terça-feira, 24 de outubro de 2017

FOGO DO INFERNO










O Fogo do Inferno, aquele incêndio de 15 e 16 de Outubro de 2017 que assolou grande parte do norte de Portugal, provocando uma enorme tragédia, com dez distritos a arder, também castigou severamente o parque florestal do concelho de Castelo de Paiva, e queimou algumas fábricas, destruiu habitações e anexos, onde pereceram muitos animais domésticos: porcos, galinhas, coelhos, cães e gatos, sendo que as televisões olvidaram este, novamente, martirizado concelho, metido num gueto, sem vias rápidas por onde as pessoas pudessem escapar.
Não havia na mente dos Paivenses qualquer indício de que isto viesse a acontecer, mas aconteceu. Alguns souberam do que se estava a passar já o sono ia alto. Outros tiveram que ser empurrados porta fora, à força. Outros resistiram em casa na esperança de estarem vivos no dia seguinte. Era um inferno de chamas, numa noite escura!
Foi obra do acaso? Foi por condições atmosféricas adversas? Resultou de negligência ou crime? Não, não era possível haver tantos criminosos à solta àquelas horas. Resta saber a verdadeira causa de tantos fogos e em tão grande área. Um inferno de fogo, um verdadeiro fogo do inferno! Uma causa é certa, e todos a apontam: falta de prevenção.
Muitos viram o inferno ainda em vida, como nunca o virão para além da morte!
Incrédulos, transtornados, impotentes para o combate, muitos de nós em pânico, assistiam ao lavrar das chamas por montes e vales e ao redor das nossas casas, avançando a seu bel-prazer e ao sabor dos ventos, que se faziam sentir, por vezes fortes e rápidos.
E os Bombeiros onde estavam? Coitados, quase não se viam. Alguns assistiam, certamente impotentes, ao correr das chamas; outros obedecendo a ordens, procuravam retirar pessoas para lugares mais seguros. E foi assim pelo país fora.
Sabe-se que muitas pessoas que tinham saído de casa nesse domingo dia 15 de Outubro não puderam regressar às suas habitações, impedidas pelas chamas ou pelas autoridades militares que fechavam as vias públicas; outras não puderam, a tempo, fugir de suas casas porque já estavam rodeadas de fogo; a outros, a escuridão da noite não lhes permitira ver os caminhos a seguir; e ainda outros assistiam ao arder dos seus próprios bens, de olhos abertos e lágrimas abundantes, mas insuficientes para apagar o fogo. Era o Fogo do Inferno.
E o Estado? O que faziam os representantes de todos nós?
O Estado, somos todos nós, é certo, mas estamos representados no Parlamento e no Governo que, conjuntamente com as instituições por si geridas, deve proteger os cidadãos em toda a linha.
Instituições para as quais os cidadãos e os empresários contribuem com os seus impostos, taxas, coimas, e afins. Instituições que devem precaver-se e saber como, quando e onde devem proteger os cidadãos e seus haveres dos fenómenos e catástrofes naturais, aos quais não se pode ser alheio, e que sempre existiram, sem podemos fugir deles, ou contorná-los, ao longo dos séculos.
Mas o Estado aparece sempre tarde e a más horas. Aparece quando a “procissão” destes fenómenos naturais já vai para além do adro; quando já pereceram pessoas e se destruíram, moralmente, outras vidas, e haveres.
É urgente. É preciso criar condições nacionais e locais que nos defendam destes fenómenos da Natureza: fogos, inundações, tempestades, furacões, etc, atacando-os com prevenção, tanto do Estado como dos cidadãos, e não durante ou depois dos acontecimentos. O que não se quer gastar em prevenção, por ironia do destino, acabará por ser gasta em duplo, ou em triplo, com os prejuízos resultantes de tais fenómenos e, não são só os cidadãos quem perde, o Estado acaba por perder muito mais e por muito mais tempo.
O Fogo, a água, uma catástrofe podem destruir milénios de património histórico-cultural.
É tempo de nos defendermos a tempo dos maus tempos. É tempo de chamar a atenção dos governantes para a protecção dos governados nas cidades, vilas e aldeias deste país.




Mário Gonçalves Pereira

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