domingo, 30 de outubro de 2016

PAIVA: TERRA DE RIOS, BARCAS DE PASSAGEM E DE PONTES









MEMÓRIAS DE CASTELO DE PAIVA
TERRA DE RIOS, BARCAS DE PASSAGEM E DE PONTES

Outrora, até finais do século XIX, as terras de Paiva, ou Paiva de Ribadouro, podiam designar-se por território de rios e barcas de passagem, dado que na falta de pontes, as travessias dos rios faziam-se através de barcas: as barcas de passagem. E as pontes tardavam em chegar a estas terras mais interiores do país.
Foi necessário chegar aos finais do século XIX, mais propriamente à década de 80, para se dar início à construção de pontes sobre os rios que fazem parte do território do concelho de Castelo de Paiva: rios Arda, Sardoura, Paiva e Douro. E as pontes, mas também as estradas, construíram-se quase todas em simultâneo. Graças à acção voluntariosa do 1.º Conde de Castelo de Paiva.
Deve ter sido um período áureo da construção de vias terrestres no concelho.
Sem pontes, os habitantes de Castelo de Paiva viviam praticamente isolados das terras circundantes. Esse isolamento terminou com a construção das seguintes pontes intermunicipais: Pontes do Arda e de Pedorido sobre o rio Arda; pontes da Bateira e de Caninhas sobre o rio Paiva e ponte de Entre-os-Rios sobre o rio Douro, ponte esta projectada por Hintze Ribeiro, destruída pela queda de pilares, em 4 de Março de 2001, que ficou conhecida pela ”tragédia de Entre-os-Rios”, e que foi posteriormente substituída por uma nova estrutura. Estas pontes são todas de ligação aos concelhos vizinhos e três delas confinam com os distritos fronteiriços de Porto e Viseu.
Também sobre o rio Sardoura se construíram as pontes municipais de Vale de Fens e a denominada ponte do Concelho.
Dada a importância destas infra-estruturas rodoviárias para o concelho de Castelo de Paiva e avivando um pouco a história destas pontes, não resisto a transcrever, a propósito, parte do texto do Livro Castelo de Paiva Terras ao Léu, de Guido de Monterey:
“” A área do concelho de Castelo de Paiva está cortada, em todas as direcções, por magníficas estradas”. (Do jornal a Gazeta de Paiva de 1 de Outubro de 1884).
Mas neste final do século XIX, não são apenas boas as estradas, mas de incomensurável valor as pontes que atravessam os rios Douro, Paiva, Arda e Sardoura, tornando  o concelho de Castelo de Paiva não só comunicável entre si, mas também com o exterior.
O mesmo não podem dizer alguns concelhos limítrofes, cuja única estrada continua a ser o rio Douro.
“Os infelizes, por desajudados, concelhos de Baião, Marco de Canaveses, Cinfães e Resende, importantíssimos pela sua fertilidade de solo e por uma população nada inferior a oitenta mil almas, vivem ali definhando no mais cruel isolamento, sem comunicação nem convivência entre eles ”. (Do jornal Gazeta de Penafiel de 5 de Janeiro de 1870).
A ponte de Entre-os-Rios, com a colocação da primeira pedra a 29 de Fevereiro de 1884, teve inauguração a 1 de Dezembro de 1887. Aliás, uma inauguração deveras castiça.
“Foi ontem inaugurada a ponte de Entre-os-Rios, sobre o rio Douro, pela primeira viagem seguida da mala-posta de Cete a Paiva.
Ao meio-dia e um quarto chegou ao local da ponte o carro da mala-posta empavezado de bandeiras e tirado por cinco cavalos enfeitados de murta e de artemísias. A ponte achava-se toda adornada com bandeiras, galhardetes e troféus.
Retiradas as vedações, o carro seguiu por entre foguetes que estrugiam nos ares”. (Do jornal O Comércio do Porto de 2 de Dezembro de 1887).
Não teve a inauguração desta ponte nem autoridades, nem música, nem discursos. Nem sequer houve uma palavra de gratidão para o seu impulsionador, o Conde de Castelo de Paiva.
“Lêmos com prazer, em diversos jornais desta cidade (Porto), notícia circunstanciada do acabamento da ponte de Entre-os-Rios.
Estranhamos que não se nomeasse o nome do Exmo. Sr. Martinho Pinto de Miranda Montenegro, o homem que mais concorreu para se levar a cabo aquela ponte, a individualidade a quem o concelho de Paiva tem o sacratíssimo dever de memoriar, porque, sem ele, Paiva continuaria a ser o burgo pobre, sem vida, sem comércio, sem progresso”. (Do jornal O Primeiro de Janeiro de 12 de Junho de 1886 - deve ser 1888).
A ponte da Bateira ficou concluída em 1893, a de Pedorido em 1894 e a ponte de Caninhas em 1897.
Servido o concelho por múltiplas estradas, uma delas, a estrada real nº 40, entre Ovar e Entre-os-Rios, encontrava-se paralizada em 1895.
Em 1906 faz-se a ligação da Estrada Real 40 à Distrital 61””.

ADEP - Castelo de Paiva, 27 de Outubro de 2016
Mário Gonçalves Pereira




E hoje que por coincidência faz 130 anos que foi inaugurado o primeiro tabuleiro (superior) da ponte D. Luís (antecipando-se a Entre-os-Rios apenas 1 ano...) é oportuno dar o nosso contributo/opinião sobre a solução para novas travessias pedonais do Douro, entre Porto e Gaia. Parece-nos que a melhor será a que construir uma nova ponte assente nos pilares de cantaria da antiga ponte pêncil D. Maria II


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