sábado, 26 de abril de 2025

2 - Palavras da Terra

Alcanje (Raiva) Algar (Sardoura) Almansor (Paraíso) Almarde (Real) Alvariça (Espiunca, Arouca) Alvarigos (São Martinho). Mais seis palavras, com exceção de Alvariça que pertence à freguesia de Espiunca (e que já pertenceu ao concelho de Paiva), todos são topónimos de Castelo de Paiva, e tem o seu ar de interessantes. Será que o prefixo AL liga todos estes locais aos nossos antepassados árabes? Na verdade, nem todas as palavras ou topónimos começados por "Al-" têm origem árabe. O "Al-" é o artigo definido árabe ("o", "a"), e é muito comum em nomes de origem árabe em Portugal e Espanha (por exemplo, Algarve, Alcácer, Almendra). Esses surgiram sobretudo durante o período da ocupação muçulmana da Península Ibérica (séculos VIII a XIII). No entanto, há casos em que "Al-" em nomes portugueses não tem origem árabe. Por exemplo: Em topónimos antigos (pré-romanos ou romanos) como Alvariça, o "Al-" pode vir de radicais indígenas ou latinos, não do árabe. Em algumas zonas do norte de Portugal (como Espiunca), a influência árabe foi muito limitada, e os topónimos tendem a ter origem proto-romana, latina ou germânica. Portanto, no caso de Alvariça, é muito mais provável que tenha uma origem não árabe, talvez relacionada com uma palavra antiga ligada a características do solo ou à agricultura (há teorias que ligam "variça" a terras cultiváveis ou tipos de vegetação). Parece então, em termos de conclusão, que o topónimo Alvariça, localizado na freguesia de Espiunca, concelho de Arouca, não possui uma origem árabe. A presença do prefixo "Al-" pode sugerir uma etimologia árabe, mas neste caso específico, a origem é anterior à ocupação muçulmana da Península Ibérica. Origem etimológica de "Alvariça": Estudos toponímicos indicam que "Alvariça" pode derivar da raiz indo-europeia *albh-, que significa "claro" ou "branco". Esta raiz está presente em várias línguas europeias e deu origem ao latim albus, com o mesmo significado. Assim, "Alvariça" pode estar relacionada com características do solo ou da paisagem, como terrenos claros ou pedregosos . Além disso, o sufixo "-iça" é comum na toponímia portuguesa e pode indicar uma área ou característica específica do terreno. Portanto, "Alvariça" poderia referir-se a um local com solo claro ou a uma área pedregosa, distinguindo-se de outras regiões próximas.​Contexto histórico e arqueológico: A região de Alvariça é conhecida pela sua necrópole romana, descoberta em meados do século XX. Este sítio arqueológico revelou sepulturas construídas com lajes de xisto e estelas funerárias, datadas entre os finais do século IV e os começos do século V. O espólio encontrado inclui cerâmicas, moedas e inscrições epigráficas, indicando práticas funerárias da época romana .​A presença desta necrópole sugere que Alvariça foi um local habitado durante o período romano, possivelmente por comunidades agrícolas ou mineiras. A escolha do local para a necrópole pode ter sido influenciada pelas características do terreno, como a presença de solo claro ou pedregoso, conforme indicado pela etimologia do topónimo.​Conclusão: Em resumo, o topónimo "Alvariça" tem uma origem pré-romana ou romana, relacionada com características físicas do terreno, como a cor ou composição do solo. A sua associação com a necrópole romana reforça a importância histórica e arqueológica da região, destacando Alvariça como um testemunho significativo do povoamento e das práticas funerárias na região durante a Antiguidade. Desenvolvo um pouco mais a referência arqueológica de Alvariça pela sua privilegiada localização (mesma margem do Paiva)e num itinerário que nos é muito caro do baixo-Paiva e sua proximidade à foz do mesmo rio, onde entroncava com várias alternativas de atravessamento do Douro: Castelo e Escamarão - Bitetos e Cais de Fontelas. Existe uma referência arqueológica significativa à necrópole romana de Alvariça, situada na freguesia de Espiunca, concelho de Arouca. Este sítio arqueológico foi identificado na década de 1940 e alvo de escavações nos anos 1950, destacando-se pela sua importância no contexto do povoamento romano tardio na região do baixo Paiva. Características da Necrópole de Alvariça: Localização: A necrópole encontra-se numa encosta do lugar de Alvariça, aproximadamente 500 metros a noroeste da aldeia de Vila Cova, na freguesia de Espiunca. Há também relatos de achados semelhantes mais a norte, já na freguesia de Real, concelho de Castelo de Paiva Estrutura das sepulturas: Foram identificadas pelo menos quatro dezenas de sepulturas, dispostas em fiadas ordenadas e relativamente próximas entre si. Estas sepulturas eram construídas com lajes de xisto, formando caixas de planta quadrangular ou retangular, e cobertas por lajes semelhantes. Um elemento distintivo é a presença de estelas funerárias em xisto, algumas ainda implantadas verticalmente nos topos das sepulturas, o que é raro em necrópoles desta época. Espólio arqueológico: O espólio inclui cerâmicas, moedas e estelas epigrafadas. As cerâmicas, geralmente entre cinco a seis vasilhas por sepultura, estavam dispostas com as peças menores junto à estela e as maiores no restante espaço. Há também referências ao aparecimento de moedas, embora apenas uma tenha sido identificada com certeza. O espólio encontra-se disperso por várias instituições, como o Museu de Arte Sacra e Arqueologia do Seminário Maior do Porto e o Centro de Estudos D. Domingos de Pinho Brandão. Cronologia: A necrópole é datada entre os finais do século IV e os começos do século V, evidenciando práticas funerárias de incineração e possíveis influências cristãs. Importância Regional: A necrópole de Alvariça insere-se num conjunto de cemitérios romanos do baixo Paiva, que documentam a intensidade do povoamento nesta região entre os finais do Império Romano e o estabelecimento de novas estruturas político-sociais na sequência das invasões do século V. Estes sítios arqueológicos refletem uma "romanização tardia e peculiar" da região, caracterizada por comunidades agrícolas e mineiras dispersas, com práticas funerárias distintas. Referências Silva, A. M. S. P., & Ribeiro, M. C. S. (2003). A Necrópole Tardo-Romana de Alvariça (Espiunca, Arouca): Algumas notas para uma revisão crítica. Cadernos do Centro de Arqueologia de Arouca.​Silva, A. M. S. P. (2011). Necrópole Romana da Boca. Já relativamente aos outros topónimos: Alcanje (Raiva), Algar (Santa Maria de Sardoura), Almansor (Paraíso), Almarde (Real) e Alvarigos (São Martinho de Sardoura) — apresentam características linguísticas que sugerem origens diversas, incluindo possíveis influências árabes, germânicas e latinas. Abaixo, exploro cada um deles com base nas informações disponíveis: Topónimos com possível origem árabe: Algar (Santa Maria de Sardoura) - O termo "Algar" provém do árabe al-ġār, que significa "caverna" ou "cova". Em Portugal, "algar" é utilizado para designar cavidades naturais verticais, comuns em regiões calcárias. Embora o topónimo "Algar" em Sardoura possa derivar dessa origem árabe, não há evidências arqueológicas específicas associadas a este local. Almansor (Paraíso) - "Almansor" é um nome de origem árabe, derivado de al-Manṣūr, que significa "o vitorioso". Este nome foi atribuído a várias localidades durante o período islâmico na Península Ibérica. Embora não haja aí registos arqueológicos específicos, a presença do topónimo sugere uma influência árabe na região.Este lugar fica situado junto ao rio Arda por onde convergem várias evidências de acesso com destino ao atravessamento do Douro. Alcanje (Raiva) - Não foram encontradas referências específicas sobre o topónimo "Alcanje" em Raiva. No entanto, a presença do prefixo "Al-" pode indicar uma origem árabe, embora também possa derivar de outras línguas ou ser uma evolução fonética de nomes anteriores. Sem evidências arqueológicas ou históricas concretas, a origem permanece incerta. Almarde (Real) - Não existem informações específicas sobre "Almarde" . Situa-se na margem esquerda do rio Sardoura, de onde recebe águas para moinhos e represas.O nome pode ter origens diversas, possivelmente relacionadas com características geográficas ou atividades económicas locais. Sem dados adicionais, é difícil determinar a sua etimologia ou significado. Alvarigos (São Martinho de Sardoura) - "Alvarigos" pode derivar do nome germânico "Álvaro", comum na Península Ibérica após as invasões germânicas. A terminação "-igos" pode indicar uma forma diminutiva ou possessiva, sugerindo "terras de Álvaro" ou "descendentes de Álvaro". Esta origem é reforçada pela presença de outros topónimos semelhantes na região. Oportunidade para referir que era terra d’El-Rei (D. Afonso III) em 1258, assim como outra em Santa Cecília(entre outras). Síntese e considerações finais: Topónimos com possível origem árabe: Algar, Almansor e Sardoura apresentam elementos linguísticos que sugerem influências árabes, embora nem sempre haja evidências arqueológicas diretas associadas. Topónimos com provável origem não árabe: Alcanje, Almarde e Alvarigos têm origens menos claras, podendo derivar de influências germânicas, latinas ou evoluções fonéticas locais. A região do Douro e do Baixo Paiva possui uma rica tapeçaria toponímica, refletindo a diversidade de povos e culturas que ali habitaram ao longo dos séculos. Para uma análise mais aprofundada, convidamos os investigadores e autores destas áreas para que nos ajudem a conhecer melhor o nosso território. Será sempre útil consultar mais fontes, como arquivos, estudos toponímicos regionais e investigações arqueológicas específicas. 

compilação e escrita de Martinho Rocha

sexta-feira, 25 de abril de 2025

25 de abril

Grândola, vila morena Grândola, vila morena Terra da fraternidade O povo é quem mais ordena Dentro de ti, ó cidade Dentro de ti, ó cidade O povo é quem mais ordena Terra da fraternidade Grândola, vila morena Em cada esquina um amigo Em cada rosto igualdade Grândola, vila morena Terra da fraternidade Terra da fraternidade Grândola, vila morena Em cada rosto igualdade O povo é quem mais ordena À sombra duma azinheira Que já não sabia a idade Jurei ter por companheira Grândola a tua vontade. Zeca Afonso, 1971 ______transcrevemos de "25 de abril 44 poemas 44 anos"

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Dicionário "Palavras da Terra"

“Palavras da Terra” Vamos reunir palavras e expressões do povo neste dicionário a que vamos chamar “Palavras da Terra”. Pretende-se um resgate afetivo e curioso das palavras que brotaram do chão onde pisamos — expressões antigas, regionalismos, topónimos singulares e vocábulos que carregam memórias, sotaques e modos de viver. Aqui colhem-se nomes de lugares e falares que não se leem nos manuais, mas se ouvem nas esquinas, nas feiras, nas conversas com os mais velhos. Um arquivo vivo da língua enraizada, onde cada palavra conta uma história do lugar de onde veio. 
Abornar. 
Nesta expressão:“abornar uma pouca d’auga”, deveria dizer-se “amornar uma pouca d’auga”? Vem da infância do autor destas linhas a memória deste falar, que ouvia ao seu avô, mas também à população mais velha nesse tempo. Se se trata de temperar um pouco de água, de a aquecer um pouco, então, sem rede, isto é, sem recorrer à doutas opiniões dos eruditos, com a humildade de um cavador que recolhe da terra que cava tudo o que ela que lhe dá da sementeira, atrevo-me a dizer que a forma correta será amornar - bela palavra esta - , e não fosse a distância que sabemos longa do frio ao amor! Mas, atenção que há dicionários a reconhecer a proximidade da palavra amornar com embornar... Fica este primeiro contributo para o prometido dicionário “das palavras interessantes” que pode juntar outros contributos e opiniões de quem queira e possa. 
Fica feito o convite!
escreveu Martinho Rocha
O uso desta foto pretende ser a nossa homenagem ao autor desta obra (e de muitas outras) que tantos topónimos resgatou do desconhecimento, com o seu trabalho e publicações. 

segunda-feira, 21 de abril de 2025

A ADEP presta homenagem justa e sentida ao legado do Papa Francisco!

Com a partida do Papa Francisco, o mundo despede-se de uma voz profética que, com simplicidade e firmeza, soube unir fé, compaixão e coragem. A sua liderança não se limitou aos altares — tocou os corações com apelos à justiça social, à fraternidade universal e à urgência de cuidarmos da nossa “casa comum”. Francisco lembrou-nos que espiritualidade e responsabilidade caminham juntas, e que só uma mudança profunda de mentalidade poderá salvar o planeta e restaurar a dignidade de todos os seres humanos. O seu legado é um convite perene à esperança ativa e ao amor sem fronteiras.

sexta-feira, 11 de abril de 2025

quarta-feira, 9 de abril de 2025

domingo, 6 de abril de 2025

O plano de Ação (da CETS) para as Montanhas Mágicas, de 2025 a 2029, já está traçado

Montanhas Mágicas Aconteceu no passado dia 4 no Mosteiro de Arouca o 𝐅𝐎́𝐑𝐔𝐌 𝐏𝐄𝐑𝐌𝐀𝐍𝐄𝐍𝐓𝐄 𝐃𝐄 𝐓𝐔𝐑𝐈𝐒𝐌𝐎 𝐒𝐔𝐒𝐓𝐄𝐍𝐓𝐀́𝐕𝐄𝐋 𝐃𝐀𝐒 𝐌𝐎𝐍𝐓𝐀𝐍𝐇𝐀𝐒 𝐌𝐀́𝐆𝐈𝐂𝐀𝐒 O Fórum teve como principal objetivo apresentar a 𝐄𝐬𝐭𝐫𝐚𝐭𝐞́𝐠𝐢𝐚 𝐞 𝐏𝐚𝐧𝐨 𝐝𝐞 𝐀𝐜̧𝐚̃𝐨 𝐝𝐚 𝐂𝐚𝐫𝐭𝐚 𝐄𝐮𝐫𝐨𝐩𝐞𝐢𝐚 𝐝𝐞 𝐓𝐮𝐫𝐢𝐬𝐦𝐨 𝐒𝐮𝐬𝐭𝐞𝐧𝐭𝐚́𝐯𝐞𝐥 𝐝𝐚𝐬 𝐌𝐨𝐧𝐭𝐚𝐧𝐡𝐚𝐬 𝐌𝐚́𝐠𝐢𝐜𝐚𝐬 𝐩𝐚𝐫𝐚 𝐨 𝐩𝐞𝐫𝐢́𝐨𝐝𝐨 𝟐𝟎𝟐𝟓-𝟐𝟎𝟐𝟗, no âmbito da Reavaliação deste galardão atribuído ao território, desde 2013. Pretendeu-se, no decorrer da sessão, explorar alguns temas e ações, priorizados no Plano de Ação e proceder à Assinatura Pública dos Princípios da CETS Montanhas Mágicas, por parte das entidades, promotoras das ações. A candidatura de Reavaliação da CETS Montanhas Mágicas resulta de um processo participativo, que incluiu diversos encontros e trabalhos, liderado pela ADRIMAG, que contou com a colaboração de um número alargado de agentes locais públicos e privados, ligados ao setor turístico, recreativo e cultural (entre eles também a ADEP). O fórum culminou com o 𝐋𝐚𝐧𝐜̧𝐚𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐨 𝐋𝐢𝐯𝐫𝐨 𝐝𝐞 𝐅𝐨𝐭𝐨𝐠𝐫𝐚𝐟𝐢𝐚, 𝐌𝐨𝐧𝐭𝐚𝐧𝐡𝐚𝐬 𝐌𝐚́𝐠𝐢𝐜𝐚𝐬, o qual resulta de um uma ação concretizada pela ADRIMAG, no âmbito do anterior Plano de Ação da CETS. #MontanhasMágicas #FórumCETS #CartaEuropeiadeTurismoSustentável #CETS #ECST #TurismoSustentável #EUROPARC #TheEuroparcFederation

Assembleia Geral

Para dia 19 está convocada a assembleia geral de associados destinada a aprovar as contas do exercício anterior (2024) e o relatório de actividades do mesmo. Uma oportunidade para todos os associados conhecerem as iniciativas da associação e de manifestarem a sua disponibilidade com tempo e ideias para atividades futuras. Seja ADEPto!

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Moinhos abertos!

Se não conhece visite! Numa parceria com a Rede Portuguesa de Moinhos, que vem acontecendo há 19 anos, também este ano as portas dos nossos moinhos no Parque das Tílias, vão estar abertas.
É já no próximo fim de semana: Os moinhos voltam a estar de portas abertas GRATUITAMENTE em todo o País pelo 19º Ano Consecutivo! Em resultado deste amplo movimento de cidadania, de mobilização e voluntariado estarão à disposição de todos: Uma imagem com texto, captura de ecrã, Tipo de letra, logótipo Os conteúdos gerados por IA poderão estar incorretos. >> 331 moinhos (119 isolados + 214 inseridos em núcleos moageiros) >> Todos os 18 Distritos do Continente >> 2 ilhas da Região Autónoma dos Açores >> 66 municípios DESTAQUE Ativação da APP “Moinhos de Portugal”, da Rede Portuguesa de Moinhos, aberta a todos os membros da RPM, de acesso universal e gratuito. Uma plataforma colaborativa, uma agenda de eventos e um centro de recursos para todos os ativistas que atuam em prol dos moinhos da nossa identidade! Divulgue esta iniciativa para que mais portugueses desfrutem dos Moinhos de Portugal, eles têm um valor cultural inestimável. Contribua para a sua salvaguarda! Consulte a brochura em anexo com o programa completo e todas as informações. Descarregue a App, subscreva GRATUITAMENTE e descubra a brochura, a agenda de eventos e todos os recursos disponíveis. (ATENÇÃO: A APP encontra-se em lançamento pelo que os eventos dos moinhos abertos estão reunidos na brochura que lá se encontra e serão atualizados em breve no calendário de eventos pelo secretariado da RPM) Visite www.moinhosdeportugal.org

terça-feira, 1 de abril de 2025

Seja nosso ADEPto !

Agora que chegou a hora de prestar contas dos rendimentos auferidos, não tenha pressa, confira devidamente todo o procedimento e só depois submeta a declaração. Já sabe que pode aproveitar o momento para ajudar uma Instituição, sem que isso lhe traga qualquer custo. Apenas doará 1% do IRS pago. Ficamos gratos com a sua contribuição, se essa for a sua escolha, bem como a todos os que já tomaram essa decisão!Ajudar a cultura não tem custos. Seja nosso ADEPto!