segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Evidências de um dos nossos caminhos antigos a Santiago!

Diz o nosso amigo Luis de Sousa, a quem pedimos permissão para partilhar, o seu alerta, que voltou a dar o ar da sua graça o que resta da estrada romana/medieval que percorria a vertente Sul do Castro de São Domingos, na freguesia de Vila Boa de Quires, concelho de Marco de Canaveses. Este trecho pertencia ao importante eixo viário que na Época Romana ligava Emerita Augusta a Bracara Augusta e que na Baixa Idade Média constituía um dos muitos caminhos que os peregrinos tomavam para chegar a Santiago de Compostela. Nós comentamos, por reconhecer a importância dos testemunhos e da necessidade de medidas visíveis e urgentes de proteção, sob pena, daquela antiga estrada, ser destruída. Trata-se de um importante testemunho também de ligação e alternativa de atravessamento do Douro, em Castelo/Couto e Bitetos, no caminho de Santiago, vindo de Sul para Norte/Braga. Um desses trajetos foi desenhado por Al-Edrisi, geógrafo muçulmano do séc.XII. O que dizem alguns autores: "RELATOS OU TESTEMUNHOS DE PEREGRINOS E VIAGEIROS (LITERATURA ODEPÓRICA) O principal relato do itinerário, e não deixa de ser paradoxal, não é de um peregrino ou devoto do apóstolo, mas o de um geógrafo muçulmano, Abu “Abd Allah Muhammad Al-Edrisi”, que no terceiro trimestre do século XII descreve dois Caminhos para ir a Compostela desde Coimbra, o marítimo e o terrestre: “Reanudando ahora nuestra relação primera, direnos que el camino de Coimbra a Santiago por tierra es éste: de Coimbra a la aldea de Avo hay uma jornada; de esta aldea a la de Outeiro, otra jornada; otra, desde allí al principio de la tierra de Portugal, que el camino atraviesa por espacio de um día hasta llegar a Villabona del Quer, jumto al Duero o rio de Zamora, cuyo paso se efectúa en barcas dispuestas para el tránsito. De dicha aldea al rio Minho, en el castillo de Braga, hay 60 millas, equivalentes a dos jornadas y otras dos desde este castillo a la ciudad de Tui, pequenha, bonita y abumdada”. Faltaria um dia mais de Tui a Compostela, pelo que no total somaria oito longos dias, é de se supor que a cavalo, que de certo modo equivalem às programadas no livro V do Códice Calixtino. Como se pode verificar, para qualquer possível reconstrução rodoviária a partir do texto, é muito moderado ao citar povoações; apenas as aldeias de Avô, identificada ao longo do rio Alva, afluente do Mondego; São Miguel do Outeiro, começando 10 km a oeste de Viseu; Vila Boa de Quires (Marco de Canaveses), a leste de Penafiel e não longe da confluência do Tâmega com o Douro; e no final a confusão de colocar Braga no rio Minho. A marcação aproximada do itinerário parece melhor encaixar com a via romana que se dirigia para Braga, a poente do Caminho medieval, com desvio final não para Chaves, mas pela via de Braga a Contrasta (desde 1262 Valença) e Tui. Neste âmbito rodoviário adquire maior importância Marco de Canaveses, que na Idade Média fica fora dos principais trajetos de peregrinos descritos, mas que no século XII deve ter tido um importante papel no trânsito entre Trás-os-Montes, a Beira Alta e Douro, uma vez que para além da ponte romana reparada na época medieval a mando de D. Mafalda, a própria rainha doou o seu palácio de Canavezes para hospital de peregrinos. 97 96 J. GARCÍA MERCADAL, Viajes de extranjeros…, op. cit., t. I, pp. 186-197; P. SÁNCHEZ LÓPEZ-ORCAZBERRO, ‘Los Caminos Portugueses a Santiago em la obra del geógrafo árabe Al-Idrisi’, Actas do III Encontro Sobre os Caminhos Portugueses a Santiago, Valença do Minho, 21, 22 e 23 de Abril de 1995, Valença do Minho, 1997, pp. 51-59. " Também Martinho Rocha defende e apresentou no Congresso "Caminhos de Santiago e de peregrinação" no Marco de Canaveses em maio de 2021 que " Há demasiadas provas de passagem e vivência humana neste território da antiga Anégia, desde remotas Eras. Divide-a ao meio - o Douro -, rio caudaloso nas estações frias e de fácil travessia nos estios, oferecendo assim diferentes formas de atravessamento. Os seus muitos afluentes: Paiva, Sardoura e Arda, na margem esquerda; e Tâmega e Mau, na margem direita, confluem próximos, tornando mais cobiçados os vales férteis da outra margem e próximos os destinos mais longínquos. Os caminhos com marcas antiquíssimas nas calçadas, ladeiam as necrópoles e as mamoas.A história carrega, desde a idade média, as cruzes, os topónimos, os oragos e vieiras nas igrejas e a organização das paróquias. O caminho para Santiago, na região, pode dizer-se que se divisa na névoa estelar de incidências várias e que, para o atravessamento do Douro, encontra aqui, desde sempre, alternativas de outras travessias: a nado, a vau, de barca."

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