terça-feira, 30 de abril de 2024

150.º aniversário do conterrâneo " Capitão Ferramenta " - António da Costa Bernardes!

Arrojado balonista com ascensões em Portugal e no Brasil, suscitou explosões de entusiasmo que arrastavam multidões eufóricas, bandas de música, notícias de júbilo nas primeiras páginas dos jornais e artistas a compôr hinos, aclamações e paixões a provocar tricas nas disputas politicas; porém eventos e vida efémeros nos atos, com vida curta e paga com a morte precoce, ascendendo e planando, volvido século e meio do seu nascimento, uma aura de notoriedade! É paivense e nasceu, a 30 de abril de 1874, em Vila Verde na distinta família Costa Bernardes, tem nome de Rua em Vila Nova de Gaia e vai em breve integrar a Galeria dos Notáveis na ADEP - Castelo de Paiva.
Sua fama chega aos folhetins antes mesmo dele colocar seus pés em “Terra Brasilis” . A primeira nota encontrada em seu nome é de 27/04/1905, publicada na edição 96 do jornal alagoano “Evolucionista: Jornal da Tarde”. Por ser uma nota mais extensa e com uma definição para leitura mediana, transcrevemos* a notícia na íntegra: A ascensão do Nacional “Realisou-se no dia 2 do corrente em Lisboa, a ascensão do balão Nacional, conduzindo o seu proprietario e constructor, o aeronauta portuense Antonio da Costa Bernardes, Ferramenta. O aero tato, cuidadosamente confeccionado, recebe 700 metros cubicos de gaz e é de bella apparencia. Começou o seu enchimento ao meio dia e pouco a pouco foi criando barriga e, às 4 horas, já se balouçava magestosamente sobre a ilhota, no meio Jardim Zoologico, , emquanto a charanga de marinheiros executava um trecho de musica popular. O aeronauta, em bella disposição de espirito em com a sua farda de galões dourados, bonnet azul, tambem debruado a ouro, e calça branca, corria de um para outro ponto, dando ordens aos homens que seguravam a barquinha e as cordas do novo balão que em breve iria, pela primeira vez, cortar os ares. Milhares de pessoas se achavam nas cadeiras e outros logares reservados em volta do lago e em outros pontos do jardim, apreciando os preparativos para ascensão, admirando-se muitas dellas do sangue frio do Ferramenta, que parecia tomar como um divertimento o que denota a maior audacia. Vários amigos do aeronauta, tanto de Lisboa como do Porto, e varios representantes da imprensa encontram-se tambem na ilhota,assim como alguns photographos, entre os quaes o da Illustração Portugueza, que prepara a sua machina para colher um cliché do momento sensacional. A partida Depois de desligado o balão do tubo nutritivo, notou-se que o aerostato não tinha sufficiente força ascensional, sendo, por esse motivo, ligado novamente o balão ao referido tubo, recebendo algum reforço de gaz. Urgia subir, porque já passava a hora marcada e para que a descida se effectuasse de dia. Experimentou-se novamente a subida e para esse fim metteu-se o aeronauta na barquinha e ordenou aos homens ao seu serviço alguns dos quaes já praticos das suas ascensões no Porto, fizessem girar o balão em volta da ilhota. O Nacional, porem, não subia, ou porque o gaz fosse ainda insufficiente, ou de má qualidade, e Antonio da Costa Bernardes, salta novamente para fora da barquinha e tira parte do lastro para facilitar a ascensão, que a todo custo quer realisar. O publico começa entao a interessar-se, ha mais curiosidade e admiração pelo arrojo do Ferramenta, que manda lançar o pequeno balão aviso, que segue na direcção sul. Depois, resolvendo partir com uma diminuta porção de lastro, cumprimenta o publico e os representantes da imprensa e abraça seus amigos, entre os quaes se encontra o distincto sportsman sr. Candido Fernandes, que, como é sabido, tem acompanhado varios aeronautas com reconhecida coragem e que desejava tambem subir, pela segunda vez, com o Ferramenta, para o que estava auctorisado, mas, como não o pudesse fazer pelos motivos acima referidos, acompanhou o aeronauta, com seu costumado enthusiasmo, em todos os preparativos ate ao momento da subida do aerostato. O arrojado aeronauta, cheio de confiança, agarra-se ás cordas da barquinha do seu balão, e, com um grande sorriso de satisfação a brilhar-lhe no rosto, sauda mais uma vez o publico, que o acclama com uma enthusiastica e sincera salva de palmas. Immediatamente, tirando o seu bonnet, a despedir-se de todos, até á volta de sua arrojada viagem aerea, o Ferramente grita com força: ___ Larga tudo. Eram, precisamente, 4 horas e 40 minutos da tarde. O Nacional com sua a cor de amarello pallido sobe um pouco e passa sobre o corte, onde a charanga executa um alegre passe-calle. O publico applaudia e agita os chapéus e os lenços, enquanto o Ferramenta, saltando então para dentro da barquinha, acena ainda por algum tempo bonnet e vamos pouco a pouco perdendo de vista a sua figura e o seu sorriso prazenteiro, de homem que nada receia pela sua sorte. O aeronauta lança mais lastro e o balão eleva-se lindamente, parecendo pouco depois que parara. Não se lhe nota balanço ou ligeira oscillação. O publico espalha-se pelo Jardim a vêr a bicharada, commentando ainda a ascensão, que foi de bello effeito e que deixou a melhor impressão em todos que presenciaram a subida do arrojado aeronauta. De todos os pontos altos da cidade foi vista a passagem do Nacional, estando, como de costume, muitos telhados cheios de gente ,munida de binoculos, para vêr mais de perto o Ferramenta, de quem o publico de Lisboa e Porto tem admirado a coragem. Antonio da Costa Bernardes fez ha pouco uma digressão a Madrid e tenciona em breve seguir para o Brazil, onde vae realisar uma serie de ascensões, esperando ali obter justa recompensa dos seus meritos e arrojo. A descida do balão O Nacional, que é bem construido e elegante, mas que tem menos capacidade que o Portugal o balão onde o Ferramenta fez as suas anteriores ascensões, desceu na Molta às 6 horas e 15 minutos da tarde. No local, appareceu, alem de muito povo, que ajudou nas manobras, o administrador do concelho de diversos policias para manter a ordem, no caso de ser preciso sua intervenção. O balão subiu a 544m. Ao atravessar o Tejo, por o gaz ter perdido um pouco da sua dilatação, em virtude da baixamento da temperatura, foi necessario ao Ferramenta, para melhor fazer a travessia e encontrar ponto conveniente para descer, servir-se de lastro guinderope, cortado em pequenos boccados, para poder conservar o balão numa altura de 200m, altura com que atravessou o Tejo, consumindo com esta manobra 20m de cabo. O Ferramenta viu da Moita no carro do sr. Alfredo Jose Azoiano, amavelmente lho offereceu e que o acompanhou, assim como os srs. Guilherme Nicola Covaccih, João Nicola Covaccih e João Climaco. Durante o trajeto foram erguidos muitos vivas ao Ferramenta, que está profundamente grato pela forma que foi recebido. *O texto original foi transcrito mantendo-se a grafia da época, assim como quaisquer erros tipográficos. Nós, transcrevemos de https://sampahistorica.wordpress.com/2019/04/26/a-ascensao-do-ferramenta/ Martinho Rocha

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