Apresentação feita por Mário Gonçalves Pereira na cerimónia de lançamento
Santo António de Lisboa, um livro para a história
O documento que hoje apresentamos ao público em geral não
é uma obra científica, não é um romance, nem tão pouco uma imaginária novela.
É, todavia, um retrato de um tempo já passado e longínquo,
um encontro com as raízes de Santo António de Lisboa em terra de Paiva, num
entroncamento histórico de um santo com uma prodigiosa vida de herói
evangélico.
O facto de eu ter vindo ao mundo no emblemático território
que viu nascer os pais de Santo António e enquanto membro da ADEP- Associação
de Estudo e Defesa do Património Histórico-Cultural de Castelo de Paiva,
associação que de facto estuda e defende o património histórico, tornou-se
imperioso dar o meu contributo pessoal na divulgação dos elementos históricos existentes,
que vão escapando à memória de alguns locais, e que são certamente
desconhecidos da maioria deles e perpetuá-los, através desta Associação, antes
que esta realidade se esfume no tempo, já que são elementos intrinsecamente
ligados à história de Castelo de Paiva, enquanto berço dos pais de Santo
António.
E como disse Marco Aurélio: “se uma tarefa te parece
difícil, não penses imediatamente que é impossível”. De facto a tarefa foi
difícil, mas possível.
Também Santo António dissera: “quem não puder fazer
grandes coisas faça, ao menos, o que estiver na medida das suas forças”.
Procurei seguir o seu conselho. E quando recebi o apoio
incondicional da ADEP a esta minha ideia,, ala que se faz tarde,
lancei-me ao caminho na peugada do Santo.
Com a edição deste documento a que foi dado o título Santo António de Lisboa
Encontro Nas Origens Castelo de Paiva, pretende-se, assim, dar a conhecer o
sentimento generalizado dos naturais de Castelo de Paiva que, honrados pela
figura de Santo António, cuja auréola de santo é reconhecida a nível mundial,
procuram manter viva, no seu seio e no dos seus vindouros, a efeméride do
nascimento, em Terra de Paiva dos progenitores desse santo, e dá-la a conhecer
ao mundo, com base na descrição genealógica dos Bulhões de Santa Cruz das
Serradas, existente na Casa da Boavista, dos ex-condes de Castelo de Paiva, e
que nesta obra se procurou traduzir com igual rigor e o mesmo valor histórico
que tal documento representa.
Este livro não foi concebido só
de palavras, as ilustrações que contém, para além de lhe dar mais vida e
beleza, são também, só por si, uma forma de comunicar, miscigenadas com os
textos conexos.
Honrar os pais através do filho Santo António é uma
tradição que vai perdurando ao longo dos séculos e que encontra eco no coração
de todos os paivenses, apoiados, não só pelas variadíssimas obras escritas
sobre tão importante figura da igreja católica, mas também pelas pedras vivas
que são as referências ao património existente e identificado, por exemplo,
pelo “Marmoiral da Boavista”, “Pia dos Mouros” e, bem assim, pelos edifícios
nos locais de Vegide, Serradas, Gondim e Casa da Boavista, em Castelo de Paiva,
considerados memórias que não se apagam e que serviram de berço aos pais do
Santo e, posteriormente, a outros seus descendentes Bulhões.
“Os paivenses não querem abandonar, por ténue e
muito frágil que seja, o único fio que os prende à sua certeza histórica: os
pais de Santo António foram naturais de Castelo de Paiva”.
As minhas digressões ocasionais
através de muitos países de quatro continentes deste planeta-terra,
contribuíram substancialmente para o enriquecimento deste trabalho, já que,
dentro da larguíssima área geográfica percorrida, encontrei imensos testemunhos
de devoção e homenagem a Santo António, alguns deles recolhidos em imagens
fotográficas e inseridos nesta obra, como se poderá verificar.
Numa dessas minhas digressões, por
terras ainda mais longínquas do que aquela donde viera o Papa Francisco, em
viagem marítima procedente de Ushuaia, Tierra del Fuego, a cidade mais
setentrional do planeta, na Argentina,
passando pelo cabo de Hornos, extremo sul do continente americano, com
destino a Punta Arenas, no Chile, e entrando no estreito de Magalhães
percorrendo parte dele em sentido inverso ao percurso que fizera Fernão de
Magalhães, ao enquadrar as águas do canal com tudo o que à sua volta existia,
fiz uma incursão momentânea às entranhas da minha já velha memória para
reavivar a inigualável façanha que foi, ao tempo, a viagem de circum-navegação,
iniciada por Magalhães ao serviço de Carlos V, de Espanha (em 1519), com uma
esquadra de cinco navios e uma tripulação de 234 homens, com cerca de 40
portugueses, entre os quais seu primo co-irmão Álvaro de Mesquita, que
comandava o navio com o nome “San Antonio”.
Naquelas paragens da Patagónia, ao recordar o nome da nau San António, e encontrando-me nesse
caminho mágico da viagem que fizera Fernão de Magalhães, perguntei, a mim
mesmo, se alguma vez aquela família com origens na minha terra, Castelo de
Paiva, pais de Santo António, imaginaria ou lhes passaria pela cabeça que o nome de seu filho “viajaria” até
lugares tão longínquos, não só naquela específica viagem de Magalhães, mas em
tudo quanto era Descobrimentos, ao tempo.
Esse momento gerou na minha pessoa uma tal força de
vontade e coragem que, aliadas a outra tanta curiosidade, me envolveram desde
logo numa luta intensa e constante na busca, na pesquisa, na tentativa de
conhecer melhor a história, a ligação dos ancestrais Bulhões, pais de Santo António, aos Bulhões seus descendentes de
Castelo de Paiva, e passá-la a escrito desde que encontrasse fios condutores
passíveis de alguma credibilidade.
Assim comecei a trabalhar.
Muitos dos textos e imagens que são a base deste documento
resultaram de uma pesquisa de conteúdos efectuada principalmente através da
Internet, e de viagens nacionais e internacionais que, subtilmente foram
chamando a minha atenção para os inúmeros lugares de devoção, dedicados a este
santo, testemunhos da sua popularidade espalhada pelo mundo inteiro e cujas
origens se enraizaram em Castelo de Paiva.
Seguindo o lema: ”quando estiveres em viagem, pára para
leres indicações sobre a história dos sítios por onde passas”; eu confesso:
sempre parei, mas para tentar encontrar referências a Santo António.
Foram contributos bastantes para o arranque desta obra,
não só a passagem pelo estreito de
Magalhães, como já referido, mas também a leitura do pequeno livro de poemetos
de Adriano Mendes Strecht de Vasconcelos, editado pela primeira vez em 1938, (
ano em que eu nasci) denominado “Lendas e Tradições de Castelo de Paiva”, no
qual se faz menção à Casa Torre de Vegide que diz ter sido de Tereza Taveira,
Mãe de Santo António ( a 200m do local onde vivo, precisamente a rua Tereza
Taveira) e também ao Paço de Gondim, nas proximidades da entrada principal da
Quinta da Çarrada ou Serrada, propriedade que pertencera a Martim (ou Martinho)
de Bulhões, pai de Santo António e, também, pelo facto de as gentes da Terra de
Paiva, nomeadamente das freguesias de Sobrado e de Fornos, terem grande
devoção, quer pelos progenitores, quer pelo próprio Santo António.
A continuidade desta história terão V.Ex.as oportunidade
de a encontrar no livro ora lançado que espero lhes agrade de todo. E descansem
aqueles, mais novos, que pensam que o livro se esgotará e não terão
oportunidade para desfolhar as belas páginas que o compõem. Garanto-vos que
mesmo depois de eu passar a fronteira dos meus aniversários, eu irei, mas a
obra fica e será reeditada as vezes necessárias.
Este é um livro apropriado para uma prenda de aniversário,
para oferta a um amigo, para prenda de Natal, para sugerir como “lembrança” de
Castelo de Paiva, mas é sobretudo uma peça histórica para Castelo de Paiva.
Um outro aspecto que tem a ver com a apresentação deste
documento neste ano , é que ele foi concebido para ser lançado, precisamente
neste ano de 2013 em que Castelo de Paiva comemora os quinhentos anos da
atribuição do Foral à terra de Paiva por D. Manuel I, então rei de Portugal,
era o ano de 1513, evento que, planeado com a devida antecedência, nas
actividades da ADEP agora se consagra, e que eu faço questão de juntar um
poemeto da minha autoria oportunamente escrito, relativo ao Foral:
À
procura de mim
(origens da
terra onde nasci)
Corri aldeias, andei, fui por aí além
E vim
À procura de mim
E origens de mais alguém,
Mas encontrei-me perdido,
Despido
De ideias e da memória,
Sem glória,
Enfim!
Voltei por um outro caminho
Mais estreito e mais maninho
E que descobri ?
Um mundo novo,
Criação de um povo
Gentio, que reconheci
Em mim!
Gentes da minha terra,
Da beira rio e da serra,
Do tempo de outrora, de meus avós,
Dos filhos e dos netos, como eu,
Povo que somos todos nós
Tal qual Deus o deu!
Gentes da terra de Paiva
Que me fizeram o berço na Raiva!
Perto do Arda,
em Oliveira,
Com cais nas Fontaínhas,
Ponto de encontro e
de passagem,
Onde não se pagava portagem!
Gentes que me embalaram,
Que me criaram,
Que me deram o ser e saber
Que me deram força e poder
Poder para reconhecer
Que todo o trabalho vale a pena,
Quando se vai às origens procurar e explorar,
Recolher, proteger e registar
Elementos que se deseja fiquem a prevalecer,
Na terra de Paiva, por vontade plena,
Nesta comunidade que, em Vilar, de Real,
Em Maio de 1517 recebeu, de El-Rei D. Manuel I, o
foral
Concedido no dia primeiro de Dezembro de 1513
Perfazendo cinco séculos em 2013 !
Não quero deixar-vos partir sem antes, pedir a benção de
Santo António, para crentes e não crentes, e agradecer a amabilidade e
disponibilidade a quantos se deslocarem a este encantador e agradabilíssimo
Parque Biológico, e dizer-vos que para mim foi uma grande honra tê-los aqui
como amigos e atentos ouvintes.
Na vida, nunca esqueço que aquilo que mais aprecio, ao
nível emocional, é sentir que os meus trabalhos são apreciados.
Sinto-me distinguido pela vossa presença e as únicas
palavras que tenho para vos dirigir neste momento são, simplesmente: muito
obrigado.
Mário Gonçalves Pereira
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