Percebe-se a aceita-se que o catolicismo tenha ido às
práticas pagãs, aproveitar os locais, as tradições, até a generosidade das
ofertas e sacrifícios, até aí destinados às divindades, para dar visibilidade
aos seus símbolos e santos e reencaminhar os donativos para os necessitados.
Remontará ao tempo de D. Dinis a comemoração do Espirito
Santo que segundo a história assenta numa promessa feita pela sua mulher a
Rainha Santa Isabel (de Portugal e Aragão) , pelo ano de 1320, apelando ao
espirito divino para que lhe proporcionasse
a paz entre o seu marido Rei, e filho D.
Afonso (legítimo e futuro herdeiro do trono), sendo que para isso se oferecia para ir pelo
país pedir donativos para os pobres.
Estamos como é bom de ver perante uma festividade
aculturada, muito antiga e que tendo
lugar em maio coincide com as primeiras colheitas, cinquenta dias após a
Páscoa. Na origem era festejada com banquetes coletivos com distribuição de esmolas e
comida aos pobres “ o Bodo aos Pobres” como ficou para a história. A
tradição terá então ganhado novas raízes e as festividades que ainda hoje estão
vivas e muito participadas (veja-se no Brasil, nos Açores e destes para os
Estados Unidos e por cá) são marcadas pela
esperança na chegada de uma nova era para o mundo dos homens, com igualdade,
prosperidade e abundância para todos.
Nós por cá temos tudo para defender também em Vila Verde a
existência de uma tradição bem antiga, que ultrapassa, como se pode deprender,
o sec. XIV. No local onde se realiza e
nas imediações da atual Capela do Espirito Santo foi encontrada, pela ADEP, há
alguns anos uma ara votiva, dedicada à Divindade pagã Lares – isto é uma
espécie de altar que servia para - em locais de passagem como é o caso – as
pessoas poderem oferecer flores, comida e outros à Divindade. Este testemunho
arqueológico dá-nos uma referência temporal muito importante, estamos numa era
anterior ao cristianismo (sec. I).
Vila Verde aparece
referenciado nas Inquirições de 1258, isto é, no reinado de D. Afonso III, já
pagava foros. Ficamos assim a saber que estes campos e vales, terra agrícola
por excelência, banhada pelo Sardoura, que desde tempos imemoriais proporcionou
levadas e força motriz para os moinhos, e até algum peixe, é também local de
passagem - com encruzilhada de caminhos
muito antigos de que chegaram aos nossos dias trilhos com sulcos
impressionantes - , tinha de longa data uma vivencia com certeza muito bem
estruturada e alicerçada social e culturalmente.
A festa dos tremoços como ainda hoje é conhecida é uma das
festividades de cariz popular mais antiga; de que temos resquícios da
generosidade e crença da população que, ao oferecer tremoços aos visitantes, acredita
que os gestos de despendimento material alegram hoje a Divindade do Espirito Santo
e podem ainda favorecer um bom ano agrícola para beneficio de todos…
Martinho Rocha
Martinho Rocha
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