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2 - Palavras da Terra
Alcanje (Raiva) Algar (Sardoura) Almansor (Paraíso) Almarde (Real) Alvariça (Espiunca, Arouca) Alvarigos (São Martinho). Mais seis palavras, com exceção de Alvariça que pertence à freguesia de Espiunca (e que já pertenceu ao concelho de Paiva), todos são topónimos de Castelo de Paiva, e tem o seu ar de interessantes. Será que o prefixo AL liga todos estes locais aos nossos antepassados árabes? Na verdade, nem todas as palavras ou topónimos começados por "Al-" têm origem árabe. O "Al-" é o artigo definido árabe ("o", "a"), e é muito comum em nomes de origem árabe em Portugal e Espanha (por exemplo, Algarve, Alcácer, Almendra). Esses surgiram sobretudo durante o período da ocupação muçulmana da Península Ibérica (séculos VIII a XIII). No entanto, há casos em que "Al-" em nomes portugueses não tem origem árabe. Por exemplo: Em topónimos antigos (pré-romanos ou romanos) como Alvariça, o "Al-" pode vir de radicais indígenas ou latinos, não do árabe. Em algumas zonas do norte de Portugal (como Espiunca), a influência árabe foi muito limitada, e os topónimos tendem a ter origem proto-romana, latina ou germânica. Portanto, no caso de Alvariça, é muito mais provável que tenha uma origem não árabe, talvez relacionada com uma palavra antiga ligada a características do solo ou à agricultura (há teorias que ligam "variça" a terras cultiváveis ou tipos de vegetação). Parece então, em termos de conclusão, que o topónimo Alvariça, localizado na freguesia de Espiunca, concelho de Arouca, não possui uma origem árabe. A presença do prefixo "Al-" pode sugerir uma etimologia árabe, mas neste caso específico, a origem é anterior à ocupação muçulmana da Península Ibérica. Origem etimológica de "Alvariça": Estudos toponímicos indicam que "Alvariça" pode derivar da raiz indo-europeia *albh-, que significa "claro" ou "branco". Esta raiz está presente em várias línguas europeias e deu origem ao latim albus, com o mesmo significado. Assim, "Alvariça" pode estar relacionada com características do solo ou da paisagem, como terrenos claros ou pedregosos . Além disso, o sufixo "-iça" é comum na toponímia portuguesa e pode indicar uma área ou característica específica do terreno. Portanto, "Alvariça" poderia referir-se a um local com solo claro ou a uma área pedregosa, distinguindo-se de outras regiões próximas.Contexto histórico e arqueológico: A região de Alvariça é conhecida pela sua necrópole romana, descoberta em meados do século XX. Este sítio arqueológico revelou sepulturas construídas com lajes de xisto e estelas funerárias, datadas entre os finais do século IV e os começos do século V. O espólio encontrado inclui cerâmicas, moedas e inscrições epigráficas, indicando práticas funerárias da época romana .A presença desta necrópole sugere que Alvariça foi um local habitado durante o período romano, possivelmente por comunidades agrícolas ou mineiras. A escolha do local para a necrópole pode ter sido influenciada pelas características do terreno, como a presença de solo claro ou pedregoso, conforme indicado pela etimologia do topónimo.Conclusão: Em resumo, o topónimo "Alvariça" tem uma origem pré-romana ou romana, relacionada com características físicas do terreno, como a cor ou composição do solo. A sua associação com a necrópole romana reforça a importância histórica e arqueológica da região, destacando Alvariça como um testemunho significativo do povoamento e das práticas funerárias na região durante a Antiguidade. Desenvolvo um pouco mais a referência arqueológica de Alvariça pela sua privilegiada localização (mesma margem do Paiva)e num itinerário que nos é muito caro do baixo-Paiva e sua proximidade à foz do mesmo rio, onde entroncava com várias alternativas de atravessamento do Douro: Castelo e Escamarão - Bitetos e Cais de Fontelas. Existe uma referência arqueológica significativa à necrópole romana de Alvariça, situada na freguesia de Espiunca, concelho de Arouca. Este sítio arqueológico foi identificado na década de 1940 e alvo de escavações nos anos 1950, destacando-se pela sua importância no contexto do povoamento romano tardio na região do baixo Paiva. Características da Necrópole de Alvariça: Localização: A necrópole encontra-se numa encosta do lugar de Alvariça, aproximadamente 500 metros a noroeste da aldeia de Vila Cova, na freguesia de Espiunca. Há também relatos de achados semelhantes mais a norte, já na freguesia de Real, concelho de Castelo de Paiva Estrutura das sepulturas: Foram identificadas pelo menos quatro dezenas de sepulturas, dispostas em fiadas ordenadas e relativamente próximas entre si. Estas sepulturas eram construídas com lajes de xisto, formando caixas de planta quadrangular ou retangular, e cobertas por lajes semelhantes. Um elemento distintivo é a presença de estelas funerárias em xisto, algumas ainda implantadas verticalmente nos topos das sepulturas, o que é raro em necrópoles desta época. Espólio arqueológico: O espólio inclui cerâmicas, moedas e estelas epigrafadas. As cerâmicas, geralmente entre cinco a seis vasilhas por sepultura, estavam dispostas com as peças menores junto à estela e as maiores no restante espaço. Há também referências ao aparecimento de moedas, embora apenas uma tenha sido identificada com certeza. O espólio encontra-se disperso por várias instituições, como o Museu de Arte Sacra e Arqueologia do Seminário Maior do Porto e o Centro de Estudos D. Domingos de Pinho Brandão. Cronologia: A necrópole é datada entre os finais do século IV e os começos do século V, evidenciando práticas funerárias de incineração e possíveis influências cristãs. Importância Regional: A necrópole de Alvariça insere-se num conjunto de cemitérios romanos do baixo Paiva, que documentam a intensidade do povoamento nesta região entre os finais do Império Romano e o estabelecimento de novas estruturas político-sociais na sequência das invasões do século V. Estes sítios arqueológicos refletem uma "romanização tardia e peculiar" da região, caracterizada por comunidades agrícolas e mineiras dispersas, com práticas funerárias distintas. Referências Silva, A. M. S. P., & Ribeiro, M. C. S. (2003). A Necrópole Tardo-Romana de Alvariça (Espiunca, Arouca): Algumas notas para uma revisão crítica. Cadernos do Centro de Arqueologia de Arouca.Silva, A. M. S. P. (2011). Necrópole Romana da Boca. Já relativamente aos outros topónimos: Alcanje (Raiva), Algar (Santa Maria de Sardoura), Almansor (Paraíso), Almarde (Real) e Alvarigos (São Martinho de Sardoura) — apresentam características linguísticas que sugerem origens diversas, incluindo possíveis influências árabes, germânicas e latinas. Abaixo, exploro cada um deles com base nas informações disponíveis: Topónimos com possível origem árabe: Algar (Santa Maria de Sardoura) - O termo "Algar" provém do árabe al-ġār, que significa "caverna" ou "cova". Em Portugal, "algar" é utilizado para designar cavidades naturais verticais, comuns em regiões calcárias. Embora o topónimo "Algar" em Sardoura possa derivar dessa origem árabe, não há evidências arqueológicas específicas associadas a este local. Almansor (Paraíso) - "Almansor" é um nome de origem árabe, derivado de al-Manṣūr, que significa "o vitorioso". Este nome foi atribuído a várias localidades durante o período islâmico na Península Ibérica. Embora não haja aí registos arqueológicos específicos, a presença do topónimo sugere uma influência árabe na região.Este lugar fica situado junto ao rio Arda por onde convergem várias evidências de acesso com destino ao atravessamento do Douro. Alcanje (Raiva) - Não foram encontradas referências específicas sobre o topónimo "Alcanje" em Raiva. No entanto, a presença do prefixo "Al-" pode indicar uma origem árabe, embora também possa derivar de outras línguas ou ser uma evolução fonética de nomes anteriores. Sem evidências arqueológicas ou históricas concretas, a origem permanece incerta. Almarde (Real) - Não existem informações específicas sobre "Almarde" . Situa-se na margem esquerda do rio Sardoura, de onde recebe águas para moinhos e represas.O nome pode ter origens diversas, possivelmente relacionadas com características geográficas ou atividades económicas locais. Sem dados adicionais, é difícil determinar a sua etimologia ou significado. Alvarigos (São Martinho de Sardoura) - "Alvarigos" pode derivar do nome germânico "Álvaro", comum na Península Ibérica após as invasões germânicas. A terminação "-igos" pode indicar uma forma diminutiva ou possessiva, sugerindo "terras de Álvaro" ou "descendentes de Álvaro". Esta origem é reforçada pela presença de outros topónimos semelhantes na região. Oportunidade para referir que era terra d’El-Rei (D. Afonso III) em 1258, assim como outra em Santa Cecília(entre outras). Síntese e considerações finais: Topónimos com possível origem árabe: Algar, Almansor e Sardoura apresentam elementos linguísticos que sugerem influências árabes, embora nem sempre haja evidências arqueológicas diretas associadas. Topónimos com provável origem não árabe: Alcanje, Almarde e Alvarigos têm origens menos claras, podendo derivar de influências germânicas, latinas ou evoluções fonéticas locais. A região do Douro e do Baixo Paiva possui uma rica tapeçaria toponímica, refletindo a diversidade de povos e culturas que ali habitaram ao longo dos séculos. Para uma análise mais aprofundada, convidamos os investigadores e autores destas áreas para que nos ajudem a conhecer melhor o nosso território. Será sempre útil consultar mais fontes, como arquivos, estudos toponímicos regionais e investigações arqueológicas específicas.
compilação e escrita de Martinho Rocha
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