quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Dicionário "Palavras da terra" IV

 O uso desta foto pretende ser a nossa homenagem ao autor desta obra (e de muitas outras) que tantos topónimos resgatou do desconhecimento, com o seu trabalho e publicações. 

Ainda, iniciadas pela letra A, encontramos as seguintes palavras e interjeições:

acajo - (CO Caetano de Oliveira, na obra Esse Rio que era Douro) a pág. 48. Também encontramos acaijo que no (DC Dicionário de Cinfães) significa o mesmo que quase.

adrego - Para CO "se por adrego"  / por acaso ; casualidade – “é um adrego”. DC. Adregar Calhar; acertar casualmente; por acaso acontecer – “e se eles adregam de aparecer por lá“ – e se por acaso eles aparecem por lá. 

- "A irmõe!?...A'nha -mõe!?...,  em fala correntia  as expressões devem ser interpretadas: - "Ó mãe!?...Ó minha mãe!?"...- diz CO pág. 38.

arames (ia aos) CO pág. 36. Não consta no DC. (ir aos arames/ficar muito irritado, para o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa .

Dos Rios:

Alarda -  o Arda, o que rega, em céltico (Adriano M. Strecht Vasconcelos em Lendas e Tradições de Castelo de Paiva).

Ardena - pequeno rio que nasce na freguesia de Alvarenga, afluente do rio Paiva, na Espiunca (Portugal Antigo e Moderno de Pinho Leal).

Das coisas:

adraga CO pág. 28. Não consta no DC; apégada CO pág. 33. Não consta no DC. Nomes dados a partes/peças do barco rabelo.

Alçapreme  - diz-se da trave ou barrote a pino para escorar, alavanca grande. Não consta no DC.

Almude - medida de 25 litros (p/cereais e líquidos). 12 canadas ou 45 quartilhos.

Ara de Vila Verde - monumento dedicado a divindade pré cristã, ver neste blogue - https://adep-paiva.blogspot.com/search/label/Ara%20de%20Vila%20Verde

Atafona - Moinho manual ou movido por força animal. Nos museus da ADEP existem dois destes moinhos (de moer linho e azeitona), também conhecidos por moinhos de sangue, por recorrerem à força animal. Também assim identificado no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa https://www.blogger.com/blog/post/edit/1755759713666796834/1903541051662786083

Dos locais: 

Aldeia - palavra árabe Aldaia, que significa povoação ou lugar pequeno.

Amoras - ver neste blogue "O sobreiro que deu amoras". consultar em https://www.blogger.com/blog/post/edit/1755759713666796834/3963078055476693894

Ancia (*)   voltamos a este termo para falar da travessias Douro/estrada romana /Santiago/ caminho dos almocreves, profissão extinta. Nas crónicas de Manuel Caetano de Oliveira na sua obra "Esse rio que era Douro"- pág. 229 Azemel/ asamel - condutor de azémolas. O mesmo que almocreve. Nunca é demais lembrar essas interessantes crónicas que também falam, do local conhecido como a  passage, no rio Paiva e outros por onde passavam na ida e vinda, de Paiva a S. Pedro do Sul, os almocreves das duas margens daquele rio, percorrendo o que era no mínimo uma variante da antiga estrada imperial que ligava Emérita Augusta (Mérida) a Bracara (Braga), com passagem por Viseu e que se derivava para o Porto,  também atravessava a Gralheira e consequentemente Manhouce onde há pontes romanas (de Manhouce e da Barreira)....que durante séculos permitira a circulação de pessoas e bens entre o litoral e o interior e vice-versa, até inicio do século XX.

Personalidades:

António da Costa Paiva, Barão -  ver neste blogue em https://adep-paiva.blogspot.com/search?q=Bar%C3%A3o+Ant%C3%B3nio+da+Costa+Paiva

Das profissões e práticas:

Almocreve - ver em Ancia

Ansora - peregrina, estrangeira, em árabe ( Ilucidário de Adriano M. Strecht Vasconcelos, em Lendas e Tradições de Castelo de Paiva).

Arrais - comandante de uma embarcação. Posto mais elevado dos profissionais (marinheiros) de condução dos barcos rabelos e rabões, na região.   "Quem não puder ser arrais, seja marinheiro..." frase destacada pelo autor de "Esse Rio que era Douro" (CO) que precede a compilação das crónicas - após a introdução e In memoriam que lhe é feita por Simão Cardoso, com dedicatória "À memória de dois ilustres varões de rara estirpe: Doutor João de Araújo Correia e Arquiteto Octávio L. Filgueiras meus saudosos e inesquecíveis mestres na Arte de bem-amar o rio de mau navegar".

atestador da boberage . CO pág. 43.  tendo-se enxertado o casco espichado sob um dos arcos "enchia-se o atestador" que ao silvo, estrídulo da buzina, andava demão em mão, como de cerimónia de exaltação se tratasse, por se chegar a porto seguro, depois de arriscada viagem. A cerimónia, qual rito pagão, terminava quando fosse recolocado o arco para tapar o sinal do delito...CO pág. 29. Vasilha com que se atestam tonéis e pipas, para o Dicionário Priberam da Língua PortuguesaNão consta no DC.

Azoncar (também se diz "Azuncar, azongar (CO pág.64) ou azungar pedras)" - Atirar pedras com força para irem longe.

Da gíria, na arte da pesca, registamos: quando com otimismo: "A água (ou auga) anda peixeira: nem "ludra", nem "deslerada" " pág. 34 CO, ou com desânimo -  ainda a pág. 34: "tirar/levar água sem caneco" e "fartinhos de cribar auga".


Expressão de que se desconhece o verdadeiro significado: asseijo CO pág. 42. Não consta no DC. 


Adei CO pág. 62. Interjeição usada para solicitar que algo seja mais bem esclarecido, segundo o Dicionário Porto Editora.



Da gíria dos trabalhos, dos contratos e das necessidaes básicas:

Arriar
  /  arrear baixar( levantar, o calhau / do trabalho)  Arriar 1. Fazer descer; 2. Baixar; 3. Despegar; terminar (do trabalho – hora de saída); 4. Defecar – “arriar o calhau”.DC

Assoleia  (auxílio), "para uma acarreja de lenha" CO pág. 52. Não consta no DC.

Aterdoadotes (de atordoado) pág. 62/3 CO.

(*) já tinhamos referido Ancia (e com enfase de lugar de passagem) - lugar da freguesia de Real. Adriano M. Strecht de Vasconcelos (Lendas e Tradições de Castelo de Paiva: 1981, pág. 29 a 37)  localiza aí, numa cruz de caminhos o local onde D. Paio Soeiro de Paiva mata a mulher que lhe foi desleal. Segundo a tradição oral recolhida naquela obra o lento sofrimento e a agonia da morte terão dado o nome de Ancia ao local.

Recordamos o nosso estatuto editorial, desta rubrica: 


Estamos a reunir palavras e expressões do povo neste dicionário a que vamos chamar “Palavras da Terra”. Pretende-se um resgate afetivo e curioso das palavras que brotaram do chão onde pisamos — expressões antigas, regionalismos, topónimos singulares e vocábulos que carregam memórias, história, sotaques e modos de viver. Aqui colhem-se nomes de lugares e falares que não se leem nos manuais, mas se ouvem nas esquinas, nas feiras, nas conversas com os mais velhos e também nas bibliotecas. Um arquivo vivo da língua enraizada, onde cada palavra conta uma história do lugar de onde veio." Não estão no dicionário, mas ouvimos... às vezes podem estar nos livros antigos...
Não as localizaremos todas, pelo que fica aqui um convite à sua participação. Ajude-nos!



escreve Martinho Rocha


domingo, 19 de outubro de 2025

Edifício da Cadeia, e do que sobre ele se diz! https://www.facebook.com/photo/?fbid=1145536587364943&set=a.571004511484823

Interessante documentário, que pode ainda receber algumas notas no que respeita à história e ocupação do edifício, que é conhecida e instruiu o processo de classificação desencadeado pela ADEP-Castelo de Paiva. Trabalhos que corresponderão ao primeiro movimento cívico que reclamou outra utilidade para o mesmo (criação de um espaço museológico para a arqueologia, salas de exposição temporária e auditório), começando precisamente pela intervenção junto do Procurador da Comarca no sentido de transferir o cárcere aí existente ainda na década de oitenta.

Locomotiva Pejão. Vamos visitá-la?

A Locomotiva Pedorido já voltou. 

https://www.facebook.com/?locale=pt_BR 

https://www.youtube.com/watch?v=VWEE5UG9b5w

A Locomotiva Pejão é um dos símbolos mais emblemáticos da história das Minas do Pejão, situadas no concelho de Castelo de Paiva. Construída em Inglaterra, por volta dos anos 1910, esta locomotiva a vapor terá sido inicialmente utilizada em operações logísticas durante a Primeira Guerra Mundial, antes de ser adquirida para o transporte do carvão extraído nas Minas do Pejão.

Ao longo de décadas, desempenhou um papel fundamental no escoamento do carvão desde o complexo mineiro até à linha do Douro, contribuindo para o desenvolvimento industrial e energético da região e do país. Tornou-se, assim, um símbolo do esforço mineiro e do património ferroviário português, representando a ligação entre o trabalho humano e a força do progresso tecnológico.

A locomotiva foi preservada como peça de valor histórico e técnico, encontrando-se atualmente exposta no Museu Nacional Ferroviário do Entroncamento, onde mantém viva a memória das Minas do Pejão e do seu importante papel na história industrial de Portugal.

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Este ano, mais cedo. Já aconteceu a 26.ª edição da Feira do Século XIX

Agradecemos a todos os que tornaram possível a realização da 26.ª edição da Feira do Século XIX. 

Aos participantes, ao Município, aos voluntários e diretores da ADEP se reconhece o apoio, o empenho, a generosidade, a boa vontade e alegria, que proporcionaram a moldura humana e o colorido que pela 26.ª acorreu ao edificado e evento no Parque das Tílias, à Frutuária, nos dias 4 e 5 do corrente. Algumas das imagens colhidas são de profissionais creditados pela organização e podem ser vistas em adep-paiva.blogspot.com



terça-feira, 7 de outubro de 2025

Os bailes à moda antiga e as rusgas !

Sábado à noite e domingo à tarde foi a oportunidade para um pé de dança. Apresentaram-se no palco da Feira respetivamente a Orquestra Tradicional de Nespereira e Os Finfas de Nespereira.

No Sábado à noite as rusgas, que se iniciaram no ano passado, contaram com a presença do Grupo da ACUP (Associação dos Combatentes), Tuna da Universidade Sénior e Grupo dos Mineiros do Pejão. Terminou o encontro com um lanche e magusto tradicional no Parque das Tílias.























Cozer o pão, na Feira do Século XIX

E a Feira não poderia fazer-se sem que o visitante tivesse a oportunidade de ver fazer, cozer e apreciar a nossa broa de milho.

Isabel Duarte, "não deixa os seus créditos por mãos alheias" e proporciona aos visitantes a arte de fazer o pão,  bem presente  na memória dos paivenses.

https://www.facebook.com/watch?v=1077175491289469

Atrações da Feira / A arte de trabalhar o ferro!

A arte de ferreiro e a mestria de António Magalhães, colocam a feira do século num patamar impar!

Centenas de visitantes tem tido a oportunidade de conhecer algumas das tarefas graças à generosidade e jovialidade de António Magalhães, que é conhecido por Ferreiro da Cepa e se tem disponibilizado para participar na Feira do Século XIX da ADEP.

https://www.facebook.com/reel/2081795885959507?locale=pt_BR

Mais atrações, na Feira do Século XIX

E a participação a quem podemos atribuir o prémio revelação cabe com inteira justiça ao Grupo de Concertinas Som - Douro

https://www.facebook.com/reel/2081795885959507?locale=pt_BR

domingo, 5 de outubro de 2025

Feira do Século Castelo de Paiva

 E hoje domingo a animação vai contar, entre outros com o Grupo das Concertinas do Museu Regional de Cucujães, bem liderado pelo nosso amigo Senhor Mendes!



sábado, 4 de outubro de 2025

A Feira do Século - Atrações das nossas Artes!

 


O cavalete que permitia substituir a serragem mecânica, embora exigindo força braçal e "homens grandes"!

A nossa primeira nota de apresentação:

Armação para serrar tábuas na floresta

Descrição breve


Estrutura de madeira, em forma de cavalete ou moldura, utilizada como suporte para o trabalho dos serradores. Permitia fixar os troncos e facilitar o corte longitudinal com serras manuais, transformando a madeira em tábuas diretamente no local do abate das árvores. Reconstituição executada por membros da ADEP

Nota etnográfica
A armação de serrar evidencia a importância das atividades ligadas ao aproveitamento da floresta, fonte de recursos essenciais para a construção, a agricultura e a vida doméstica. O trabalho dos serradores, realizado em equipa e marcado por grande esforço físico, dependia desta estrutura simples mas eficaz, que convertia a matéria bruta em material útil. Para além da sua função prática, simboliza o saber técnico transmitido entre gerações, bem como a organização comunitária em torno da exploração sustentável da madeira. Este utensílio recorda ainda a interdependência entre homem e natureza, em territórios onde a floresta era motor de subsistência e identidade.

Curiosidades sobre a peça exposta:

A mudança dos "pontais", era tarefa que carecia de alguma força e agilidade, que dois homens pouco experientes poderiam não conseguir realizar. Ficou-nos o relato de António Cardoso de Vasconcelos, de certo dia a caminho da feira de Nojões, no lugar do Secóvo - Vila Verde, o Major António Luís Moreira (que foi comandante da hoste miguelista de Paiva), homem de estatura avantajada e dotado de muita força, socorreu dois franzinos serradores, que segundo ele lidavam com uma varita e não a conseguiam mexer, tendo ele com uma mão empurrado o toro e com a outra mudado o "pontal", despedindo-se e sentenciando, perante o pasmo daqueles, "...agora podeis continuar a serrar..."

ADEP 2025






Martinho Rocha


  

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Atrações da Feira do Século

 Além das artes e tradições também os utensílios e artefactos das profissões merecem proteção e divulgação. Todos são aspetos do património cultural, valiosos, que não se produzem mais e que são capazes de gerar atração e transmitir valores civilizacionais.

Chegou hoje à Frutuária - Parque das Tílias - o cilindro que lhe pertence e que foi resgatado a um montão de pedras e silvas onde se encontrava oculto e esquecido há largos anos.

Sobre ele elaboramos uma primeira nota informativa que o apresentará aos visitantes mais curiosos da  Feira do século. Mas há mais!..




Cilindro de pedra

Descrição breve
Grande bloco cilíndrico de pedra, com eixo que permitia ser puxado por animais de tração (bois ou mulas). Era utilizado na compactação e alisamento das estradas de macadame — vias feitas de camadas de pedra britada e saibro — garantindo maior firmeza e durabilidade ao piso. Terá sido usado, no Parque das Tílias e na grande rede de estradas construídas, no século XIX, por ação do Conde de Castelo de Paiva, Martinho Pinto de Miranda Montenegro.

Nota etnográfica:
Este objeto ilustra a forma como as comunidades rurais participaram ativamente na construção e manutenção das infraestruturas viárias antes da mecanização. O cilindro de pedra é testemunho de um tempo em que o trabalho coletivo, muitas vezes organizado em regime de entreajuda ou por incumbência municipal, assegurava a transitabilidade das estradas, essenciais para o comércio, a circulação de pessoas e a ligação entre aldeias. A sua materialidade robusta reflete a engenhosidade prática, mas também a permanência de métodos tradicionais que marcaram a paisagem e a vida quotidiana.

ADEP 2025














Martinho Rocha


quinta-feira, 2 de outubro de 2025