em 1917. Foi usada como locomotiva de manobras carregando vagões com carvão para canais de descarga.
Com a desactivação da linha férrea mineira em meados da década de 70 (séc. XX), esta locomotiva ficou alocada à Direcção Geral de Minas, sendo posteriormente transferida para as oficinas da CP em Campanhã, juntamente com outras máquinas tendo em vista a sua reparação e preservação”.
Nota:
Depois da transcrição desta ficha e enquanto observador e conhecedor do local onde esta locomotiva operou, não quero deixar de referir e apontar, aqui, alguns pontos de vista que reputo de importantes e esclarecedores:
1-    Esta locomotiva foi construída na Alemanha em 1914. A primeira Guerra, ou guerra mundial, ocorreu entre 28 de Julho de 1914 e 11 de Novembro de 1918. A aquisição pela ECD só se deu em 1917. A minha opinião, com estes factos, é a de que deve estar correcta a tese que aponta para a sua utilização em operações militares na Alemanha, antes da vinda para Portugal;
2-    A aquisição em 1917 pela ECD, teria como finalidade a sua utilização no transporte de carvão nas primeiras minas, isto é no Choupelo, Monte das Cavadinhas, em substituição do transporte do carvão que então se fazia em carros de bois;
3-    O local de exploração mineira, um dos pólos de maior exploração nos anos de 1917-1921, não seria alheio à escolha para o seu nome de baptismo: Choupello, como mais tarde se veio a verificar com nomes de outros locais para nomes de outras locomotivas;
4-    Recordo que num artigo-entrevista do jornal “O Pejão” do Eng.Técnico Martins Aires, o mesmo dizia, a certa altura, a propósito da mina do Limoeiro, “que era a única onde entrava uma locomotiva”. Essa locomotiva, digo eu, só podia ser a Choupelo pelas seguintes razões: a primeira é a de que aquela era a mina de maior exploração na data da chegada da locomotiva; a segunda é a de que a locomotiva era de dimensões mais reduzidas do que as das máquinas adquiridas posteriormente.
Mas não entrava na galeria como possa depreender-se. Ia ao princípio da galeria, à boca da mina;
5-    Esta foi a primeira locomotiva adquirida pela ECD e a primeira a ser utilizada no Choupelo no transporte de carvão para o canal de descarga da Gardunha e mais tarde para o canal de Martelo da Arte. É provável que também tenha trabalhado na linha Ervedal-Nível 80. Se operou nessa linha, um dos condutores foi meu pai António da Silva Pereira;
6-    A aquisição desta locomotiva pela ECD, pode ter explotado a aquisição da máquina a vapor para extracção de carvão a céu aberto no Monte das Cavadinhas, no Pejão, que chegou ali pelos anos 1920/21;
7-    Antes de ser exposta no Entroncamento, esta locomotiva esteve à guarda da CP no Espaço Museológico de Estremoz.

Uma relíquia das ex-Minas do Pejão

Castelo de Paiva – ADEP,  2 de Setembro de 2016

Mário Gonçalves Pereira

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